‘A Lil Bleach Ain’t Hurt Nobody!’ | Sobre micro-agressões e autoestima negra

Eu hoje estava lendo sobre autoestima da mulher negra.
Começou com o vídeo do Herdeiro da Beleza (que aliás, é ótimo, sigam ele! Link do vídeo aqui) sobre a questão lá do racismo na Dove; e sobre a síndrome de bleaching.

Tem um vídeo bem interessante no Yo Ban Boo que mostra, se não a mesma cena, a mesma idealização racista, mas vindo dos asiáticos. O nome do vídeo: 

Mas aí, voltando...

Tinha uma postagem sobre isso no blog do Tássio Santos, que ele disponibilizou como texto complementar, com uma pesquisa dele do ano passado sobre a indústria cosmética, e aproveitando a abertura sobre maquiagem, produtos de beleza, Rihanna, marcas (tantos as aproveitadoras da onda, quanto as que peidam no tomate em publicidade...) vamos dar aquela focada em uma parada bem específica que eu observei, tanto no texto, quanto nas discussões em redes sociais esses dias.

Recentemente a cantora estadunidense Azealia Banks publicou um vídeo confirmando ter feito clareamento de pele. A artista é conhecida por se posicionar em prol do movimento negro e disse que realizou o procedimento para disfarçar cicatrizes, e não por falta de amor próprio. Porém, em abril desse ano, um fã a questionou no twitter “porque clarear a pele? ” e ela respondeu o seguite: “Depressão. É confuso ver mulheres brancas/de pele mais clara saindo na frente enquanto têm músicas piores que as minhas”. Tanto o vídeo quanto o tuíte foram excluídos em seguida.
~ depressão ~



Aí eu fui dar uma olhada no histórico da Azealia além dos surtos e dos constantes ataques dela e dos outros artistas pra com ela. A verdade é que a rapper é talentosa (pra kct), e sim, e tem um passado pesado tal qual comentamos sobre os problemas estruturais da vida pessoal dos artistas negros, no post ascensão e possível queda do império beyocélistico, que explica, justifica mesmo, seu estado de eterno desconforto atual. Sobre a própria imagem, sobre a carreira, sobre a vida como uma mulher negra em geral.

Mas, usando algumas palavras da "louca" Azealia Banks... Porque ela é questionada "apenas" quando a pele é clareada? Qual a diferença quando ela tem apliques lisos no cabelo ou faz rinoplastia?
E esse é um assunto a se pensar. O que, de fato, é aceito mesmo sendo embranquecimento, e principalmente, o que faz uma pessoa querer se embranquecer ao ponto de alvejar a própria cor.
Lil Kim, exemplo mais gritante. Michael Jackson, claro, mas e a irmã dele? Janet Jackson, embora apagada desde toda a confusão do Justin Timberlake continua com o dinheiro e a fama suficientes para o whitewash ser sentido a quilômetros de distância...

Nicole Richie, apesar de tentar um discurso racial quando a convém. Embora pra mim, seja óbvia a baixa autoestima que a "melhor amiga da Paris Hilton" sofreu e ainda sofre até hoje. Eu pretendo falar mais sobre ela num post separado, então, alguma hora eu "linko" aqui.

E o premio de maior decepção da vida militante foi para a Stacey Dash, que faz um papel da negra maravilhosa em mais um filme branco de sessão da tarde, mas na vida real é a maior "quero ser branca, não acredito na 'segregação', voto no Trump, etc." mas que ao contrário do que pode parecer, a mulher é mais surtada que a Azealia. E surtada no sentido sou negro e voto no Donald Trump porque tenho direito de odiar outras minorias... é nesse sentido. Não quero diminuir o estado da saúde mental da Banks.

Ex. do quanto essa preta conseguiu ser ignorante, ou esnobe, ou só alguém colonizada e com muito auto ódio:

  1. A mulher jogou shade pra cima da senhorinha que criou o Black Girls Rock e eu fiquei com vergonha alheia e a mão na cara...
  2. Stacy Dash é a mulher mais odiada da América?


Se pergunte mais... porque a pele branca é considerada pelas pessoas como algo a ser valorizado.
Isso é "só" um ideal renascentista que ainda carregamos, ou é algo mantido pelas pessoas que representam o que é humano, higiênico e belo, desde sempre... e para sempre?!
Já deu tempo de pararmos de relacionar coisas sem pensarmos o porque de acharmos com tanta certeza; Hoje eu vim pensando sobre isso depois de uma demonstração de desconforto do meu professor (branco) em pegar uma peça de tabuleiro (eram potinhos de tinta guache para uma representação de peças) e ele querer o branco mas ficar na dúvida se isso soaria "estranho". Peguei o preto pra ele parar de frescura, mas independente, a gente precisa mesmo ter que relacionar tudo o que é branco a coisas melhores, e tudo o que for escuto, a coisas ruins?!
Proponho que paremos de pensar isso. Isso machuca, isso mata. Isso tem cunho racista e preconceituoso, e vem entranhado na cultura visual e linguística, tão entranhado que nem percebemos quando falamos, escutamos ou vemos algo que reforça essa ideia maluca de que claro é bom, negro é ruim; branco bonito e preto feio.

Entendendo que pessoas negras não podem ser racistas, pois racismo é um sistema que privilegia uma cor de pele e etnia sobre a outra, sendo assim, negros não se beneficiam com o racismo, logo, não são racistas. Porém, como vivem numa sociedade de 'brancos para brancos', podem chegar a reproduzir esteriótipos e contribuir com preconceitos, mas isso é chamado de auto ódio. Você não machuca apenas o outro, machuca a si mesmo.

