Voltei, Recife...

 Não foi a saudade que me trouxe pelo braço.



Eu não sei qual foi o momento que eu decidi que devia parar de escrever. Parece até que existiam duas de mim e eu fico tentando decifrar o que essa outra eu estava passando, e meio que era isso mesmo.

Passando pelas últimas postagens, eu só consigo imaginar o que estava passando na minha cabeça. E eu resisti, heim... tentei até bastante pro nível de dissociação que eu estava. Antes da pandemia eu não conseguia me reconhecer mais no espelho. Depois da pandemia eu não conseguia identificar o que significava ser um "eu". 

O que é dissociação?


Ilustração de pessoa dissociada pra caramba

Bem, pra atualizar a vida, podemos começar a contar como foi me reencontrar em mim.
Ano passado, minha mãe nos levou pra uma viagem.
Foi um caos. 
19 de agosto de 2023.
Um fim de semana num hotel fazenda incrível. Muito legal mesmo. Foi até depois do filme da Barbie, eu estava viciada na trilha sonora do filme e a música da Billie Eilish... Eu tinha acabado de conhecer o brechó da Vic... (mainha fala que, depois de começar a frequentar a boutique aqui perto de casa, a minha vida mudou. depois eu posso voltar nesse assunto, mas ela realmente credita a nossa amiga/vendedora mais querida e agradece ela sempre).
Mas voltando àquela viagem... foi realmente um divisor de águas. Aconteceu que eu percebi finalmente o quanto eu não estava me vendo.
Um momento específico foi um vídeo, estávamos gravando o ambiente do restaurante e eu me vi. De costas. Eu passei despretensiosamente. E depois de anos eu me vi, e eu estava horrorosa.
 Eu voltei ao meu corpo e vi que eu perdi anos da minha vida, que eu tinha deixado meu cabelo crescer sem nunca nem olhar pra ele, que eu engordei desproporcionalmente, não só isso, eu estava sem perspectiva, desistindo de tudo que eu me propus a fazer, trabalhar ou estudar nos últimos anos, como eu não tinha coragem de sair na rua de tanta vergonha. Eu estava pior. Em tudo.

E aí junta o fato de que naquele momento, eu estava de aviso prévio até da única coisa que eu nunca vou deixar de ser, mas que foi o "trabalho" que me segurou nesse mundo. Ser mãe me segurou pelo pé em muitos momentos quando eu não tive nada além da minha filha que me fizesse querer estar viva. Diferente dos pensamentos suicidas da minha adolescência, era importante pensar nas pessoas que eu deixaria para trás. Quem ficaria triste. E eu sei que ela ficaria muito e eu nunca quis desistir de Anne. Porque ela merece, mesmo uma mãe como eu, devo isso a ela. Estar aqui. Estar pra ela.
 E eu tentei estar. No melhor e no pior. O que mudou foi o fato de que Anne não ia precisar tanto de mim, já que ela estava se mudando. Para um lugar a seis horas de viagem de casa.
 Ela estava indo morar com o pai e não sei, tive tempo pra pensar sobre isso nos seis meses antecedentes, e ela teve tempo também para me chamar pra realidade.
A menina estava preocupada comigo porque eu ia ficar sozinha... me chamou de encalhada, estava tentando me arrumar um namorado... 

Enfim....... chego já nesse detalhe.

Mas voltando pra minha auto estima, essa foi complicada de recuperar. Começou com o lance do cabelo, que resolveu implodir depois da viagem. Ainda mais porque choveu metade do tempo naquele fim de semana, tivemos muito tempo fotografando uma à outra, ou seja, foi trágico pra minha auto imagem ficar encarando as fotos daquele fim de semana.
Até hoje, que eu fiz novas fotos em uma segunda visita ao hotel, pretendendo fazer um antes e depois, não consegui fazer o que planejei por não conseguir encarar, muito menos postaria as fotos.
Num olhar rápido, nem mudei tanto assim. O cabelo está mais saudável e consequentemente mais longo, mas foram semanas, meses, desesperada testando cremes e mais tratamentos para recuperar a saúde dele. Uma grana absurda também. Tempo aprendendo a cuidar... E mais tempo ainda gasto cuidando.
E o peso... bem, sim, diminuiu bastante. Fui de quase 70 pra 56, no momento, mas em algumas fotos nem pareço tão diferente.
Mas algo mudou.
EU mudei. Recuperei a vontade de me recuperar. Não quem eu fui, pois eu já não era mais nada e não daria para voltar ao nada, ou pior, àquele fundo do poço que eu me encontrava, mas à um ideal do que nem sabia que desejava ser.

Naquele tempo, agosto mesmo, quando eu estava voltando ao meu corpo, eu entrei no tinder.
Também despretensiosamente. Falei que Anne queria muito me arrumar um namorado, então, ela mesma me ajudava a conhecer alguns. Me incentivando, no caso.
Dava pitaco se achava que eu iria me dar bem com um ou outro que eu mostrasse. Mas era mais um passatempo. E alguns momentos, até uma certeza de que eu não conseguia me relacionar com mais ninguém.

Ah, eu finalmente, depois de sete anos, não pensava mais no coração quebrado que eu cultivei. Mas estava meio oco aqui por dentro. Veja bem, 2015. E desde então, várias águas rolaram, mas o nome dele ainda me deixava com o peito doendo. Finalmente a dor que parecia infinita, parou de doer.
Curada. Pelo menos dessa dor.

 Falei com muita gente estranha. Alguns me mandaram fotos não solicitadas, outros pediram fotos, que eu ignorei. Mas um não. E em um dia qualquer, onde Anne estava bem animada com a mudança e eu estava me sentindo meio solitária, comecei a falar com esse carinha. E meio que rolou. 
Amanhã a gente faz dois meses de namoro.

Uma conjunção de fatores, e eu estou de volta em casa. Fiquei uma semana com ele. E apesar de alguns contratempos, foi super divertido, e me deu vontade de escrever finalmente. Relembrar, do jeito mais primordial da minha personalidade, a estrada até aqui.
 
E sim, agradeço muito à Vic também, porque eu não teria minha vida de volta sem meu corpo. Meu rosto, meu cabelo, meu cérebro. E eu não seria isso tudo sem minhas roupas, meus sapatos, minha auto estima. Nem me permitiria amar de novo.
E comecei a chorar. Porque faz anos que eu não escrevo nada assim. Tão satisfeita.
Anos e anos sem saber o que é isso. É importante lembrar. E pra me lembrar, eu preciso escrever.

Comentários

Postagens mais visitadas

Facebook