Solidão (vs. Liberdade) | Vivendo só

Então, eu estava lendo uns posts antigos e li um em particular que me lembrou o quanto eu tinha medo da solidão em ficar morando sozinha.
Na verdade, acho que nem diria que esse texto me lembrou isso, até porque, falei disso recentemente com meu pai, justamente na época de transição. E antes na época mais pesada do meu ano passado.
Eu, depois de todo esse tempo pós tratamento de depressão e muita terapia, nunca me senti segura de mim mesma pra continuar sozinha.
Uma das recomendações pós tentativa de suicídio, repassada aos meus pais, era nunca me deixar só, visando o risco de eu tentar novamente.
O risco se materializou mais de um ano depois, e foi complicado, e eu sei que eu vi muita verdade nessa correlação de estar sozinha + se sentir solitária = vontade de morrer.
Juntando tudo isso, eu nunca nem cogitei morar sozinha, apesar de uma fase eu ter pensado em morar em república e estudar em outro estado, mas essa ideia nunca foi pra frente, também pelo medo que eu tinha de me sentir sozinha em outro estado, sem família, e medo também de não conseguir fazer amigos e tentar suicídio em um local que ninguém poderia me parar ou me ajudar.
Meu medo era tanto, mas tão aceitável, que eu sempre disse que sairia de casa apenas quando eu me casasse. Mesmo que depois de um filho ninguém acreditasse, nem eu mesma, que eu iria casar algum dia. Ou mesmo em todas as vezes que eu agradeço a Deus, ao universo, ao mundo por ter Anne na minha vida, isso não soa estranho pras pessoas, mesmo que eu esteja falando do meu medo de mim mesma e de fazer algo contra a minha própria vida se eu não a tivesse.

Veja bem, eu nunca fui forte, e se fui, nunca me senti forte.
Eu sempre soube que minha saúde mental é muito frágil.
Que eu preciso de ajuda e que às vezes eu não consigo ajuda sozinha.
Minha consciência sobre mim é bastante clara, desde sempre. Eu tenho medo de um dia fazer mais mal do que bem, por isso me protejo e protejo ela de mim, das formas que eu posso. E uma dessas "decisões" autoprotetivas era nunca sair da casa da minha mãe.

O meu pai tem um sistema incerto de horários por conta de trabalho, então era muito melhor pra mim que eu ficasse com a minha mãe, mesmo depois de uma separação que nos ajudou a declarar com toda a certeza que nós não somos compatíveis e não fazemos bem uma para a outra.
Me dou melhor com meu pai, consigo estabelecer diálogo com ele, mas a barreira dele precisar me deixar só sempre foi o ponto decisivo do qual eu nunca fui morar com ele.

As gotas d'águas com a relação com a minha mãe me ensinaram que se não é no carinho é na força de verdade, então em tese, e bem em tese mesmo, ela foi embora. "Embora", ela ainda está aqui. E como o sistema com ela está mais incerto ainda do que seria com qualquer pessoa, eu estou vivendo como se ela fosse um fantasma na casa.
Queria eu que eu conseguisse ignorar mais. Aí eu faria minhas tarefas de maneira mais organizada, como eu até consegui fazer quando ela realmente estava longe. Mas né...

Mas voltando, meu medo de solidão.

Os primeiros dias foram difíceis pra caramba.

Primeiro porque eu me senti muito abandonada, numa época sem água, eu não estava preparada pra ter que por minha filha em hotelzinho, organizar tempo, nem nada, mesmo recebendo "advertências" de que a mulher ia embora, e mesmo eu mesma tendo pedido, pelo amor à minha sanidade, pra ela ir de verdade, eu fiquei um lixo.
Junta que eu fiquei lascada de uma gripe, Anne também, e um dia ela simplesmente vomitou as camas e a casa inteira, e eu fiquei me sentindo mais sozinha do que o naufragado Tom Hanks; só que o meu Wilson vomitava horrores e não tinha toda a água do mar pra lavar o que estava sujo.

Passado esse primeiro momento de completo desespero, manchas roxas pelas pernas, porque sou dessas de passar raiva e dor e isso se materializar em vasos sanguíneos dilatados e estourados, espero que isso não seja um anúncio de um futuro infarto, mas vida que segue.

Hoje, passei por umas saídas (como eu tinha me desafiado para o mesmo de setembro, sendo que definitivamente a minha saúde passou pelo maior processo do SetembroAmarelo), umas conversas, uns sentimentos perdoados, e a vida seguiu, e eu fiquei surpresa até sobre o quanto eu consegui seguir bem sozinha.

Não sozinha real, eu comecei e terminei um projeto de relacionamento, mas foi fácil me desapegar da ideia, e eu estou solteira, sim, sozinha sim também porque eu não sou obrigada!

É fato que eu me reconectei com todos os amigos e colegas pra não ter que me sentir solitária. Eu conversei muito e continuo falando como se a matraca estivesse em mim e lutando pra sair do armário. Voz que todo o tempo fica escondida quando a presença da minha família está comigo. E digo presença, porque eu me calo até quando eles não estão próximos, pra evitar situações.
Porém quando eu tenho certeza das pessoas que estão comigo, ou pelo menos que elas não vão falar mais do que deveriam sobre mim ou sobre o que eu falo, as coisas fluem. Eu consigo me manter livre.

E é aquela frase bem colocada, você decide.

Você chega em casa, faz um chá, senta na sua poltrona favorita e não tem ninguém além do silêncio. Você que decide se isso é solidão ou liberdade.
Queria saber qual o autor/ a autora dessa frase.

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