Carnaval das Massas | LiterArte


Ei, é carnaval! Todas as hipocrisias deveriam desaparecer nesses sete dias de folia.
Vamos esquecer que quem se fantasia de alguma cultura ou etnia, principalmente as minorias,
vai fazer "homenagem" a elas mas no resto do ano, desdenha e humilha das mesmas.
Vamos esquecer que adoramos achincalhar e falar de viados e travestis o ano todo;
de chamá-los de promíscuos e de safados, e de tirar onda dos trejeitos e das maquiagens 
Vamos fazer uma "homenagem", e curtir com todo o bom humor e nosso desejo secreto
e pintarmos nossas unhas, dar gritinhos e nos agarrarmos com quem quisermos.

Pois nós podemos, e
Ah... É carnaval;
Vamos vestir o cocar, as saias de palha e dançar;
Dança pra chuva vir nos molhar nesse calor.
Espera ela vir e fazer a roupa colar.
Ninguém vai dar batida em mim, com no meu loló
Olha a minha cor
Isso é coisa de escamoso
e a minha escama brilhosa é branca
Na minha fantasia é Ariel e não Iara
Quero ser princesa Disney, não folclore brasa
Ninguém nos para nesses dias do expurgo
O ano inteiro no ar-condicionado
Não faz mal sete dias de mormaço

Mais tarde voltamos a rir, mas nos deparamos com quem nos esfrega na cara o erro
Passou na TV que o motivo dos meus protestos foi por um vampiro no cargo
de representante da minha classe é um embargo, um ser nefasto
Mas foda-se odeio esse pretos do sambódramos
podem rir dos patos pois no final vocês que são os explorados
"o meu dinheiro vai pra vocês, seus palhaços"
E pobre não deveria entrar nem em festa paga
"Vocês querem trazer o socialismo, o comunismo"
entrega teu celular, pro bandido e vive seu capitalismo
De ano em ano a gente se esbarra e se esmurra nas ladeiras
Com o meu cocar eu amo umas índias
Só não as quero na minha vida 
nem no meu noticiário todo dia
Não tinha o que vestir, só tinha essa fantasia de apropriação
O que eu posso fazer se faz parte da cultura a enviesação do padrão
agora tudo é problematização, na minha época era só diversão

Contanto que tenha os amassos que mal tem um gato no amasso?
Eu tô falando de você, você mesmo, esquerdomacho
Diz que bissexualidade não existe mas está lá dando uma de viado
Beija um boy mas só de onda
É flex, é libertinagem
Nos outros meses é safadagem
Que besteira de direitos pra bicha
Tem que fazer como nós, e esperar fevereiro pra soltar a franga
Nos dias normais hipocritas, zoamos dos tangas
E acreditamos piamente na não-viadagem dos sarros nas ladeiras

Ah, deixa isso pra lá, é carnaval!
A gente se veste de tudo o que não suporta 
De travesti, de pobre, cigana e nativa
Mulata então, a gente ama nessa estação
O resto do ano é que não
Pra não virar bagunça e esse povo achar que é padrão
ter direitos como os nossos e a gente ter que pagar pensão
Deus me livre dizer que nós não somos iguais e pagar de intolerante
Mas que somos, não somos não
A vida nos levou pra outros lugares
Eu vivi estudando e cheguei até aqui
com dinheiro de papai, e nada pra me fazer desistir
Consegui tudo o que eu queria por que não fazem o mesmo?
Vejo vocês aí mamando só nas tetas do governo
Na minha empresa esses vagabundos não entram
Nem no meu prédio, o seu lugar é lá nos fundos
Elevadores pra vocês é lá atrás, mas dá pra subir, não dá?!
Olha como somos acessíveis
Ah, mas deixa esse papo de acessibilidade pra lá.
É carnaval!
Vamos curtir o Circo
Deixa esses fodidos curtirem as migalhas do pão
É carnaval!
Depois a gente põe a culpa neles que não se juntam pra lutar por melhores condições.
É carnaval.
E quando se juntam são uns vagabundos desocupados quebradores de vidros.

Que nem a gente no carnaval.



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