Emicida jogou uma pedra ano passado que só me acertou ontem.

 Voltando aqui para falar de rap. 

Mais especificamente, sobre Emicida.{E espere mais quando eu tiver lido o livro do Jay-Z}

O ganhador de diversos prêmios (Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa, inclusive)... Amarelo. Não só, pois é mais para falar o que eu senti sobre o seu documentário. Sobre como ele me tocou profundamente neste último fim de semana. 

E percebendo que é por causa dessas pérolas no meio de tanta lama que eu ainda insisto (e invisto) na Netflix. Eu não estava nem ligada, nem empolgada com os lançamentos recentes da plataforma, estou naquela de passar reto por coisas que eu posso assistir depois. O único app de uso constante (para me manter atualizada) é que me avisou que eu precisava muito assistir É tudo pra ontem

E eu precisava mesmo. Pois se tinha algo que eu precisava nesse fim de ano era me injetar de ânimo para o próximo ciclo. 

Antes de me aprofundarmos nisso, eu preciso fazer apontamentos sobre o álbum Amarelo do Emicida. {é engraçado de pensar essas 'cores' dos álbuns, vou pensar em escrever sobre isso mais tarde}

Ainda sobre lançamentos, eu também havia perdido o timing para curtir AmarElo. Eu amei a música na época que o clipe com a Pablo e a Majur (e eu nem teria como fugir porque, por uma semana, mais prescisamente em junho do ano passado, era só o que tocava na minha timeline), mas o disco inteiro só saiu em outubro/novembro daquele ano (o que parece, tipo, mil anos atrás...), desesperançoso ano de 2019. É claro que nem de longe imaginaríamos a desgraça do ano subsequente,  já era esperado uma piora alarmante no número de mortos, negros mortos, trans mortos... ou seja... 2020. Um ano que iniciou com expectativa de guerra nuclear e termina com milhões de mortos no mundo todo. Tudo naquela música era sobre esperar um futuro melhor que não chegou. Mas esperança é isso né, igual ao sol, igual ao Amarelo, ela não para, nem morre. O que é um certo alento.

Sobre AmarElo



Para um mundo em decomposição, Emicida optou por escrever como quem manda cartas de amor. O resultado desse exercício é o novo projeto de estúdio do rapper paulista, AmarElo, em que ele propõe um olhar sobre a grandeza da humanidade. Com o título inspirado em um poema de Paulo Leminski (amar é um elo | entre o azul | e o amarelo), o artista busca – ao longo das 11 faixas – reunir heranças, referências e particularidades encontradas na magnitude da música brasileira e aplicar a elas olhares e aprendizados que acumulou desde o lançamento da sua primeira (e clássica) mixtape Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida Até Que Eu Cheguei Longe (2009). Usando o rap como fio condutor, Emicida soma o clássico ao moderno em uma incursão que ele ousa chamar de neo-samba, também responsável por elevá-lo ao mesmo patamar dos grandes mestres. Produzido por Nave, AmarElo (volume 1) entra nas plataformas de música pela Laboratório Fantasma e com distribuição da Sony Music.

AmarElo traz em sua capa uma imagem feita pela fotógrafa e ativista Claudia Andujar. “Tem criança de 8 anos sendo baleada pelo Estado”, introduz Emicida. “Ter três crianças indígenas na capa, num período em que estão vendo a sua cultura e o seu modo de vida ameaçados, é colocá-las para encarar o Brasil dizendo: ‘sério mesmo? vai acontecer tudo de novo?”, explica. A outra inspiração foi a capa do disco Stakes is High, do grupo americano de rap De La Soul. O trabalho é tido, nos Estados Unidos, como uma fórmula anti-gangsta de se fazer rap. E AmarElo também tem muito disso. “O rap é compreendido por um estereótipo que é o mesmo dado às pessoas pretas, como a raiva e a pobreza. Muitas vezes, o discurso das músicas corroborou com isso. Por mais que a denúncia seja valiosa, ela achata a experiência e não faz justiça a tudo o que somos. Em AmarElo, a gente foge desse espectro previsível do que o rap pode ser”, finaliza Emicida.


O som é como o próprio comenta no doc, um neo-samba. Eu só entendo de música o suficiente para pegar algumas sonoridades, então vou restringir os comentários ao que eu sinto e principalmente à lírica, à poesia do álbum e a história contada com ele ; (Não que eu entenda de poesia muito mais...)

