Ascenção (queda?) | B'Week

E do "nada", Beyoncé vira um ícone da moda.

Além de uma lenda na dança. E um vozerão mais do que potente. E a capacidade dançar e cantar ao mesmo tempo mostrando uma habilidade e um treinamento físico desenvolvido desde criança;

E especializada em álbuns (nos trabalhos inteiros) e não nos singles.

A pessoa que era desprezada por estilistas e tinha a mãe como stylist virou uma das consumidoras de marcas de luxo. Mesmo que com alguns looks criticados e de " bom gosto questionável", não se nega que ela virou uma vitrine de grifes. Ela até canta sobre os tals GIVENCHY.


Y'all haters corny with that illuminati mess // Paparazzi, catch my fly, and my cocky fresh // I'm so reckless when I rock my Givenchy dress (stylin’) // I’m so possessive so I rock his Roc necklaces - Formation
Mas como eu já disse antes, nem sempre foi assim. O glamour que cerca a vida da Beyoncé hoje é resultado de esforço, um esforço repetitivo e já visto em outros casos, de se cercar de riquezas e tentar não sofrer o que mulheres negras são obrigadas a conviver a vida inteira.


Como uma colega de curso disse esses dias, referente ao caso do irmão do Emicida, recentemente expulso do desfile da grife DELE, pretos não deixam de ser vistos como pobres, mesmo quando eles tem dinheiro. Porque o racismo olha a cor da pele, não a carteira.
Mas é visível o quanto o capitalismo, além do racismo, adoece, tanto as pessoas da base da pirâmide quanto as pessoas mais ricas... 

Tem uma lista bem completa aqui

Eu só consigo lembrar de (pelo menos) dois casos clássicos de mulheres do "R&B" que morreram vítimas do adoecimento psicológico. Mesmo com todo o dinheiro do mundo, nada salvou Nina Simone ou Whitney Houston (nem as filhas delas); O que aconteceu com Michael Jackson, ou mesmo o Kanye West.
Uma parte importante do documentário "What happen Nina Simone?", ou mesmo o desastre "baseado" em sua vida feito pela Saldana; é o adoecimento da Nina, como uma pessoa revoltada com o racismo, com ter seus amigos mortos, e ter todo o dinheiro que a sua arte e talento podiam oferecer mais ainda ficar presa no paradoxo da raiva e a tristeza, e a alegria se ser rica. Procura quantos artistas negros tem histórico de crises nervosas, atos violentos, bipolaridade e um auto ódio crescente, principalmente nas épocas "pós-raciais".
É muito negro morrendo de bala, mas muitos outros de abusos de intorpecentes para acalmar essa revolta. Revolta essa sobre a desigualdade que eles não deixam de viver, mesmo entrando na marra no "mundo branco", no mundo privilegiado pelo dinheiro.
É por isso que meu pai sempre disse "dinheiro não trás felicidade". E sim, ele tem razão. Nenhum dinheiro no mundo cabe na lacuna que a escravidão e o apagamento histórico criaram em nós.
eu tenho realmente desafiado pessoas a pensar sobre "Nós seríamos interessados na Beyoncé se ela não fosse tão rica?"
Ela é uma jovem, negra, mulher, ela é tão incrivelmente abastada e [ser] rica é o que tantos jovens fantasiam sobre, sonham, sexualizam, erotizam...

E alguem pode perguntar, até mais do que o corpo dela, é o que o corpo dela representa?  O corpo de desejos atendidos, é isso: riqueza, fama, celebridade, todas as coisas que tantas pessoas na nossa cultura estão cobiçando, querendo.

Vamos dizer se a Beyoncé fosse uma desabrigada, quem olharia do mesmo jeito, ou uma pobre trabalhadora, quem olharia do mesmo jeito, seriam as pessoas, encantadas por ela?

Ou é a combinação de todas essas coisas [riquezas, fama, celebridade] que há no coração do imperialista, branco supremacista, capitalista, patriarcado?
Tirei daqui

O vídeo dessa palestra/roda está aqui.

