Marcella, a série das pontas soltas

Eu acho que eu nunca vi uma série policial com tanta ponta solta. PQP.

Mas vamos por pelo começo: eu assisti porque eu tinha acabado de assistir o Mindhunter. Inclusive, a segunda temporada é foda mesmo tendo as mesmas estruturas. Até os mesmos defeitos. Mas inegável que parece muito que eles pegaram os mesmos pontos chaves que são interessantes quando se trata de crimes;

Por exemplo: o investigador que mesmo sem evidências tem certeza de quem é o criminoso porque tem um tino, alguma intuição sobrenatural e toda essa coisa meio Sherlock que as pessoas acreditam que divinamente alguém sabe a verdade sobre um crime e o único problema é conseguir as provas.

Ou o filho do investigador potencialmente psicopata que mostra que mesmo que o especialista pode ser cego pra todos os sinais quando o filho é dele.
Eu adorei essa segunda parte, mas nas duas séries eu esperei que isso fosse melhor desenvolvido ou que em algum momento da temporada isso causasse alguma consequência. Não é que não deu absolutamente em nada, mas o foco fica pras implicações nos personagens centrais e não nas crianças ou o que se pode fazer quando percebemos a psicopatia nelas. O que explica a teoria estúpida de alguns de que o filho do Bill Tench irá se tornar um assassino tipo Dexter, que o pai iria ensiná-lo a matar outros assassinos. Que absurdo. Mesmo que não fosse uma história baseada no mundo real, e um serial killer pudesse ser direcionado "a matar quem merece", o discurso todo é errado.

E é aí que o Marcella perde muito sobre Mindhunter.

OS PROBLEMAS

Os personagens que acompanhamos são completamente diferentes porque não dá pra se conectar com eles. Eu nunca vi uma série que eu não conseguisse torcer pra ninguém, absolutamente nenhum dos protagonistas como Marcella.
Mindhunter tem lá seus problemas em fazer com que nos identifiquemos com os três personagens principais. O Holden é frio, o Bill é grosso, a Wendy é chata. Mas torcemos que as investigações avancem e que eles consigam, mesmo que não peguem os assassinos, que eles consigam um perfil acurado do serial killer;
Marcella pra mim conseguiu ser tão insuportável que no meio da segunda temporada eu torci até pro pedófilo em detrimento dela. Não estou brincando, queria estar mas não, eu torci mesmo que ele abusasse do filho dela e que ela visse.
O que seria legal, e o diferencial da série Marcella seria o fato de que ela tem problemas psicológicos (ela tem reações violentas seguidas de apagões de memória), familiares (traída e largada, os filhos não a suportam) e por isso ela vira uma policial duvidável (ela mais assedia os suspeitos do que investiga).
O que vemos é que ela é péssima profissional, péssima mãe e uma mulher meio detestável mesmo.  Ela não procura ajuda sobre os apagões, então as questões psicológicas não são exploradas até beeem no fim da segunda temporada. Não é só detestável por ser meio louca apenas, mas porque ela não é nada brilhante. Aliás, até atrapalha mais do que ajuda, na minha opinião. Eu achei que iam consertar esse erro de colocar conexões da vida pessoal dela nos casos, mas parece que os roteiristas acharam divertido brincar com esse erro policial.

MINHA GENTE, COMO VOCÊS INSISTEM EM COLOCAR UMA PESSOA EMOCIONALMENTE ENVOLVIDA PRA INVESTIGAR ASSASSINATOS??????