0. Silêncio 



1. Principia me lembra muito Jorge Ben Jor. 

(Tive um ex namorado que me ansinou a amar sambarock, tive uma era muito "Mombojózeira", ele cantava pra mim Quero esquecer você. E a música que começa o disco me lembra muito essa música.)

“Principia” inicia a narrativa do experimento social proposto pelo artista na perspectiva do amor e da fé. Uma maneira de abrir os caminhos para, em seguida, falar de coisas positivas. Regida pelo agogô, um dos instrumentos característicos do Candomblé, a faixa busca em sua sonoridade os caminhos da música sacra brasileira. “Ouvi muito gospel e tudo soava, obviamente, muito norte-americano. Quis encontrar uma forma de trazer aquela força bonita do gospel deles para um ambiente de terreiro, de pé descalço, de canto e de percussão”, diz o rapper sobre o processo de pesquisa. “Aqui, é como se negassem a música sacra do Brasil por ela ser preta”, pensa. Daí, surgem as participações especiais encarregadas por criar um ponto de contato via a espiritualidade de cada um. Além da cantora Fabiana Cozza (no refrão), Nina Oliveira, Indy Naíse e Marissol Mwaba agregam no coro, assim como as Pastoras da Comunidade do Rosário. Trata-se de mulheres sexagenárias da Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França (construída por descendentes africanos mantidos como escravos no século XVIII). “A importância das Pastoras no coro é por elas conferirem uma energia secular de uma espiritualidade que não se deixou corromper pelo tempo”, afirma Emicida. O diálogo é encerrado por uma palavra do Pastor Henrique Vieira.

É um luxo ter calma e a vida escalda/Tento ler almas pra além de pressão /.../De pé no chão, homem comum/Se a benção vem a mim, reparto/Invado cela, sala, quarto/Rodei o globo, hoje tô certo/De que todo mundo é um
Tudo, tudo, tudo que nós tem é nóiz. 

Viciante essa música, esse refrão. E fala também, de uma forma mais leve, do que ele vai capturar mais explicitamente em Eminência Parda. Ah, e a passagem que o Pastor Henrique Vieria declama, é linda, e extremamente simbólica, ainda mais agora.

 2. A Ordem Natural Das Coisas

Com vocais de MC Tha, “A Ordem Natural das Coisas” reflete sobre a serenidade como estratégia de sobrevivência. Tal calmaria é aquela vista nas camadas menos abastadas do país, em que um “simples” detalhe da rotina, como uma mãe lembrar o filho de levar o documento, faz com que a vida sempre vença. “Eu me divirto em criar rap com metáforas falando como a gente é foda, mas o que importa, de verdade, é encontrar coisas grandiosas na rotina e fazer com que todo mundo se sinta enorme pelas coisas que tem”, resume Emicida. 

Essa música dá uma vibe de reescutar Cotidiano de Seu Jorge. Ainda mais quando faz combo com a:

3. Pequenas Alegrias da Vida Adulta

Em seguida, “Pequenas Alegrias da Vida Adulta” dá um cavalo de pau na riquíssima cultura de crônicas do rap brasileiro e conta a história do super-herói que pega ônibus. O gênero sempre elaborou relatos a respeito da pobreza, da tristeza e dos muitos males. Essa canção surge, contudo, para evidenciar a importância de se ter sensibilidade para perceber as “pequenas” vitórias nos detalhes – seja em “uma boa promoção de fralda nessas drogarias” ou ao “encontrar uma tupperware que a tampa ainda encaixa”. De quebra, a canção traz Marcos Valle ao piano. “Quando vi ele gravando pensei: ‘caralho, Jay Z e Kanye West sampleam o Marcos Valle e a gente TEM o Marcos Valle”, diverte-se. No encerramento, uma esquete do humorista Thiago Ventura prepara o terreno para “Quem Tem um Amigo (Tem Tudo)”. 

Só quem sabe o drama da tampa de tupperware sabe. Leve, levíssimo.
4. Quem Tem um Amigo tem Tudo

A música em questão enaltece a beleza que é ter alguém com quem contar, além de ser uma homenagem ao sambista Wilson das Neves (1936 – 2017). “O Seu Wilson não usava WhatsApp, então ele me mandava as melodias em fita cassete pelo correio mesmo. Eu estava trabalhando em algo para nós dois gravarmos, porém ele partiu antes disso”, compartilha Emicida. A melodia virou a trilha dessa ode à amizade, que agrega Zeca Pagodinho, a dupla Os Prettos e o grupo japonês Tokyo Ska Paradise Orchestra.
Dá pra dizer que as primeiras quatro (ou cinco, se você contar o silêncio que antecede tudo) são respiros antes de mergulhar no que é o Brasil de 2019. É uma letra que pega mesmo, mas quando você sabe que ela é uma homenagem ao ídolo do Emicida, Wilson das Neves, e que ele não chegou a ver o álbum chegar, é sorrir com lágrimas nos olhos. 

