Como a representação pode mudar a ótica sobre certas minorias? | Personagens

Muito se fala sobre representatividade hoje em dia. Ela é necessária, importante para as novas gerações, as crianças crescerem se vendo em espaços antes não alcançados por seus pais, avós... Não só na realidade, no dia a dia, mas infelizmente também na ficção, nos locais que eu queria que fossem perfeitos justamente pra ter para onde fugir, onde se há muito embranquecimento porque os meios de comunicação que são na sua maioria de países (majoritariamente brancos) valorizam a cultura de sua maioria étnica, deixando os vilões sempre para as minorias. Ou como coadjuvantes em esteriótipos extremamente racistas.

Ou, em algumas exceções, em momentos como hoje, a diversidade encontrada em situações em que nós nem seres humanos negros somos.





Tessa Thompson como Valkyrie in Thor: Ragnarok. Boa sorte com o tanto de comentários falando sobre a mudança de etnia da personagem.





Star Trek, já carimbado em questão de diversidade, mas como isso ajuda a cultura negra em questão de representar seus costumes, sua vida? Aliás, morte triste que a atriz Sonequa Martin-Green passou no personagem de The Walking Dead.






 Os artistas negros mais respeitados que vejo hoje são os que interpretam raças alienígenas, ou em contexto de mistura com outros povos fora da terra. Curioso, não é?!

Mas vamos falar aqui de uma parte mais à sombra dessa discussão, que deveria estar mais aberto, independente de quantos atores, personagens negros sejam introduzidos no universo fictício: 
A inclusão social tem pontos muito, muito errados. 

São erros que evidenciam a falta de habilidade de sair da bolha. Mesmo com a notável tentativa em introduzir diversidade para o mercado internacional, os produtores de filmes e série ainda conseguem ser muito rasos, muitas vezes sem levar em consideração o contexto dessas minorias em cenários brancos cis-héteros.
Eu já levantei a questão de como eu nunca tinha visto, ou conseguido lembrar de algum casal homoafetivo negro ou intersexual mesmo nas séries mais liberais. Depois de uma pesquisa eu descobri que tem um em Teen Wolf mas eu parei de ver, então não cheguei nessa parte. Me ajudem se tiver mais algum;
Eu também já falei em outro post o quanto de desagrado que eu tive quando vi minorias étnicas como vilãs, num cenário onde uma menina branca sofria mais bullying que uma asiática lésbica/bi, com pais gays e tentando se enquadrar no normal adolescente (se você não lembra, é em 13 Reasons Why). Tipo, sério?! Mas aí todo mundo cai de amores e empatia pela menina branca privilegiada que ganhou a porra de um carro pra ir para uma festa (!). Ah, vtnc. E outra, um cara asiático e outro negro como populares despreocupados também sendo cruéis com a Hannah. Não que isso não possa acontecer, Deus queira que isso seja realidade (o lance de ter uma vida relax e tchubaruba) mas não parece realista, parece?! Não é condizente com a realidade da maioria. Mesmo em situação onde não existe espaço para compaixão, não é como se as pessoas estivessem bem pra conseguir se preocupar com a dor de um colega altamente privilegiado. Isso só prova que não tem como permanecer realista e manter branco como mocinho sofrido, serião.

Um dia desses vi Twin Peaks e uma coisa que pensei foi, argh, porque nunca fizeram um filme ou série de detetives tentando descobrir o porque de um assassinato de um asiático, ou de um latino, ou um negro?! Porque ninguém liga, né? Aí aquela pérola de Todo mundo em pânico vem a calhar nesse momento. "Milhares de negros morrendo mas uma menina branca foi achada enrolada num plástico numa madeireira."
Porque a série é chata pra caramba, a única coisa que te prende são as esquisitices e o porque ninguém numa cidade pequena daquela sabia que a adolescente loirinha problemática tinha tanta liberdade pra se envolver com tanta coisa. E porque um agente do FBI vai lá só pra investigar isso, mesmo?!
Contando pessoas negras mortas em TWD e que pessoas não deram a mínima. Você lembra de todos eles? Nem eu. Mas está tudo bem, porque a maioria não teve a vida bem explorada, apesar das mortes.

