Pedro Páramo e Desonra

Comecei a leva a sério o meu talento para escrita no ano passado. 

Há algum tempo eu vinha continuando a fanfic de uma garota (que ficou muito furiosa comigo por conta disso, e foi mal, mas a sua história merecia um fim), mas eu realmente quis aprofundar a questão me pondo num curso de escrita criativa. 

(Oi Jane, a virgem! -depois eu falo como foi a experiência e de como a série me ajudou a dar esse passo. mas segue...)

Nesse curso a cada mês leríamos um livro e nos aprofundaríamos em como ele foi construído, a forma, a linguagem, as quebras... estudo aprofundado mesmo. Só que aí eu me deparo com livros que eu nunca leria em situação comum. E dois deles são os que eu irei comentar agora.

Eu poderia muito bem fazer uma análise separada e um review comum, mas esse não é o caso por conta do que eu senti. Isso aqui não sou eu fazendo crítica literária, sou eu falando sobre duas obras de arte e como elas me fizeram ver o mundo de um jeito mais complexo.

Começando pelo começo. 

Iniciei a leitura de Pedro Páramo assim que encontrei o livro pra baixar, e achei tudo muito lento. Pior, muito confuso de entender. Sabe a sensação que dá na primeira temporada de DARK? É bem parecida ao que eu senti lendo. Demorei horrores para terminar (mais de um mês, para um livro tão pequeno) pois desde a primeira passada de olhos nas primeiras páginas, até engrenar e manter um ritmo de leitura em um livro que não existe capítulos... foi torturante. Eu não sabia onde parar, respirar e voltar a ler depois. Depois de um tempo você começa a entender que tem algo estranho e macabro com a história, e ela funciona muito como um conto muito longo de terror. Até ali, eu estava tentando enxergar qual era a do curso em mandar um livro desses logo de cara. Confundir a cabeça da galera? Dizer que todo romance é possível? Que é um gênero de muita liberdade criativa? Tudo isso eu aprendi. Pedro Páramo é um livro que destoa demais de qualquer outro, até porque, foi o único romance do autor, que era fotógrafo. Lendo a história de Juan Rulfo e como ele descreve escrever um livro, você entende muito do que é ensinado por ele. Mas o que pegou mesmo em mim não foi o como, e sim o que estava sendo contado. Eu não vou explicar ou tentar elucidar aqui o conto inteiro, só atente no que eu direi sobre os homens dessa ficção.

Existe o filho perdido, que nos representa como ignorantes sobre a história, e os verdadeiros protagonistas são o homem que dá nome ao livro, e a sua cidade. Sim, sua cidade, pois ela inteira lhe pertence, de um jeito ou de outro. E é horrível ver a experiência do coronelismo e suas consequências fora de âmbito teórico ou político. E é delas a história deste romance. São as pessoas que Pedro Páramo fez sofrer, são as almas que ele amaldiçoou a vagar, unicamente porque ele podia. É de embrulhar o estomago ver o tanto de estupros tratados com tanta naturalidade na narrativa. E isso deixa com um gosto horrível ainda mais porque não há catarse para os malfeitores. Não do jeito certo; não há vingança. Só horror.

E aí eu passo rapidamente para o próximo livro tentando me livrar desse sentimento ruim e leio Desonra. DESONRA. O pior livro pra quem quer se distrair da história da literatura. É literalmente um estupro atrás do outro, tendo que acompanhar a história pelo ponto de vista de um dos tantos agressores. É péssimo ainda mais quando você descobre o contexto racial, já do meio para o fim do livro, que deixa tudo mais nojento e até agora estou com ódio do Coetzee e preocupada que um livro tão premiado seja uma propaganda tão triste acerca das consequências do Apartheid na África do Sul, ainda mais escrita por um branco.

É horrível, nojento, e ainda assim, um ótimo livro. Li tudo em dois dias. Escrita fluida, concisa e direta. É sim um achado no meio de tantos livros, mas ainda assim deixa você se sentindo pior do que um dia foi antes.

Após essas duas experiências, decidi que eu não estava pronta para um clube do livro. O próximo era para ser Otelo, que eu nunca li, mas sabia que era outro exemplo de tragédia, e eu só queria me sentir segura num mundo de homens novamente.

Não consegui terminar o curso. Levei sim, bons ensinamentos, mas sendo uma pessoa feliz. De que diabos valeria um vasto conhecimento de literatura sem o mínimo de felicidade e sanidade?! Eu me pergunto isso todos os dias.





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