5. Paisagem

“Paisagem” é um retrato de como é chocante, para além das mazelas, a apatia e a passividade com a qual as pessoas lidam com as tragédias diárias que ocorrem no país. A ideia é colocar a questão estrutural em evidência enquanto sociedade, o que resulta no verso “vendo os monstros que surgem com origem na fuligem do vale”. O rapper aponta para uma problemática mais complexa do que simplesmente a situação política do país. “O que gera esses monstros e faz com que eles cresçam é abismo social que temos entre um e outro”, explica. 

Ignore a radiação da brisa.
Esse é a música mais triste do disco pra mim. É de uma desolação, uma melancolia... é o resultado das eleições de 2018 tudo de novo. Pois hoje a gente vê o estrago, mas naquela hora, era antecipação pelo pior. Essa música remonta a minha depressão. "Como um pedido de calma. Embora esteja tudo desmoronando e ruim, por sorte apenas piore, é preciso relevar algumas coisas para ainda conseguir viver em paz."
É louco como adianta pouco, mas ore/Com sorte, talvez piore/Não se iluda, pois nada muda/Então só contemple as flores/.../Pra um pesadelo estéril até durou demais/Reconheça sério que o mal foi sagaz/Como um bom cemitério tudo está em paz
  • 6. Cananéia, Iguape e Ilha Comprida

“Cananéia, Iguape, Ilha Comprida” soa como o som do interior do coração e é a segunda música que Emicida compôs em um instrumento, no caso o piano. Um soulzão que fala sobre a relação claustrofóbica que temos com a cidade e a falta que faz pisar na terra e plantar o próprio alimento. 

Será que o Brown passa por isso? O Djonga? É um mergulho na paz interior do artista, depois de duas pauladas. É massa essa introdução. Fala bem sobre a necessidade do Rapper de se afastar do meio urbano e do que você conseguir pensar que tem lá. É a música mais íntima, sem dúvida.

7. 9inha

“9nha”, por sua vez, vem com a participação de Drik Barbosa. Uma espécie de love song bastante curioso que acena para a música “O Meu Guri”, de Chico Buarque, mas com fórmulas emicidísticas.

É louco como é excitante/Perigoso e excitante, tá ligado?/Deliciosamente arriscado/Um exagero/E traz o medo como tempero/É um tempero mágico/Mas o final é sempre trágico

“Novinha”. Todo mundo que ouve ela de uma forma pouco cuidadosa acha que é um relacionamento de dois adolescentes que estão se descobrindo, se amando, querendo ficar famoso, perdendo a virgindade juntos. Mas, na verdade, novinha trata de um moleque de 15, 16 anos, falando da relação dele com uma arma de fogo, de como a violência é sexualizada na nossa realidade… Vish, agora vai ter as pessoas que vão fazer [movimento de cabeça explodindo]. CÊ É LOUCO, CUZÃO.

Eu não posso dizer que eu fui esperta e saquei essa parada de cara, mas o jeito de escrever 9inha me deu uma noção de que eu não estava lendo o negócio direito. Achei engraçado que quando você pensa, 9inha também lembra como chamamos revolveres .38: três oitão. 


8. Ismália

“Ismália” teve como inspiração o poema de mesmo nome escrito pelo mineiro Alphonsus de Guimaraens (pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães). “Geralmente, a tônica dada a esse texto é a romântica, ou melhor, a loucura de amor. Eu enxergo de outra maneira, que é a metáfora do que é ser preto no Brasil”, explica o rapper. A voz da cantora Larissa Luz dá a força e a urgência necessária aos assuntos abordados na letra. O poema “Ismália” é lido por Fernanda Montenegro. “Colocar a nossa maior atriz viva para interpretar, dá outra profundidade a tudo aquilo que estamos dizendo”, define Emicida.


