Estou especialmente confusa...

... esses dias.


Eu sempre me sinto confusa, é verdade. Meus interesses são muito transitórios, meus objetivos mudam a cada ano. Nunca fui constante. Chegar a essa época, vinte e poucos anos, está sendo deveras sofrível, porque esperasse que essas dúvidas seja uma fase apenas da adolescência. Pelo menos, EU esperava. Hoje eu vejo que só o cenário muda, os anos vão passando, e eu não cresço.
Tá, realmente não cresço desde completar 1,53cm aos 12 ou 13 anos...
Algumas coisas mudaram entre esses anos. E outras coisas não. É confuso.
Por exemplo, eu deixei de ter depressão ( a doença, a letargia, a impossibilidade de fazer qualquer coisa, o pensamento de que a vida não vale a pena ser vivida), mas não deixei de ser depressiva. Não quero mais morrer, só queria estar morta.
Me sinto presa. Presa nessa vida. Não há nada que eu possa fazer, no "mundo real" que possa me fazer fugir de estar com o coração batendo. E com isso, ser responsável pelas pessoas ao meu redor. Responsável, digo assim porque independente do quanto uma pessoa se sinta só, ela realmente não está. Tem sempre alguém, pai, mãe, vizinho, primo, filho, amigo... que vai se importar se você for embora.
Faz um tempo que parei te pensar em suicídio. Uma amiga, conhecida, colega (não sei bem o que éramos, ou que poderíamos ser), ela se matou. Ela teve coragem. E não consigo não pensar no quanto eu sinto inveja dela. Eu nunca tentei pra valer me matar, eu só queria fugir, queria que alguém me salvasse, que me tirasse do tédio, que pudesse me trazer felicidade. Os anos passaram, e eu descobri que essa pessoa não virá, porque ela não existe. Eu tinha que me encontrar, encontrar alguma motivação. Suicídio não era mais uma opção, a garota que cortou o pescoço tinha apontado um dedo na minha cara e dito "Você não tem coragem. Nunca vai ter". E realmente, nunca iria querer que meus pais, família e amigos sentissem o que todos pareciam estar sentindo quando souberam o que aconteceu. Eu senti dor, embora eu só tenha racionalizado isso uma semana depois. Mas não pelos motivos convencionais, não porque eu acredite que ela tenha ido pro inferno ou alguma coisa do tipo. Ela me impossibilitou de fugir.
Então, já que a morte não era mais uma opção, eu criei uma vida. Não que eu tenha escolhido isso, eu não escolhi, mas minha filha veio e me trouxe felicidade por algum tempo. Mas é o que dizem, é muito fácil ter um filho, difícil é criá-lo. Eu lutei comigo mesma e com os outros por algum tempo para formar as convicções e ideais que eu tenho hoje. Não me arrependo, eu era moralmente instável quando eu fiquei grávida. Hoje em dia eu posso dizer que, mesmo com muita gente discordando do que eu penso, os meus princípios são claros e corretos, servem a mim e aos outros, e eu não gostaria de causar mal a ninguém. Não deixo que meu egoísmo machuque tanto pessoas que não tem porque sofrer por ele.
Eu realizei muitos dos meus objetivos e "sonhos". Eu deveria estar feliz.
Mas não estou.
Racionalizando, eu tenho uma filha bonita, inteligente, saudável. Eu sou uma pessoa que não me acho especialmente feia, não tenho problemas de saúde, e não me acho imbecil. Na verdade, até acho que se não fosse por me perguntar tanto "por que", eu conseguiria melhorar esses três aspectos, e rapidamente. Problema principal: preguiça em conjunto com falta de estímulo.
Vamos tentar encontrar o que falta pela pirâmide de Maslow


Fisiologia está relativamente bem, como eu disse antes, sou saudável tirando o apreço exagerado por doces causada por ansiedade, a recente falta de exercício físico regular e sono excessivo também causados pelo estado depressivo. Variação de libido também é apresentada, mas não vou me importar muito com isso.
Segurança: não tenho o que reclamar. O emprego ficará fixo em breve, família está bem, casa, e como eu disse antes, estou saudável.
Amor/relacionamento: este item está complicado, não sinto vontade de interações sociais, embora mantenha um relacionamento estável e sem brigas com a minha família, matenhos os amigos por perto sempre que posso, sem inimizades. Intimidade sexual seria possível se eu não estivesse tão fechada, mas não vou me importar com isso.
Estima... vamos lá, estou confiante sobre o respeito dos outros por mim? Talvez. Respeito os outros? Na medida do possível. Conquistei diversas coisas. Tenho confiança num nível que eu imagino ser comum à maioria das pessoas. Auto-estima talvez seja um problema, instável. Depende muito do momento.
Realização pessoal: me sinto moralmente segura; só.
Não me sinto criativa ou única, ou especial, nem espontânea porque sinto que estou representando até pra mim mesma, nem estou conseguindo encontrar solução para este meu problema chamado vida, não consigo aceitar a realidade das coisas, as obrigações sociais e me sinto extremamente triste quando os outros aceitam tão facilmente, caracterizando presença de preconceitos.

Okay. Eu aprendi que a base da pirâmide é que deveria ser a mais importante. Que os valores da sociedade moderna alteraram o que deveria ser o correto. Não sinto que seja desse jeito... está mais para um malabarismo, só que as bolas tem pesos desiguais. Não estou conseguindo mantê-las em movimento. Deve ser por isso que quando atravesso a rua desejo ser atingida por um carro.
Gostaria de conseguir ter planos a longo prazo, e que eles durassem, que meus desejos continuassem comigo, que minhas conquistas significassem algo. Mas não significam nada no final.


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