Eu preciso voltar pra terapia

Vamos começar falando que esse dia está sendo extremamente improdutivo.
Então eu preciso escrever pra me sentir minimamente útil. E é uma coisa complicada porque no final das contas eu não estou realmente "produzindo". Não o que eu me propus a fazer pelo menos.
Eu uso a escrita pra me sentir menos inútil. Parando pra pensar, os meus pensamentos correm tão rápidos e tão repetitivos quando eu não escrevo que é quase impossível eu não ter esse escape. Eu preciso escrever. Mas também preciso aprender a meditar novamente. Porque o fato de eu não fazer mais nada além de escrever, dormir (cozinhar) e comer é fonte da minha falta de paz interior.
Não que eu queira me alienar como antes, mas eu preciso fazer muito pra acompanhar o ritmo de produção artística que me faria ser definitivamente uma artista.
Eu repensei a carreira recentemente. E é muito ruim porque eu cheguei à conclusão de que eu preciso me conectar com o que eu estou fazendo agora.

Vou destrinchar:

Nesses últimos anos eu tenho me focado muito no futuro. Porque as coisas não aconteciam. Porque eu estava fincada numa realidade que não estava acontecendo.
Quando eu voltei a escrever depois de quase um ano sem dar a cara a tapa nesse blog, eu estava focadíssima no que eu queria. Eu parti de um princípio que eu não podia mais esperar os outros, esperar meus amigos, namorado, família (estar lá, ou crescer junto comigo)... e eu segui. Me decepcionei, quebrei a cara, me arrependi. Me vi só, carente e encontrei um "branco salvador" que só me fez lembrar o quanto eu estava lascada. E me vi redirecionando completamente a minha vida em função dos outros, de novo. Passei o ano de 2016, como você pode ler toda a minha confusão e desespero aqui nesse blog, tentando me refazer, me por de volta nos trilhos, me fincar no chão de novo... e me vi presa num ano que só me fez ver que algumas coisas não tinham como ser diferentes. Podemos até tentar nos desligar quando a dor está forte, mas não dá pra passar pelo jardim vida e crescer sem passar pelos espinhos. OK, eu preciso parar com a linguagem poética. Até eu estou cansada disso. 

2016, ansiedade, luto, depressão, ansiedade, depressão, choro, desespero, morte, desapego.

Aí 2017 veio e com ela uma nova maneira de ver as coisas. Eu estou bem, eu aguento, eu posso.
Mas depois de uma primeira visão promissora, muita coisa se deu e eu cheguei à conclusão de que o ano do galo, o meu ano, não foi tão promissor assim.

2017, euforia, estímulos diversos, visão artística ampliada, decepções, raivas, mais raiva, e finalmente... 2018.

Tão rápido o ano começou, terminou e eu nem consegui digerir tudo o que me foi passado.

Eu olho muito as fotos do ano passado. Não me reconheço em um mês de diferença pra trás.
Na verdade, passei o ano inteiro enterrada na fotografia. Seja desse ano, seja dos anos anteriores.

A verdade é que eu assimilei coisa demais. Muito mais do que os meus estudos, sozinha em casa me deram a oportunidade de aprender, eu conheci gente que me ensinou o que eu levaria anos pra entender na minha antiga posição (social, profissional, etc).

E isso... está me deixando doente de uma maneira diferente.

Agora a pressão sobre mim é maior, porque eu me pressiono bem mais.
Se antes eu ficava sempre deprimida e irritada por estar cercada de pessoas com pensamento muito pequeno, muito ingênuo ou simplesmente sem muito estudo mesmo... hoje eu me sinto incapaz de dar grandes passos porque sempre acho que preciso ler e me inteirar de tudo antes de seguir qualquer caminho.

É uma mistura da Fear of Missing Out com Síndrome do Impostor.

