Okane Ga Nai | Mangá vs. OVA

Não é nem comparável a versão anime com a do mangá. Vamos começar por aí. Nem sei porque isso é um versus.

Chegou o dia que eu falarei de Okane Ga Nai ou NO MONEY! ou お金がないっ.



De verdade, vou até pedir encarecidamente que você ignore o especial de quatro episódios lançados, se já tiver assistido ou não. Aliás, pra quem gosta de yaoi é quase impossível não ter visto em algum momento. Mas vamos aos motivos de você não se focar nos OVAS e ir ler o mangá imediatamente.
Yukiya Ayase é um gentil, bondoso e inocente estudante universitário que um dia tem sua vida virada ao avesso após seu único parente ainda vivo, seu primo Tetsuo, o trair por conta de dívidas que tinha com a máfia. Ayase foi então leiloado como escravo pelos mafiosos para quem seu primo devia. Porém, ele foi “salvo” pelo líder de uma facção inimiga, Somuku Kanou, um milionário ranzinza que paga impressionantes 1.2 milhões de ienes e o leva para casa. Ao tentar entender porque o estranho o salvou, Ayase acaba descobrindo que, aparentemente, os dois se encontraram em algum momento no passado, mas não consegue se recordar do fato. Irritado pela memória falha do garoto e ansiando encontrar um motivo para prendê-lo a si, Kanou decide cobrar de Ayase o preço que pagou por ele. Sabendo que o garoto não teria tanto dinheiro, Kanou sugeriu uma solução “perfeita” como pagamento: ele compraria o corpo de Ayase por 500.000 ienes cada vez que “ficassem juntos”.
Esse texto é ilustrado mais por links do que por imagens pois eu não quero passar uma imagem desbalanceada do mangá pois as imagens encontradas são normalmente ou muito inocentes ou muito pornográficas. Cliquem nos links.

Pra começo de história:
Romantiza estupro e a síndrome de Estocolmo, e relacionamento abusivo como um todo, sim. De novo falamos sobre isso, e esse tipo recorrente de relacionamento, o normalizar as relações de abuso é bem típico de yaois, principalmente esses mais antigos, os "clássicos". Veja bem, quando eu começar a parte com spoilers eu explico melhor, mas está na premissa da história inteira é o momento que o Kanou força as relações sexuais com o Ayase, como dito na sinopse.
O mangá mostra as coisas se tornando melhores e mais palatáveis ao longo dos anos que foram lançados. E foram mais de dez anos reformulando e evoluindo a história. E é até bom que as coisas foram se encaminhando para algo mais saudável, embora com uma lerdeza fenomenal. 
Primeiramente lançado como uma light novel, aqueles livrinhos japoneses que vem com a artes, no período entre 1999 e 2014, contabilizando quinze anos lançando a mesma história já é um feito bem notável mesmo sendo apenas 8 volumes! Depois se transformar no mangá desde 2002 e que ainda está sendo lançado, num total de -apenas- 14 coletâneas de capítulos. É muito pouca atualização em espaços de tempo muito longos! Mas que significativamente melhoram em questão das problemáticas envolvendo o traço muito puxado para o shota (classe de mangá BoysLove com personagens menores de idade, muitas vezes ainda crianças). E realmente, o traço faz com que se torne muito ambíguo mesmo que seja falada a idade do personagem (o Ayase tem 18 anos) e repetida algumas vezes, quando o tamanho dele diz outra coisa;
Existem fases no mangá em que o Ayase ganha mais espaço do que só como "a vítima", vemos toda evolução dele como pessoa, como adulto, e mesmo com um desenho que não valorize isso, não deixem aceitável a distorção e a desproporcionalidade de tamanhos entre ele e o Kanou, pelo menos o roteiro melhora a situação fazendo o mais novo ser/parecer menos indefeso. Não, minto. Indefeso ele continua a ser, mas psicologicamente falando, ele se torna mais forte.
É nesse nível.