Se eu fosse frisar aqui tudo o que é importante nessa música... ia por ela inteira.
Començando pela intro da Larissa Luz. Mas vamos por partes e eu vou precisar de uma ajudinha dos universitários: 

"Na faixa, Emicida versa sobre como a vida dos negros ainda é limitada e muitas vezes tirada de uma forma tão covarde (como nos casos dos 5 jovens mortos com 111 tiros por policiais militares e do homem que foi executado com 80 tiros por militares do exército), numa situação de vulnerabilidade, fazendo um paralelo com o poema “Ismália”, onde a protagonista tem uma falsa ideia de que está próxima da elevação, contudo quando busca ir mais ainda ao alto, ela cai. Em entrevista para o UOL, Emicida definiu a faixa como ‘uma constatação frustrante’." 

[...]Tema no qual Emicida já se envolveu outras vezes (como no caso do terno de 15 mil que o MBL atacou Emicida), que é reforçado no começo da música onde “pretos até pra sonhar tem entrave”, e também já tratou em outras músicas:

Será que por isso o boy nem disfarça?
Parça, acha que eu vendo farinha?! – Todos os Olhos em Nós – Emicida ft. Karol Conká


Com um terno que custa a propina deles
Hashtag chora MBL

Minha pira é criança com cor de chocolate
A fazer selfie em iate - Selvagem – Emicida ft Dory de Oliveira, Souto MC, Evandro Fióti, Drik Barbosa & Stephanie

E até no clipe de Eminência Parda desse mesmo albúm. 

*Fonte: Genius 

Ela quis ser chamada de morena/Que isso camufla o abismo entre si e a humanidade plena é uma pedrada em mim. Um dia desses me deparei com um tweet que dizia algo como "vocês que palmitam, expliquem ao seus filhos brancos que eles são brancos." Bem, eu fui mãe aos 17, fui perguntar pra Anne com ela se via (ela é branca, mas a resposta dela me deixou sem chão): Ela me respondeu que era parda. Não era negra pra sofrer racismo, mas também não era branca porque não queria ser racista (ou se ver com parte desse grupo). Não tem a ver com este verso, mas eu olho ele e me lembro dessa conversa.

Essa música termina com Ismália declamada por Fernanda Montenegro, que conta a história do que eu primeiramente pensei ser um suicídio (não deixa de ser), o que combinaria com a mensagem do disco como um todo, mas se separamos essa música do contexto, ela se relaciona mais com a morte do Ícaro, da ascensão e queda do mundo branco. Deixando a poesia já simbólica, com novas camadas. 
(Pra quem já passou por uma onda de loucura e quase despencou três andares como eu, Ismália tem mais mil internalizações. Não pensei que eu fosse encontrar algo tão descritivo sobre o meu desespero naquela época de 2018.)

9. Eminência Parda
Essa é a que me lembra que estamos escutando um álbum de um artista do rap, vem com toda a raiva (no melhor sentido) particulares do gênero, e diferente de Paisagem ou Ismália, que também é denúncia, é menos depressiva e mais combativa mesmo. Sem sutilezas, com um fuck the police no meio. Foi a primeira música de trabalho, a qual vejo a razão nos versos "Igual cineasta eu busco a fresta, ofusco a festa/Mira a testa, eu mando o Kim Jong, masta/Eu decido se 'cês vão lidar com King ou se vão lidar com Kong/Em ouro tipo asteca, vim da vida seca/Tudo era o Saara, o Saara, o Saara/Abundância é a meta, tipo Meca/Sou Thomas Sankara, que encara e repara/Pique recém nascido, cercado de checa/Mescla de Vivara, Guevara, Lebara/Minha caneta tá fodendo com a história branca/E o mundo grita: "não para, não para, não para"/Então supera a tara velha nessa caravela/Sério para fela, escancara tela em perspectiva/Eu subo, quebro tudo e eles chama de concerto/Eu penso que de algum jeito trago a mão de Shiva/Isso é Deus falando através dos mano/Sou eu mirando e matando a Klu/Só quem driblou a morte pela Norte saca/Que nunca foi sorte, sempre foi Exu" tornam a mensagem meio torta, parece misteriosa, mas, sabendo que hoje eu entro no Omelete, por exemplo (ah, e que devia ter sido o Load a fazer a crítica, Hessel!), e ver na caixa dos comentários os caras mirando tanto na questão do Emicida estar numa ascensão econômica meteórica (e que bom!), que se esquecem que essa sempre foi a ideia. Parece uma resposta pronta a essas críticas também, quando você precisa escutar essas merd*s na internet o que se pode fazer. Ao citar Exú, o Emicida não deixa de afrontar ainda mais, e eu explico isso mais pra frente.

