Mães, bailarinas e issues

Estava pensando em como começar um diálogo saudável sobre isso mas não vai rolar.
Não somos saudáveis. Não há como pedir saúde mental sobre esse assunto.

Vamos falar de mommy issues.

Acontece que acabei de voltar de uma temporada na casa da minha mãe, pra poder visitar o namorado que mora na mesma cidade, e foi um revival de vários problemas mal resolvidos.
Não só mal resolvidos. Impossíveis de resolver. Não tem como voltar no tempo. Como se consegue curar feridas que não dá pra desfazer? Já foi, não tinha como ter sido diferente. E se tivesse, isso só deixaria tudo mais triste.

Apesar de que eu gostaria muito de ficar discorrendo sobre a minha relação com a minha mãe (de novo), eu preciso me debruçar sobre outra coisa, parecida, mas diferente. Ontem foi a eliminação do quarto lugar do BBB 24. A Alane saiu, e embora eu não curtisse ela, votei pra que ela ficasse. Não deu, e ela foi eliminada. Até então, beleza. Eu tinha até colocado a tv no mudo, já me preparando pra desligar a TV, só que eis que acontece isso:

 Eu fiquei em choque. E a internet toda, foi algo que esperávamos da Bia do Brás, muito mais do que da Alane. Mas ela já vinha dando sinais de algo mais profundo estava cozinhando a cabeça dela já fazia tempos. Quando ficou cada vez menos gente e dava pra escutar mais o que cada um dizia, as pessoas começaram a questionar as falas da Alane, principalmente sobre como ela se sentia com relação ao que se poderia pensar dela aqui fora. E óbvio, a pessoa que esteve com ela durante toda a sua vida era sua preocupação maior. A mãe da Alane esteve sempre com ela durante o seu confinamento. A voz dela estava lá na cabeça da Alane e ela respondia a essas vozes em alguns momentos. E dava pra gente ouvir. E ver. O medo de decepcionar a mãe, de envergonhá-la... E olha... sim, em alguns momentos ela pode ter sentido isso porque realmente estava sentindo vergonha, mas é normal você ter alguém como personificação da sua vergonha? A voz de alguém que você ama, e que te ama, falando as coisas mais cruéis que alguém pode te dizer (porque ninguém vai ser mais cruel com você do que você mesmo)?

E aí tem o julgamento da internet... pessoas preocupadas de verdade ou sendo excessivamente maldosas... ou pessoas como eu, que de algum modo se identificaram com a situação da Alane.

E isso não é assustador?

Em algum momento dessa semana passada, eu não conseguia dormir pensando no que ela poderia estar pensando. Isso não parece normal. E em outro momento eu precisei falar sobre a minha relação com a minha mãe e, sim, eu tentei minimizar o efeito que algumas situações me causam. Porque no final do dia, eu sei que eu não sou uma boa filha. Eu fui um tempo, depois não fui mais. E agora eu tento ser, mais por culpa.

Eu não cheguei a escrever sobre como foi a mudança aqui neste blog. Isso dificulta até a saber como foi que se deu essa troca de paradigma. Mas aconteceu em algum momento depois que eu adoeci. E entre muitos altos e baixos, o aniversário do ano passado foi meio que um marco importante.

Cheguei aos 30, né. Deveria parar de me sentir tão criança. Uma eterna adolescente. Me questionei se era assim que alguém com a minha idade deveria se sentir. E a verdade é que não existe certo e errado, mas quando eu me comparo com outras pessoas existe sim o mais desejável. E quando eu me comparo com a minha mãe, o peso desse questionamento chega a toneladas.

Não que eu gostaria de ter a vida que ela teve. Eu sempre fui muito crítica das escolhas que ela fez. E isso me fez uma adolescente chata e malvada com a minha mãe em diversos momentos, mas era uma troca. Ela dizia que eu não merecia ter amigos, eu rebatia dizendo que ela não tinha nenhum (e não tinha mesmo, ela vivia para a casa... e pra "família"). Essas coisas delicadas e amorosas que você fala pra seu pior inimigo.

Não dá pra enumerar as coisas mais cruéis que a gente já falou uma pra outra, e ainda piores que a gente já falou uma da outra para terceiros.

Em comparação com meu pai, que sempre foi o conciliador de nós duas, mas o qual sempre foi mais brando comigo e, consequentemente, eu com ele, nem as surras que eventualmente tomei dele chegam perto do quanto as palavras dela me machucaram. E nem só as palavras. Às vezes o silêncio era ainda pior.

Minha mãe sempre fala muito. É até uma crítica que ela faz a si mesma, ela não se segura. Ela pensa e mal consegue pensar se devia falar ou não, as palavras já estão saindo pela sua boca. A língua é o chicote da alma e essas paradas...

Mas ela fica incrivelmente quieta em alguns momentos. E é nesses momentos que a culpa pesa mais. É o olhar desaprovador. Não dá nem pra chamar de decepção, porque pra se decepcionar por alguém precisa-se ter esperança por essa pessoa. É desencanto. Descontentamento. Desgosto. Às vezes dá vontade de dizer logo, FALA. Fala logo o que você realmente pensa de mim e vamos seguir a vida. But is not that easy. 


Enfim, voltando à mãe da Alane. Várias coisas a se observar. Embora eu considere que sair tentando identificar o CID da galera é uma prática online desprezível, não dá pra ignorar também o que se mostra na nossa cara.

Falando nisso, o que as suas redes sociais mostram sobre você, já se perguntou isso? Será que você parece uma mãe narcisista frustrada colocando pressão que sua filha seja perfeita já que sua vida como bailarina fracassada só te faz almejar níveis cada vez mais altos de virtude e ela como um pedaço de você teria que conquistar ainda mais.

É isso que a internet está cobrando da mãe da Alane. É meio injusto pois não é porque algo repetido à exaustão se torne real, mas é provável que a verdade seja uma só. 

A mãe não é uma vilã de novela. 


As pessoas tem várias complexidades, mas a realidade não muda por conta de interpretação. Não muda por conta da maldade das outras pessoas. Não muda por consequências de paredões. E a realidade é que vimos a Alane tendo uma crise nervosa e não dá pra descartar o que ela disse ao vivo em rede nacional.


Esquece um pouco o fato das duas serem bailarinas e isso ser muito parecido com o filme Cisne Negro.

O fato é que pessoas que tem relações tão próximas podem sim se machucar. E se você for suscetível a pressões e padrões de comportamento que tem impõem pra poderem te amar desde muito criança e bem provável que, sem cuidado e tratamento psicológico, pode vir a ser um adulto cheio de neuras.

No meu caso, até com muito tratamento e sendo uma pessoa muito do contra, ainda sinto muito por não ter sido a filha perfeita. E eu tento não fazer isso com a minha própria filha, mas é bem difícil.



Como eu vi um comentário esses dias. Você jura que vai ser a geração que vai cortar os ciclos viciosos da sua família mas chega numa idade que repete os mesmos erros, mesmo sem querer. Às vezes a mãe da Alane nem cobra tanto dela, cobra de si mesma, e isso é um traço que é passado pra filha sem nem perceber. Mas isso muda o resultado da equação?

"A melhor coisa que qualquer pessoa pode fazer pela sua saúde mental é romper simbolicamente com os pais. Se permitir frustrar os pais é liberdade e autonomia." - tweet aleatório

É uma pena que eu tenha me permitido tanto romper com os meus pais que acabei rompendo até a minha psiquê. 

Vou pensar se me aprofundo nessa questão em outro texto ou não. 

Bem, boa sorte pra Alane e a mãe dela. 

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