Em uma comparação básica sobre quem eu queria ser, desesperadamente rápido, em 2013, a pessoa que fez acontecer em 2014, que aconteceu realmente em 2015 mas não ficou feliz com isso, e a pessoa desesperada pra ser, novamente em 2016, eu estou bem. Eu estou crescendo, eu estou melhor do que antes, eu estou amadurecendo bem. Mas em questão de organização, as coisas estão ficando no mesmo nível. Eu preciso ter disciplina entre o que eu preciso fazer no dia a dia, as coisas que eu preciso ler e aprender diariamente, e o poder aceitar que eu esporadicamente não vou conseguir dar conta de tudo o que eu devo/poderia estar fazendo.

Hoje eu estou no meu primeiro dia de menstruação do ano (real, esse ano só começou depois do carnaval) e sem água em casa (de novo). E eu não consegui acordar e ir pra aula, depois em uma visita no museu e depois no sarau de artes. Fiquei em casa por diversos motivos, e me achei improdutiva. Eu me sinto muito mal, porque eu penso em mim como uma pessoa preguiçosa, relaxada. E não só isso, me chamo mentalmente de idiota, retardada, de preguiçosa, de relaxada. São afirmações que sempre me foram ditas por outras pessoas mas eu mesmo longe delas continuo ouvindo. Sou eu que falo pra mim.
É péssimo. Quando mais eu reproduzo esses insultos na minha cabeça mais eu sinto que repito o mesmo comportamento destrutivo para Anne. E não é que eu queira, mas é simplesmente natural que eu me xingue, xingando ela. É algo que me deixa ainda mais culpada, porque na hora da raiva sai coisas que não começaram comigo, são coisas que a família perpetua de um jeito insano num ciclo eterno de auto-degradação e humilhação do outro.

Hoje eu estou sem Anne. Eu me sinto só. É quase natural que eu vá atualizar as fotos no instagram pra postar as fotos dela. Eu sinto falta de ter uma desculpa, uma boa desculpa pra não fazer o que eu planejo sempre fazer, mas hoje eu não tive esse bom motivo. Eu estou só e apenas (não) curtindo um dia sozinha sem nada pra fazer. E sem nada pra fazer porque além das boas razões, eu não quero fazer nada. O meu corpo pede pelo ócio. E ele tem pedido isso a semana inteira. Infelizmente a minha mente não acompanha. Eu não relaxo o suficiente. Eu não fui dançar, por uma boa música, e curtir o meu dia só e sem nada pra fazer. Eu fui me bombardeando de maus pensamentos sobre mim e o que eu estou fazendo com a minha vida e no final, vim aqui tentar escrever uma lista de coisas que eu fiz de bom na semana. Coisa que eu me digo pra fazer todo dia, sobre todo o dia, e nunca faço.

Então vamos fazer uma lista.
O que de importante eu fiz essa semana?

- Eu vi Pantera Negra com as minhas amigas na terça.¹
- Descobri o Projeto Identidade (quarta feira) e o Hybryd Project ²


- Fiz umas coisas com argila
- Indo bem lentamente com a gravura, mas indo
- Assim como em pintura, mas pelo menos já defini a ideia da série
- Comprei a minha feirinha orgânica na quinta
- Vi os filhotes de Safira (pastor alemão do sítio) com Anne
- Escutei Elza
- Fiz ioga no comecinho da semana
- Retomei uma discussão antiga que eu precisava dar fim ³
- Almocei na casa de vó

Então, sim, fiz coisas boas além de cozinhar, lavar, limpar, ajudar a fazer lição de casa, dar banho, alimentar, e todas essas coisas diárias que eu não poderia deixar de fazer.
Ruim só a sensação de que poderia ter feito mais e melhor, que assombra quase que cada uma dessas atividades.

¹ Muita coisa pra escrever sobre isso.
² O que pode me ajudar muito naquele meu projeto de manifesto... que eu talvez nem escreva só.
³ E que me deixou pensativa sobre o fato de que se eu não acabar, a coisa ainda rende mais de 6 meses depois(!)

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