TCC e a felicidade do ser

O que foi que aconteceu comigo?
O QUE FOI ESSES [ÚLTIMOS DIAS]?
o que mais está acontecendo no mundo?

Esses questionamentos estão permeando a minha vida numa fase, nessa fase, de um jeito que eu esteja duvidando que a adultice virá a me fazer bem algum dia.

Ontem disse diversas vezes pro meu pai o quanto eu sentia que tinha feito uma pá de coisas, mas era só impressão. No fim da manhã, eu só tinha acordado, pensado, esperado ele acordar, fomos à casa da minha avó, vimos fotos, a copa... fui ver Anne antes que ela viajasse com a avó de novo, depois uma conta paga. E só. Nada demais.

Mas no final da manhã passada, eu estava em êxtase pelo tanto de pessoas que eu dei um oi.

Vi a minha mãe, meu pai, minha filha, minha avó paterna, o pai da minha prima, dois colegas que não via a anos (mesmo que só de longe), congratulei o fato de Anne estar escrevendo com a ex professora dela na fila do pagamento...

Fui pra casa com um sentimento de CARAMBA, QUANTA GENTE EU NÃO VEJO NO DIA A DIA.

Esse sentimento, esse estado de regorgização por poder encontrar as pessoas no meu bairro, pessoas que eu quero ver bem, que estão vivas, e podem fazer o que elas quiserem porque a vida é um berço de oportunidades pra ser feliz.

Estou renovada.

Hoje acordei cedo sem qualquer necessidade. Mandei uma mensagem louca no insta stories. Disse que amava todo mundo, mesmo quando eu não estou perto.

E é verdade. Eu amo todas as pessoas que já passaram na minha vida simplesmente porque elas estiveram nela. E a minha vida é importante pra mim. E é um peso tirado das costas finalmente pensar nisso depois de meses mergulhada em trevas e cobranças.

Tudo o que se seguiu depois da morte da Marielle, do Anderson, das constantes decepções com pessoas (aquelas pequenas) e principalmente as minhas decepções comigo mesma (que também são pequenas mas no meu interior, elas conseguem ultrapassar o meu próprio tamanho)...
Tudo, pode ser deixado de lado, quando eu consigo finalmente sair na rua e me sentir viva de novo quando eu pagar uma conta.
Quando eu me sinto tão bem por poder andar na rua e pagar a minha conta.

Chegar na casa de painho e conversar até 3 da manhã.
Ir no shopping com Vera e comprarmos sapatos numa tarde de meninas.
De poder falar de decoração com a minha mãe sem ressentimentos por eu estar mudando a casa dela.
Por eu estar com saudade de Anne mas nós duas estarmos muito felizes pois ela pode viajar e curtir as férias delas.
Por podermos.

E podemos.

Isso me faz pensar em futuro.

E o futuro a todos pertence, mas eu quero pensar aqui no meu futuro.
Eu queria ter feito muitas coisas esse semestre. Nem metade se passou e eu já estava exausta e estressada. Questionando todas as minhas decisões, meu modo de vida, minha estabilidade... Considerei dar um passo atrás. Mas segui em frente, consegui sobreviver aos trancos e barrancos a mais um trimestre no curso de artes. E não vou me enganar, eu estou pondo toda a minha vida em jogo quando eu ponho minhas esperanças em terminar esse curso e ser o que eu devo ser, uma artista, uma filósofa, uma pesquisadora, uma professora, uma escritora.
Eu não tenho nenhuma outra ambição na vida. Eu só quero ser. E isso é tudo o que eu quero ser.

No começo de 2018 eu iniciei uma conversa sobre o meu TCC com o meu provável orientador. Uma pessoa que eu amo discutir, que conhece o meu método de pensamento, e que conseguiu pegar o começo da minha ideia. A motivação eram os processos fauvistas e a ideia das pessoas de pele escura na arte.

Eu, nas minhas perturbações rotineiras, acabei não escrevendo, nem ao menos esboçando esse pensamento. O que foi triste, porque a ideia ainda é genial, vendo em conta que lançaram dois clipes (This is America e APESH*T) incríveis sobre o tema e olha o quanto que a discussão é importante e relevante a nível mundial!


Mas daí, hoje, pensando com os meus botões... talvez eu não queira um grande momento de lacração, com uma tese bem estruturada, uma dissertação muito boa sobre as qualidade de arte de outras pessoas... eu quero algo meu.
Eu quero produzir uma obra de arte. E explicar seus processos. E chorar no fim da apresentação do TCC sabendo que tudo foi sobre mim, o meu esforço e sobre algo íntimo o suficiente pra chorar por.

Eu retomei uma ideia do meio do ano passado.

Vendo as fotos antigas de vó, eu relembrei que tinha querido fazer um projeto baseado nela. Na vida dela, nas fotos e lembranças... E pensei em como as minhas avós estão sempre presentes na minha vida. As duas de maneiras tão diferentes mas tão particulares no seu modo de me dar amor.

Eu quero dar isso a elas.

Melhor do que eu dei à minha filha nas minhas aulas de argila.

Falando nisso, vou deixar aqui o resultado da minha dedicação desesperada por essa matéria que me deixou quase num estado parecido com um parto.

Sim, eu pari minha filha em barro, com sangue, suor e lágrimas.



E é isso.
Seja artista.

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