Ruim é que mesmo os OVA's sendo em quatro, o que é mais do que o normal de lemon, ele não traz nada de bom sobre os personagens quem foram construídos nos últimos mangás. Ah, e falando em classificação:
1) ele é um yaoi - relacionamento gay entre homens. O famoso BL.
2) com lemon - quer dizer que tem cenas nsfw embora não seja explícito de verdade, não é um Sensitive Pornograph mas chega perto. Chamado também de Smut.
3) e josei - gênero destinado a mulheres jovens adultas, esse é bem específico. É um daqueles que fica bem no meio termo, nem sendo muito pesado, mas ainda assim não recomendados para menores de dezoito. Falando nisso, tenho que dizer, adoro essas classificações japonesas, eu mesma a louca das tags.
 Tem um pouco de drama, mas é mais comédia. E veja, eles até brincam com esse estilo meio doentio de yaois com umas versões da história na versão dos personagens, é a última parte, no final do quarto episódio é quase uma auto-paródia. Aliás, vários momentos você ri, e não de nervoso, é porque a animação fofínha e feiosa ao mesmo tempo que tem diversos alívios cômicos como os personagens secundários, mostrando que nem de longe é um drama adulto daqueles que te dão vontade de morrer, apesar dos temas como prostituição, escravidão sexual, chantagem, agiotagem, tortura, sequestro, etc, etc.
 A animação é fuleira. Não consigo achar uma palavra melhor do que essa para descrever. E eu até perdoo por ser relativamente antiga (é de 2007). Mas o que é o Kanou vesgão, nossa senhora.

  Dá uma olhada em uns gifs se vai ter como assistir[+18].

Agora, o mangá... ai, esse é meu xodó. 
Os problemas causados pelas desproporções de desenho estão lá, e ao contrário da animação, não são um problema. São, ao meu ver, a liberdade artística para fazer com que seja agradável aos olhos e também de passar conceitos, sensações dos próprios personagens. Ou seja, quando o traço faz o Kanou enorme em relação ao Ayase só faz com que nós percebamos o poder e controle que ele tem sobre ele, as mãos enormes trazem também a ideia de que o toque bruto, possessivo dele seja mais presente (aliás, "mãos de seme", muito visível em diversos mangás yaoi).  É muito do que o Ayase percebe e vê, mais do que natural que faz o desenho mais conexo com a história contada. A delicadeza do Ayase também não é nem um pouco humana, mas traz a visão do Kanou para com a pessoa que ele gosta, e a gentileza que ele endeusa no amado. Já tentou descrever alguém do modo que você percebe, ao invés da realidade das coisas?! Uma pintura, não uma fotografia. É assim que eu percebo.
Meu amor à Tohru Kousaka. Embora, pode ser que como o mangaká e o autor sejam homens, escrevendo para mulheres, talvez, só talvez, eles tenham imprimido uma visão meio machista aí, mas não vou pensar nisso porque vai me fazer desgostar de algo que eu gosto muito. Outra muito interessante é que o texto é bem auto consciente do quanto ele é abusivo, não tentando esconder essas controvérsias, ele aponta e escreve mesmo, que é estupro sim, que é abuso sim, quem é e o que faz. Acho isso um peso a menos na consciência.

Agora, os spoilers, para eu poder falar das minhas partes favoritas:

Logo depois das primeiras histórias que contam como o Ayase é comprado, abusado mas ainda assim sempre "salvo" pelo Kanou, vemos as dificuldades do agiota em manter um relacionamento (na cabeça dele, é um) com o estudante.
Também porque o Ayase é homofóbico (tanto quanto o Kanou), ele não tinha qualquer contato com pessoas gays antes, e vai conseguindo entender mais sobre amor e sexo entre homens depois do contato com a Someya, que é a trava lindíssima amiga de infância do Kanou, e com o pessoal que trabalha com ela num bar "okama", um lugar especializado em travestis (e que aliás, tem uma história contada em mangá separado do qual eu já fiz resenha).


 E o Kanou é ainda o pior tipo de preconceituoso, mas como ele teve mais tempo para assimilar isso de gostar de outro homem, e não foi forçado ao relacionamento como o Ayase foi, fica mais fácil pra ele, né?! Um dos capítulos mais legais que eu considero demais é um off que eles viajam numa máquina do tempo para os acontecimentos do primeiro mangá e o Kanou do presente diz pro Kanou do passado que se ele fizer o que ele fez de primeira (a primeira vez deles foi um estupro propriamente dito), ele ia se arrepender muito porque conquistar a confiança nele seria arruinada (final do 4º Volume)
E ao longo do caminho até chegar ao ponto crucial que é onde o Kanou não mais precisar prender o Ayase com a chantagem financeira passamos por diversos momentos onde o cara é bem babaca.
Vamos enumerar as barbaridades e o que ele faz pra concertá-las:
1º Vol.- Ele estupra o Ayase e toma ele como propriedade; mas depois vai lá e salva o primo do cara (aquele que o vendeu) a pedido do mesmo. 
 Diz que vai vender os pertences e o apartamento do Aya, mas depois volta atrás e mantém tudo lá.
3º e 4º Vol.- Faz de tudo para o Ayase desistir da universidade, mesmo antes das confusões com stalkers, mas ele acaba voltando a estudar, mais porque um dos colegas dele tá lá pra ficar de olho.
5ºVol.-  Não quer que ele trabalhe, e proíbe definitivamente depois de outra confusão no bar do Someya. Odeio essa parte dos capítulos, tem umas partes que me deixam mal porque o Kanou fala como se o Ayase não tivesse nenhum talento ou capacidade que não fosse pra sexo. Abusivo demais.

