Alerta de gatilhos

Esse tem sido um janeiro bem estranho. 

Janeiro já é um mês complicado pela natureza. Assim como o fim do ano pode me trazer diversos processos depressivos (seja pelos temas e abordagens natalinas, ou porque é o fim de um ciclo e eu preciso rever o que eu fiz e deixei de fazer dentro de um ano inteiro), janeiro normalmente vem com uma carga de ansiedade triplicada; eu normalmente tenho que refazer meus planos, recalcular as rotas da minha vida e tentar me organizar em trinta dias, antes que fevereiro comece e a rotina embole um dia no outro.

Esse janeiro já foi bem diferente e atípico que todos os outros. Esse eu não senti que estou de férias, é o primeiro que eu passo consciente de que não há nada que eu precise fazer durante que eu não possa fazer depois. Por um lado é ótimo, por outro é uma quebra de paradigmas. Eu não tenho mais aulas. Também estou sem noção e perspectiva de quando vou poder sair, viajar ou me dedicar a qualquer coisa por conta da pandemia.

Três coisas eu esperava para esse começo de ano: 

1. A queda de Trump.

2. WandaVision

3. O BBB21

OK, não era só isso que eu estava ansiosa que acontecesse. Mas dentre as coisas pessoais que eu não tenho tanto controle, esses três pilares estavam fixos: iriam acontecer independente de mim. Independente se eu acompanhasse ou não. E isso é reconfortante. São as certezas, as pequenas alegrias da vida que me fazem mais tranquila;

O que foi a minha surpresa quando todas elas, meus pontos de equilíbrio nesse começo de mês começaram a me entregar altos gatilhos nervosos.

É preciso reconhecer que eu já estava sensibilizada. Não havia terminado o ano bem. Estava já bem estressada, e como eu imaginei e sabia, a pandemia não acabou quando 2020 acabou. Mas 2020 não foi só um ano infernal por conta disso não é mesmo? Foi o ano em que eu precisei me fechar e evitar ver TV, entrar em redes sociais e me isolar até de conversas presenciais com pessoas aqui de casa. Tudo isso por conta do vírus?! Não. Por causa de um monte de nazistas e racistas nos EUA.

Não se engane, o movimento BLM foi a melhor coisa do ano passado mas também a pior para a minha saúde mental. Separou o joio do trigo, sabe como é? Você sabe quem te ajuda e quem não. E isso dói quando nem todos apoiam uma causa tão universal e necessária assim. É morte de pessoas, sabe?! Genocídio ativo. Não é menos universal do que o Bolsonaro ser o pior presidente a lidar com uma pandemia. É... caralho. *respiro fundo*

Tá, mas o que isso tem a ver com janeiro?

TUDO. Porque o captólio nos EUA foi invadido por supremacistas brancos. É a mesma galera que eu vi nas redes sociais levantando bandeira de VIDASPOLICIAISIMPORTAM. Então eu ri, eu ri muito quando eles descobriram que policiais deviam fazer o mesmo que fazem com pretos, mas com eles. Eu só não ri mais porque isso não aconteceu na proporção que deveria. Eu ri contidamente porque vi também policial negro sendo acuado. Eu fiquei puta porque ninguém fez nada pra impedir uns lunáticos de tanga e fantasia de búfalo fazerem o que quiserem quando pessoas protestando pelo direito de viver são presas e espancadas. É isso. Eu tive raiva. E indignação. Era como 2020 de novo. 


Ou pior: Era como 2013 de novo ou 2015, de novo. 

Por que eu sei a energia que esses mesmos eleitores de Trump sentiram. Eu já me senti dessa maneira também. Marchei pelo que eu achava ser justo. Fui nas ruas pelo direito de protestar! 

E olha onde chegamos, não é mesmo?! Como eu me arrependo.

Mas a vacina chegou! Atrasada, masss... Pelo menos isso. E eu vou cortar o inferno de acompanhar as não tentativas do desgoverno. Esse até pra cansar o espírito já saturou.

WandaVision veio para meu alento depois de um aniversário de Anne. Estou amando, mas não deixa de ser uma mini agonia não ter ideia do que acontece com a Wanda. Ela parece decidida a fugir da realidade e eu entendo muito ela.