Vamos falar num contexto mais específico: o auto-ódio;



O vídeo acima se trata do "teste da boneca", já bastante rodado nas redes sociais (se for possível, veja o mesmo teste em versões diferentes), independente em qual país seja apresentado, a pergunta "qual é o que parece com você?" sempre me faz querer chorar. A ideia de que mesmo que a criança saiba quem ela é e o espaço que ocupa na sociedade e mesmo assim aceite sem questionar a ideia de bom e ruim, feio e bonito, baseado em cor e ainda mais, desfavorecendo a própria é um dos aspectos mais cruéis do racismo. Ele faz você se odiar desde cedo. Ele destrói uma autoestima que nem foi completamente construída ainda. E isso é triste demais pra não ser sentido.

A Lil Bleach Ain’t Hurt Nobody!

Frase tirada de contexto usada por aleatórios pra insinuar que Kelly Rowland teria clareado a pele.

Fico vendo isso aqui e não consigo entender a fascinação das pessoas em relação à pele clara. Até em condições de falha genética isso é considerado mais significativo. E não queria desmerecer a luta por representatividade sobre as pessoas com essa condição (no caso, a de ser albino, mas também outras como vitiligo).
E sem falar em ataques recentes, que vem crescendo nos últimos tempos, sofridos por Rihanna e Beyoncé pelo twitter e instagram, com fotos com suas peles clareadas tentando mostrar "o quanto elas seriam mais bonitas se elas fossem brancas".
Eu tinha lido sobre as opções de clareamento a muitos anos atrás e existem opiniões extremas e opostas nos comentários sobre o embranquecimento das mulheres. Era um post parecido com esse, acho que na mesma época, 2010, 2011. Essa era em que começa a se abrir um leque ainda maior de procedimentos de embelezamento e as modificações passaram a ser além de passar pela faca numa mesa de um médico, cirurgião estético e esse blablabla todo. Uma ida à clinica de estética... pronto, outra mulher, era e sempre foi, o que eles vendem. Deixe todo o passado de preterimento, auto ódio, baixa auto estima para trás, seus problemas acabaram! Compra aqui esse frasco e continua comprando até não sobrar mais nada de você mesma nessa pele, nesse corpo.
Se temos muitas e muitas coisas endossando esse pensamento racista, como culpar as mulheres nesse sistema misógino e racista, que assistimos sem fazer nada?!

Ela é criticada, mas não a indústria que alimenta esse mercado de cores melhores ou piores?! Sim, é confuso.

Porque culpamos as vítimas?

Tive uma discussão no último ano do ensino médio com um professor que não suportava Michael Jackson e sua "desculpa" de vitiligo pra se embranquecer. Eu entendo a indignação, mas sempre consegui ver a fragilidade de MJ pra questões de raça. Ele sempre foi o tipo "negro domesticado" e mesmo depois, quando ele se clareou completamente, ele provou a máxima de que não importa se você é branco ou preto. Importa é que você não fale sobre questão racial;
Encontrei uma postagem que fala tudo, e mais, do que ouvi naquela aula.
 E no caso do Michael, ele era uma pessoa negra com muita violência contida. Eu ouvia comentários sobre as mudanças não só da cor, mas do comportamento. Quanto mais branco ele ficava, mais espaço ele se dava pra parecer revoltado, e isso não passa despercebido. Mas se ele tivesse continuado de pele escura, isso não seria sido reduzido ao fato dele ser negro, e "pessoas negras são por natureza raivosas"?!
Tive uma observação sobre beleza com a minha avó esse fim de semana. Ela é negra, mas acha que características "de negro" fazem uma pessoa mais feia que outra. Cabelo crespo é cabelo ruim, nariz largo é nariz feio, "negro beiçudo"... Eu não consigo deixar batido, mesmo ela tendo quase 90 anos e pergunto, depois dela falar de uma menina de pele clara e olhos claros, "Vó, mas ela é bonita ou só branca?"; minha avó não irá perceber o auto ódio dela, deixo passar. Mas ainda observo que ela fala com orgulho que nunca deixou o cabelo enrolar desde os 13 anos de idade. 13! Numa época que se alisava cabelo com banha e escova quente.
Eu nem quero falar o quanto que querer ser mais branca me custou uma eternidade pra me amar do jeito que eu sou. Só quero deixar aqui o questionamento... é justo culparmos as pessoas que mais sofrem por tentar sofrer menos?!

É necessário que haja mais descoberta acerca da auto estima negra do que supõe nossas vãs filosofias.





When you hurt me, you hurt yourself
Quando você me machuca, machuca a si mesmo
Try not to hurt yourself
Tente não machucar a si mesmo
When you play me, you play yourself
Quandov você joga comigo, você joga consigo mesmo
Don't play yourself
Não jogue
When you lie to me, you lie to yourself
Quando você mente pra mim, você mente pra si mesmo
You only lying to yourself
Você só está mentindo pra você mesmo
When you love me, you love yourself
Quando você me ama, ama a si mesmo
Love God herself
Ame esta Deusa






Outros textos:
A história de bonecas negras (em inglês)
O legado de Stacey Dash (em inglês)

Obs: Pretendendo explanar outra teoria sobre auto estima e como o embranquecimento não funciona bem para os homens negros. 

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