 - Espaço pra falar que eu estava lendo o mangá de novo e entrei em uma bad a mais de uma semana de começar esse post porque não tem como não... eu me senti culpada por gostar e shippar tanto esse casal mega errado; esse aqui ele proíbe o coitado de ir no cinema. -


 Ayase começa a conhecer mais a "família" do Somuku, e sua relação com o moleque que morre de ciúme e ódio dele. O Kanou parece nesse momento muito mais humano a partir dessas cenas. Ou quando ele fala do pai no Volume 6 onde eles vão no Tokio Wonderland (por sinal, meus capítulos favoritos, e que tem continuação especial em Isn't it misfortune?).
Depois da saga do trabalho com os okamas, o Ayase vê com menos receio o "amor" do Kanou por ele, o que vai abrindo brechas também na carapaça do Aya porque ele não via nenhuma possibilidade de um relacionamento amoroso entre eles e começa a perceber além do preconceito que ele tinha com gays anteriormente. Essa é o maior crescimento pessoal do mais novo e acho muito importante pra dar uma respiradas porque você sente que há um equilíbrio, dado que o Kanou também tem sofre mesmo ele estando em uma relação em que ele tem o poder, ele também está muito distante do que ele gostaria que fosse. Ver o Somuku perdido me dá menos culpa de gostar dessa história. E o que é mais recompensador do que ver um dominante sem saber o que fazer?!
Viamos desde a história da faculdade, em que um dos gêmeos Kuba é encarregado de ser seu segurança mas acaba a se apaixonar pelo Ayase. O Kanou viaja e o Aya tem a chance de passar mais tempo com o dito cujo. Aí passamos por uma parte muito interessante que é conhecer o futuro namorado do Someya ("I Can't Quit" no 8ºVol). Falando nisso não entendo as separações entre sidestory, episódios extras, especiais, fillers... todos aparecem com um nome diferente a cada sessão e fica difícil dizer o que é canon ou não sem a base do light novel (que eu procurei como uma louca mas só achei os primeiros em cirílico).

Vemos o desenvolver da história deles no Henshin Denikai que eu já mencionei lá encima, mas o cara é um onda, eu racho de rir com um mecânico tentando ensinar masculinidade pro Ayase, tão desprovido disso...
Outra questão não muito abordada é a feminilidade dele e como a sexualidade dele é confusa. E de uma ótica sexista E eurocentrada.
O Ayase se vê hetero, mesmo ele não tendo contato com nenhuma mulher durante o mangá (além de velhas e travestis), mas é implícito em algumas cenas que ele se vê hetero, e em outros momentos também se destaca a falta de "educação sexual" dele, já que ele vivia com a avó antes dela falecer e ele ficar sozinho. E o fato dele ser super desejado e ser um "imã" de homens tarados e estupradores, não tem como negar que se baseia no ideal de inocência que ele transmite, mais do que só o fato dele parecer feminino. Porque o Ayase é mestiço com brancos padrão europeu, e além de viver num país onde ser fofo é ser sexy, ele ainda é de um ser exótico e os olhos grandes azuis e cabelinho loiro dá a ele um status acima na pirâmide racial de inocência. Pode ser confuso, mas um dia eu explico o conceito.

Mas, resumindo, o últimos capítulos traduzidos trazem a reviravolta esperada nesses longos 10 anos de mangá. Um antigo rival da família do Kanou leva o Ayase (de novo), mas ao invés de chantagear-lo ele se oferece pra pagar a dívida do Ayase e ele poder deixar a vida de puta de luxo. Ainda há a questão do Kuba, que mesmo que no "I can't quit" chega a declarar pro Ayase, aparece ele fazendo isso de novo, e por isso eu fico na dúvida se esse extra faz parte do cânone. Todos os problemas começam a se condensar para o último plot de sequestro (repetindo mil vezes esse cliffhangger, agora no Vol.10) .