Pra contrabalancear a discussão e ver por lados mais sutis de representação de minorias distintas, embora numa versão que também pode se enquadrar com um esteriótipo de pessoas de cor que estão lá para aconselhar o personagem branca necessitada, mas vou dar um crédito por ser uma história real e com adendos, é o caso de Big Eyes do Tim Burton.
O ponto de virada e que faz ela ter uma atitude que salva o filme e a história dela em si é quando ela conhece as testemunhas de Jeová, e decide desmentir um marido pilantra e voltar a ser dona das pinturas que sempre fez.
Big Eyes (2014)
Essa mini participação na vida da Margaret Keane me fez olhar com mais compaixão para as pessoas que vêm na minha casa entregar panfletos de uma religião, que eu não faria parte nem se quisesse. Mas o fato deles terem ajudado uma pessoa, que por 2 horas conheci e entrei na vida dela, me deixei sentir o desespero dela, e esses representantes terem a ajudado a criar coragem contra o que lhe angustiava, passei a admirar um pouco essas testemunhas, que de um dia de domingo com cara de poucos amigos, vêm de porta em porta porque acham que irão mudar a vida de alguém. Bem, às vezes eles mudam. E isso é algo a ser respeitado.
Mudou o meu dia de hoje (dia do esboço do post) pelo menos para parar e escrever sobre como essa representatividade positiva pode fazer por um grupo minoritário. E o quanto que um posicionamento errado consegue afetar de maneira direta a vida de pessoas. Não queria que as pessoas fossem retratadas sempre como boazinhas, heróis nem nada disso. Só que houvesse respeito na diversidade, realidade, sentimentos, não só a ideia de representação. Quero algo que mude a visão do mundo. Quero que quebre-se esses pensamentos fechados.
Quero que aquele Capheus "feliz na pobreza e miséria" nunca tivesse existido, aquele "lutando para não ser como seus compatriotas violentos e sanguinários", que essa seja uma coisa extinta das vistas... quero mais visões diferentes do que é e o que poderia ser o continente africano. Quero mais visões diferenciadas do que é islamismo, não só de terroristas. Quero ver mais dualidades, sentimentos conflitantes, quero preconceitos quebrados... de um modo melhor. Se for pra ser vilão, que deem sentido e desculpas convincentes, que sejam brancos os principais mas que tenha motivos melhores do que só ser whitewashing. Não quero o Raito branco só pra conquistar o público branco. Não quero mais que a maioria das pessoas não mundo não se veja em papéis de destaque. Não quero que filmes representativos sejam considerados como para de nichos específicos. Porque não existe essa separação quando você põe uma Katniss ou uma Hermione branca. E também não estou a fim de ovacionar séries e filmes que põem cotas de representatividade para não aproveitarem histórias ou pra só matá-los no final de um grande arco dramático. A vida das pessoas deveria ser melhor aproveitada, não só suas mortes e as lágrimas que podem arrancar.

Aliás... quando foi a última vez que você viu uma personagem feminina negra num papel de poder, sem ter que lidar com ser vítima de machismo/racismo e fazer disso a sua vida?!
Pois é... não lembro. E nós somos tão mais que isso.

Ps. Eu tinha escrito esse post faz um tempão, desde a segunda semana de julho, mas hoje é que estou postando e por conta da hashtag do Twitter eu lembrei desse blog. #EveryCharacterMatters é uma dessas coisas que acontecem pra você saber o quanto você é sortudo em ter a internet ao seu favor quando você se sente sozinho. Me lembrou o discurso do carinha de King Cobra (filme indicado pra quem tem estômago). Mas enfim, cada pessoa é um floquinho de neve, e cada uma das representações sobre elas importam, então está aí minha contribuição.
Ps². Adicionada depois do término desse post, a Domino do filme do DeadPool 2 também foi escolhida negra. Eu adorei que colocaram a personagem originalmente branca com uma mancha preta, e agora é uma negra, a Zazie Beetz, com a mancha branca. Mas assim como antes, já esperando o choro e a ignorância de quem não entende da ironia.


já é minha capa


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