Lemonade foi o auge da riqueza para a Beyoncé. Ela conquistou tudo, ou quase tudo o que uma mulher negra poderia ter conquistado em todos esses anos pós segregação. Mas isso não significa que ela esteja ilesa, plena, acima dos problemas. Quando eu vi o filme da Beyoncé, Life is but a dream no ano passado, eu vi uma mulher desesperada para acreditar em algo, enquanto as certezas ruíam ao seu redor. A base do relacionamento com o pai estremecida por conta de um filho ilegítimo, a quebra da relação profissional deles (ele era seu empresário desde sempre), e a gravidez depois de já ter passado por um aborto, e depois pensar em tudo o que pode ter rolado entre a briga da Solange no elevador, e a total apaticidade dela com toda a situação me faz ver uma Beyoncé fragilizada, enquanto ela tenta ao máximo se manter distante da vida mundana.
Sim, é um fato que ela é DIVA demais, ela canta isso a anos já;
Que ela tem influencia pesada de religiosidade e culto às deusas ainda mais fortes nesse último album. E o fato dela ter engolido a traição do Jay-Z, mastigado ela e posto ela pra fora em um cd inteiro falando sobre a dor de ser uma mulher negra é definitivo pra mim de que esse é o momento da Beyoncé pedir ajuda.
Mais dois filhos na conta de um casamento super exposto pela mídia foi a receita do desastre para Britney, a receita de uma auto endeusação para Madonna, o enclausuramento e paranóia de Michael Jackson, o alcoolismo de Nina... e sinceramente, estou preocupada de verdade com a sanidade mental dela. Não iria querer que outra estrela adoecesse e morresse em decorrência do mundo pop ser cruel por si só, e o mundo racista e sexista em que ela vive, que nós vivemos, mata mais do que pressão para ser a melhor. Ela te consome por dentro, te envenenando aos poucos.

Isso já aconteceu tantas e tantas vezes.

Recentemente re-assisti o filme Dreamgirls. Ainda lembrava de muitas coisas, mas saber um pouco mais da história me deixou ainda mais com vontade de revê-lo. Claro que na época em que assisti o filme, ainda com meus 14 anos, eu me liguei nas similaridades de algumas histórias com as reais que eu já conhecia. O "próprio" Michael, que é o mais próximo da minha geração, tem uma participação mínima mas emblemática sobre o apadrinhamento dele na música e como se dava o contado dele com a Diana, o carinho entre eles também é retratado.
O negócio é que, como qualquer musical, eu espero mais dramaticidade do que a vida real, e a história da Deena (Diana Ross) e a Effie White (Florence Ballard)... é quase pior e mais dramático do que a ficção conta. Florence morreu de uma maneira tão torpe, assim como o fim trágico do James Early (feito pelo Eddie Murphy), ela foi varrida para um hall de esquecidos, de não apresentáveis ao grande público (o público com dinheiro, o público branco). Aos outros exemplos: Jackie WilsonMarvin GayeBillie Holiday, Etta James, MJ...tem histórias que precisam ser muito suavizadas para entrarem em uma produção cinematográfica americana. Até o famigerado James Brown, e todos os altos e baixos da vida pessoal passa por todas as problemáticas de ser um negro rico que não, nunca irá se encaixar.
comparações que eu não gostaria que chegassem ao nível pessoal


Ballard never reunited with the other Primettes, unlike the sentimental ending to "Dreamgirls." She died broke, at age 32, in 1976. -  artigo da SF Gate


Gilbert Millstein, do jornal The New York Times, que tinha sido o narrador dos shows de Billie Holiday no Carnegie Hall, em 1956, e escrito parte da contracapa do álbum O Essencial de Billie Holiday, descreveu a morte dela na contracapa do mesmo álbum, relançado em 1961: "Billie Holiday morreu no Hospital Metropolitano, em Nova York, na sexta-feira, 17 de julho de 1959, na cama em que havia sido presa pouco mais de um mês antes, já mortalmente doente, por posse ilegal de narcóticos; no quarto de onde um policial havia se retirado - por ordem judicial - apenas algumas horas antes de sua morte, que, como sua vida, foi desordenada e lamentável. Havia sido belíssima, mas desgastou-se fisicamente a uma reduzida e grotesca caricatura de si mesma. Os vermes de todos os tipos de excesso - drogas eram apenas um - tinham-na devorado... A probabilidade existe de que - entre os últimos pensamentos desta mulher cínica, sentimental, profana, generosa e muito talentosa de 44 anos - estava a crença de que seria acusada na manhã seguinte. Ela teria sido, eventualmente, embora talvez não tão rapidamente. Em qualquer caso, ela retirou-se, finalmente, da jurisdição de qualquer tribunal terreno."


E qualquer semelhança com Freedom...

I'ma wade, I'ma wave through the waters
Tell the tide, "Don't move"
I'ma riot, I'ma riot through your borders
Call me bulletproof

Lord forgive me, I've been runnin'
Runnin' blind in truth
I'ma wade, I'ma wave through your shallow love
Tell the deep I'm new

I'm telling these tears
"Go and fall away, fall away"
May the last one burn into flames
Eu espero, e torço pra que isso nunca aconteça com a Beyoncé.
Como eu normalmente digo sobre diversas coisas, é um padrão, não uma regra.
Eu espero que ela quebre esse padrão também, o padrão das mortes precoces e da auto destruição.

Links para apoio
Billboard
cbc music
Blillie Holiday
The Guardioan
rolling stone

Comentários

Postagens mais visitadas

Facebook