A estrutura da série também não ajuda em nada. Ela apresenta um monte de personagens, todos muito, muito suspeitos até quando você sabe no final quem é o verdadeiro serial killer. Sério, não teve nenhum dos homens que apareceram na série que eu considerei inocente mesmo depois de comprovadas. Isso ajuda a esconder o plot twist mas com tantos suspeitos, no final de cada episódio você tem que contar quantos personagens foram inseridos e a cada nova prova ou suspeito você se pergunta: quem é esse aí mesmo? 
Em Mindhunter é muito menos confuso e intrigante num mesmo patamar. Se por um lado as entrevistas são o ponto alto, e fica desbalanceado quando eles estão fazendo outras coisas, por outro, a trama avança e não fica exatamente andando em círculos como nessa série.
Se bem que a questão nem é você achar o assassino, ao contrário de em Marcella, é você entender as motivações. Em Marcella a questão é que todos os suspeitos tem motivações, torpes ou não, e você tem só que apostar em um e torcer. E irá errar, porque nada aponta pra ele a não ser a perseguição da investigadora que está pessoalmente comprometida, ou porque ela é levada até ele no meio dos seus problemas pessoais, contando com a sorte e coincidência.

Os relacionamentos dos protagonistas também é algo discutível. Apesar de não ter nada demais, a protagonista parece ser a pessoa que todos desejam. o que não faz o menor sentido.
A relação com os filhos da investigadora podiam até ser um adicional interessante tendo em vista a representação de mães fazendo esse tipo de trabalho difícil, lidando com problemas com os filhos, equilibrando o tempo e atenção e tal... mas não, além de ser raso o relacionamento dela com as crianças, e mesmo quando apresenta os problemas eles são descartados como algo não tão importante sendo apenas tocado quando precisam desestabilizar a personagem principal e simular um drama, mesmo que ela não pareça ligar pra elas além de para apurrinhar os ex marido, de qualquer jeito o final da segunda temporada nos trás uma revelação bombástica e ainda faz você sentir ainda mais raiva da personagem.

Os relacionamentos da Marcella com os quatro personagens homens e a antiga chefe também não ajuda a empatizarmos, e não pode ser explicado por nada lógico. Eles parecem ser cegos, surdos e mudos pra tudo o que ela faz. Não existe consequências palpáveis pra quase nada que ela faça de errado, nada passa da ameaça e do "não faça isso senão..." o senão nunca acontece. Ela parece ter controle de todos e eles não parecem nem perceber o quanto ela é perigosa pra si e para os outros.
Não queria e nem vou evidenciar muito, mas o fato da Marcella ser horrorosa não ajuda a criar simpatia. Não precisava ser bonita nem nada, só fazer ser crível que uma senhora mãe de três que volta a trabalhar depois de 10 anos, não consegue trocar de casaco ou escolher algo decente do guarda roupa consegue fazer dois dos colegas basicamente trabalharem pra ela nas próprias loucuras... é inacreditável.


Ah, e no mundo da série, nenhum, eu disse NENHUM, homem presta. Corruptos, ladrões, assassinos, gosta da filha, pedófilos,... ou no mínimo é um traidor safado ou um stalker. Não é que eu seja do time "Nem todo homem" mas assim... que merda de universo ficcional é esse que você não pode contar com ninguém? As outras mulheres também parecem que só estão lá pra ser rivais da protagonista em algum nível.

E por últimos e mais importante:

Malditas pontas soltas! Ocorrem diversos crimes durante as investigações dos assassinatos principais e Deus me livre esticar mais a série do que ela já é torturante mas custava dar destino para as investigações?! E o tanto de coisa que não bate?
Não vou mentir, eu assisti corrido porque o mistério é até legal. Só que não compensa quando nem metade das suas dúvidas é respondida.
Jesus! Ainda estou preocupada com o desaparecimento da mãe da bebê da última temporada. E os roqueiros? E definitivamente eles não vão mais abordar o assunto porque a terceira temporada vai pra um caminho totalmente diferente. E que porra de final foi aquele?!

Ah! Eu acho que já dei muito spoiler aqui e eu nem queria dar. Na verdade, eu nem quero que você veja essa porcaria. Vá ver Mindhunter que é um entretenimento que dá menos raiva.

Comentários

Postagens mais visitadas

Facebook