E esse minigatilho de insanidade me levou a um ainda maior: O BBB21 está sugando a minha energia vital e saúde mental até o talo. E não faz nem 10 dias que começou. Eu lembro a última vez que um BBB me deu gatilhos tão fortes assim. Foi no da Emilly e Marcos Harter, até escrevi sobre eles. E olha que eu acompanhei apenas mini relatos do que estava acontecendo. Na época eu não era tão ativa no twitter *leia-se viciada*.

Fora a decepção com pessoas que eu já adorava e que putz, me fizeram me arrepender de ter ido na parada gay de 2017 vê-la. *Karalho comK* Me deparo com a situação do Lucas Koka Penteado. 

Não vou ser hipócrita e dizer que nunca faria o que eles (19 /20 participantes da casa) fizeram. Eu também sou de me afastar, eu também gosto de manter meu espaço pessoal e o que o Lucas fez foi chato, e a pior coisa foi ter conseguido desestabilizar todo mundo. Não foi culpa dele. Ele estava assim e isso tocou em várias pessoas já sensibilizadas de forma que não foi legal. 


Mas o que veio depois... Isso foi desumano. 

Em diversos níveis. Foi uma coisa atrás da outra. Gritos, dedo na cara, ensaio de agressão física, piadas de cunho religioso, ofensas, acusações de abuso incoerentes com o que aconteceu... e isso só lá dentro. Aqui fora eu vi de insinuação de vício em drogas à coisa pior. Isso foi desumanizador em várias instâncias. Chegou uma hora que eu quis que ele pedisse pra sair e ganhasse o um milhão dele só de indenização. Ele foi demonizado, lá dentro e fora (inclusive, acessoria largando de mão e se insentando), e pelo público. Inclusive, rolando acusações ainda mais graves que eu só consigo ver como oportunismo. Não vejo essa maldade nele. Mas vejo maldade em quem vê um corpo negro e diz que ele é abusivo só por vê-lo; achá-lo violento pelo andar, pelo jeito de se expressar... por essas coisas eu digo: é racismo sim. 

Fora o tanto de comentário psicofóbico mesmo com a noção de que pode ter sido intermpretado como um surto potencializado por bebida. 

Eu me vi no Lucas. EU ME VI ALI, porque em algum momento eu tive um comportamento 'errático'. E era causado por uma depressão. Uma tristeza e um estresse e uma privação de sono que eu também identifiquei nele nos dias anteriores. E eu senti quando a euforia de ter sorte e ganhar tomou conta dele, e o desejo de fazer uma coisa grande tomou conta dele. E a frustração de ninguém entender o que ele quis dizer. De ninguém estar disposto a dar a mão pra quem eles acham "louco". E é difícil dizer que eu já passei por algo assim. Já fui essa energia caótica que pensa estar falando uma coisa e as pessoas estarem entendendo outra. Que estou numa emoção que não cabe em mim, que envolve uma tristeza profunda e uma alegria momentânea. E uma espécie de revolta. E eu sei porque ele fala tanto em revolução porque eu já me senti assim. O que tinha dentro de mim era uma vontade de mudar as coisas. De impactar a minha vida positivamente e a dos outros por consequência. E passar por isso e no dia seguinte não entender por que eu estar sendo tratada diferente, não entender o que eu fiz de tão errado pra que as pessoas me tratassem de modo a me isolar. Me afastar porque tem medo de você. Já sentiu isso? 

Então, é; eu sentei a mão no botão do gatilho. Eu nem me apeguei ao drama da Julliete, coitada. A xenofobia que ela está sofrendo tem pouco a ver com o lugar de onde ela veio, na minha opinião, mas ela não merece isso de qualquer forma. Aí fico eu, engolindo esses nervosos por pessoas que nem conheço. Fico estressada. Fico puta.

E volto pra WandaVision e tento me afundar em algo leve, e não é mais leve. Ela perdeu tudo, como ela vai conseguir seu final feliz?

Quando eu terei um pilar que não me deixe completamente sensibilizada?

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