Ah, mas tem uma frase que se perde por alí que também é importante para a história, principalmente sobre a próxima a ser cantada: Mas preto não chora, mano, levanta (levanta). 
(Levanta e anda é uma música anterior que dá uma ideia de como era a visão do Emicida sobre sentimentos de desistência. A depressão. Amarelo, próxima música, parece um bom ponto de evolução sobre o assunto saúde mental.)

10. Amarelo

A letra que já era forte com Belchior, cantada por quem mais sente cada palavra já era por si só um marco. Emicida diz no doc, que veio a sugestão do universo durante o SPFW, uma das modelos trans cantou-a a plenos pulmões. E esse sentimento de 'sobreviverei' é sentido com força nessa música. Entre versos, as afirmações: 
(Eu preciso cuidar de mim)/[...]/O abutre ronda, ansioso pela queda (Sem sorte)/[...]/Sem melodrama, busco grana, isso é hosana em curso/[...]/Só eu e Deus sabe o que é num ter nada, ser expulso/Ponho linhas no mundo, mas já quis pôr no pulso/Sem o torro, nossa vida não vale a de um cachorro, triste/"Hoje Cedo" não era um hit, era um pedido de socorro

(Eu fico perplexa quando eu lembro que eu ouvi à exaustão "Hoje Cedo" e na parte do E é aqui onde nóis entende a Amy Winehouse já dava pra sentir essa frequência opressiva e depressiva. Talvez porque eu era fã na época que ela ainda estava viva, eu tenha sentido mais essa linha.)


Além dos vocais incríveis, a mensagem: 

Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Elas são coadjuvantes
Não, melhor, figurantes que nem devia tá aqui
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Tanta dor rouba nossa voz, sabe o que resta de nós?
Alvos passeando por aí
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Se isso é sobre vivência, me resumir à sobrevivência
É roubar o pouco de bom que eu vivi
Por fim, permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Achar que essas mazelas me definem é o pior dos crimes
É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóiz sumir

11. Libre

A música que melhor grudou na minha cabeça. Batida e refrão repetitivo chiclete, podia ser lido com um música alegre e pra cima, mas termina o disco com outra pancada. Quando Emicida canta (e essa foi a parte que mais martela):
 É o tênis foda (Foda)
Uma pá de joia foda (Foda)
Reluz na coisa toda (Toda)
Do jeito que incomoda (Hmm)

A trinca que encerra AmarElo é composta pelos singles que foram lançados previamente. “Eminência Parda” (com Dona Onete, Jé Santiago e Papillon), a faixa-título “AmarElo” (com Pabllo Vittar e Majur; e sample de “Sujeito de Sorte”, de Belchior) e “Libre” (com o duo franco-cubano Ibeyi) foram responsáveis por preparar o terreno e exemplificar o experimento social proposto por Emicida no sucessor de Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa… (2015). Nessas faixas, o artista se preocupa, respectivamente, em: evidenciar de onde emana o poder verdadeiro; incentivar que as pessoas observem ao redor e se enxerguem maiores do que os seus problemas; e gritar pelo direito de poder viver, resistir e amar da sua forma.

*Fonte www.labfantasma.com/amarelo/


Sobre É tudo pra ontem.

Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje.” O ditado iorubá foi escolhido por Emicida para abrir e encerrar o documentário AmarElo — É Tudo pra Ontem.


Exu e a sua simbologia:

Exu é, sobretudo, o Orixá que estabelece a ponte entre os homens e as outras divindades iorubás.

Exu, em Iorubá (Èsù), é uma derivação do verbo “sù”, significando aquele que acrescenta, agrupa e soma. Em outras palavras, ele une os diferentes em um só corpo. Dessa maneira, Exu também é associado à forma esférica da ori (cabeça), pois, segundo a cosmovisão Iorubá, a cabeça também é o lugar que coordena as diferentes partes do corpo em uma só vontade. Como diz um antigo canto Iorubá: “É com a nossa cabeça que tomamos direção”. Vale dizer que a importância atribuída à cabeça, entre os Iorubás, também reflete nas esculturas, pois esta parte do corpo sempre recebe mais atenção por parte do artesão. 

Exu seria aquele orixá das incertezas e das surpresas da vida – 

Fonte: Arte para Exu.

 E é no documentário que Exú e Emicida se encontram em 2020. De todas as surpresas, quem diria que chegaríamos vivos até aqui?!

Eu vou continuar essa reflexão num próximo post. Ainda nem comecei a arranhar a mensagem do doc.

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