Considerações finais:

Relendo o mangá novamente e analisando tudo, é inegável que Kanou é muito mais horrível no cânone. Principalmente na Light Novel do qual é praticamente impossível de achar na internet, muito menos em inglês, porém tem pistas ao longo dos capítulos do mangá de como a história era, e como passou a ser depois de das adaptações, que tornam a história mais suave. E principalmente se você compara os capítulos enumerados com especiais, histórias à parte que trazem o Somuku mais maleável e amável com o Ayase. Até com os outros mesmo, ele é violento com todos, mesmo que nos fillers ele pareça capaz de conversar. E outra que o toque cômico dá uma quebrada muito grande no drama, e o humor negro é forte, mas as críticas ao relacionamento estão ali pra quem está prestando atenção. Como eu já disse, a evolução e as modificações do tom dos personagens vai mudando e indo pra frente, e mesmo sem descaracterizar, você consegue sentir que o autor traz uma bagagem de modificação que eu assumo ser por conta das mudanças sociais e pela evolução dos leitores de yaoi ao longo desses mil anos desde o seu começo
. Já foi o tempo que era muito mais violência sexual extrema, as pessoas querem verdadeiras histórias de amor, não mais os relacionamentos abusivos tão comuns nos mangás clássicos. Os sucessos atuais como Junjou Romantica, Sekaichii Hatsukoi e até o Super Lovers, chegam pra modificar o gênero de um modo positivo. E eu sinto que ele chegou em Okane Ga Nai. Mas a fórmula ainda é basicamente a mesma, desde ciumes doentios, relações sexuais que você fica na dúvida se o Ayase está sofrendo ou não, e os plots dos sequestros e todos os homens na face da terra quererem o menino. Mostrar a infância do Kanou também foi um recurso muito bem usado para quebrar a vilania dele, mostrar ele como uma pessoa criada num ambiente muito rude e até entranho (com a relação do pai dele com o pai do Someya) traz mais capacidade de você se conectar com alguém que normalmente seria abominável.
Um adendo: O roteiro é clichê, fala de um ponto muito recorrente que é falta de habilidade de por em palavras o que eles (os personagens) sentem, mas de um jeito diferente, pois as ações e as relações sexuais são levadas mais em conta do que esses momentos de epifania, comuns do gênero.

Arte
Sim, é muito desproporcional, corpo é 11x a cabeça
quando o normal é 7,5x;
Quanto ao traço, ele não modificou durante os anos. Tanto que ler um trabalho chamado Black Sheep do Tohru, é como ver um universo paralelo de Okane Ga Nai. Mas eu adoro a delicadeza, então mesmo com as críticas de outrem, eu agradeço por isso não ter mudado, porque seria modificar a história [como mostrado sabiamente por esses posts haha]. E ela está lá sendo fetichista e doentia, mas é o que faz a história fazer sentido no contexto dela. Se o Ayase crescesse durante os anos, modificaria um perfil já estabelecido, se o Kanou aparecesse menos desproporcional, ele ficaria muito parecido com os gêmeos Kuba... então eu aprecio que isso não tenha se modificado, mesmo que ainda pareça um shotacon (pedofilia com meninos) pra quem não conhece a história. Um ponto que muitos batem, e continua sendo porque mesmo que 18 anos no ocidente os jovens já sejam de maiores, se não me engano, no Japão ele ainda é considerado menor de idade até os 21. Então é sempre questão de gostar sabendo disso, repensar sobre o assunto e respeitar quem não gosta.
Mas... o ponto que interessa realmente: as cenas de sexo são muito lindas, mesmo as pouco detalhadas, censuradas, com aquelas apagadas em que parece que os personagens não tem pinto e parecem o Ken. A imaginação completa como se fosse um fechamento visual (ask google about it). Bem melhor do que aquelas tarjas horrorosas. E o melhor é as palavras proferidas e as feições do Ayase em especial. Não dá pra dizer se ele está chorando, suado, ou com outras coisas na cara. Mas a confusão dá espaço pra você viajar nas sensações que você imagina que ele está sentindo, e eu acho esse o diferencial mais marcante de Okane Ga Nai. Além da habilidade do Tohru de desenhar as melhores roupas ever.


Os capítulos que ainda não estão nos sites de mangá, eu já li, e são o começo do Volume 11. Dá pra ver . Mas vou deixar  pra comentar o final em outro post pois é difícil prever por quanto tempo a saga irá durar. Mas eu preciso dizer logo, estou amando a nova fase. *Ah, li agora um outro extra (Cap.45.1 no Mangago), tão fofo.* 

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