Killing Stalking | Mangá/Manhwa

Meu Senhor, coreanos dominarão o mundo inteiro em breve.

Calma com a dor que hoje é dia de falar de uma puta WebToon/Manhwa que está me matando lentamente desde que eu a descobri duas semanas atrás. Estava lá eu, procurando distração numa sexta ou sábado qualquer, e me deparo no site Union Mangá, que eu quase nunca olho, mas estava meio cansada de ler séries em inglês. Foi certinho, assim que eu passei o olho e vi a capa que não tem nada além de um nome escrito a sangue, eu cliquei, e me deparei com a maior tortura mental do qual eu já passei lendo algo de entretenimento.

Estou falando de Killing Stalking.

E fala sobre... um stalker e um assassino psicopata. E sua (quase) história de amor(?!).
Juro, fazia tempo que uma obra não tinha me impactado tanto quanto essa história; desde Monster, o filme da Patty Jenkins com a Charlize Theron. Esse filme me causou quase tanto nervoso, asco e amor ao mesmo tempo quanto esse "mangá coreano". Eu falei aqui que eu não sou muito fã do traço coreano. A arte é diferente, o estilo de desenho pode até ser levemente semelhante, mas as as estruturas de contar a história são bem distintas. Principalmente porque não existe um controle de quando começa e quando termina uma fase. É bem parecida com a vida normal, você não tem muita ideia de pra onde aquilo está te levando ou por quanto mais tempo você vai ficar naquele ciclo, que é o normal e esperado de um mangá japonês onde o ciclo é o de 5, no máximo 6 capítulos cada volume. Outra coisa marcante é a inexistência de bom e mau, aqui todos são muito terrivelmente humanos. É ultrapassar o nível do quão humano e errado pode se retratar um personagem sem perder a beleza do traço. Que é o que normalmente acontece quando eu leio personagens muito ruins, o ódio por elas acaba distorcendo como eu vejo o desenho.

A história
Yoonbum, um rapaz quieto e carrancudo, tem uma queda por um dos caras mais populares e bonitos da faculdade, Sangwoo. Um dia, com a obsessão de Yoonbum por Sangwoo alcança seu pico, e Yoonbum decide entrar na casa de Sangwoo. Mas o que ele viu dentro não era o Sangwoo que ele sonhara, e nada do que ele estava esperando. - Union Mangá











Além de uma pintura impecável, a história envolve pra além da capacidade. É torturante acompanhar, pela visão de uma vítima em cativeiro, com diversos ferimentos graves, sem falar na tortura psicológica imposto pelo Sangwoo. E ainda assim, você não consegue parar de ler. E é sempre o mesmo pensamento que passava na minha cabeça: "Será que no próximo capítulo o Bum morre?"

ATENÇÃO: Se você não tiver bem, não estiver psicologicamente bem, NÃO LEIA. E se tiver bem, coragem, porque no final você não vai estar.

Eu não vou entrar em questão de quantificar ou qualificar os pros e contras dessa série, porque é óbvio que é completamente louca, é puro terrorismo emocional.
É tipo você querer dizer cada detalhe do que é errado numa história como American Horror Story. É evidente as coisas erradas, e se tem um um gênero que te força a ver isso, é o horror. Eu pessoalmente não acho nada saudável ficar shippando o Sangwoo com o coitado do Bum. É tão certo que isso vai dar uma puta merda... e mesmo assim entendo quem shippa. A coisa toda que faz a série ser tão foda é que ela faz você ver pela visão do Bum. E o Bum tem esse lado de síndrome de Estocolmo. Que se manifesta de diferentes maneiras, mesmo quando ele diz com todas as letras que não quer mais aquilo, que não aguenta mais.
O lado ruim é que sim, vai atrair muitas pessoas que tem essa ideia distorcida de relacionamento. Como eu amo Okane Ga Nai e não nego, não vou tentar julgar essas pessoas. Até porque, gosto muito de Killing Stalking, independentemente se irá ter um final loucão com os dois juntos assassinando geral, ou com eles presos, ou só com um preso, ou só com um morto. Enfim. O que vier, é lucro, pois essa série conseguiu me por num lugar fora da minha zona de conforto, ela me transferiu pra outro mundo com maestria. E isso é algo que não dá pra negar. Gostando ou não, você precisa observar o quanto KS é bem feita e bem escrita.
Vários nuances, os personagens seguem uma linha de pensamento que mesmo com todas as doenças psíquicas que tenham, são coerentes pra quem está de fora. Eles mantém padrões e isso é importante pra contar uma história, principalmente se for sobre algo tão pesado quando psicopatia e principalmente o sentimentos sexual/romântico com pessoas abusivas.
E olhe bem, eu não considero em nenhum momento que o Bum e o Sangwoo tenham um relacionamento. E por isso não é um relacionamento abusivo. Não existe nada aqui. Pelo menos não romântica. A ideia de relacionamento abusivo é que a pessoa passa por um ciclo no qual a abusiva dá poder ao abusado para que ela continue a amando, apesar de ter que passar por toda a violência. Em que momento se vê o Bum sendo recompensado de qualquer maneira?! Não amigos, é só violência. E é pesada, tanto que quando o Bum tenta sair o medo dele não é de perder o "amor" dele, é de morrer na mão dele mesmo.

E é óbvio que lá pelo meio do cativeiro quando você acha que não vai ter jeito, que o stalker vai morrer, existe uma leve ideia de que o Sangwoo possa gostar da companhia, ou possa ver o Bum como algum tipo de aliviador de stress/escravo sexual ou algo escroto do tipo. Mas aí depois fica meio mais claro de que ele quer ter alguém pra mostrar o poder que ele tem/a psicopatia dele. Porque é comumente reconhecido que serial killers tem a necessidade do palco. Eles querem a sensação de serem melhores, de não serem presas, de rir da cara das autoridades e isso é visto em diversos momentos dessa característica no Sangwoo desde o começo. E depois de uma demonstração de "você não é tão diferente de mim" não tem como dizer que o cara não vai no mínimo implicar responsabilidade, toda ou parcial, no Bum.

E além disso temos o núcleo policial mostrando tudo que a polícia de qualquer local faz quando uma galera some sem deixar vestígios... nada.
Mentira, um único policial que não faz nada além de encucar com um cara que ele conheceu a meses atrás, e encontra ele do nada numa briga de trânsito e marca a cara dele, tem certeza que tem algo acontecendo.
É muito tosco quando aparece os policiais nessa história. 1) porque tem um único que se preocupa em investigar alguma coisa, o que quer trabalhar e 2) pois todos os outros parecem de conluio pra sacanear ele e as investigações. PRA QUE? A menos que o Sangwoo esteja pagando/chantageando os péssimos policiais, como eu já vi em um comentário-teoria. Mas eu lhe respondo o porque, é um alívio, mesmo que não cômico pra você respirar por um capítulo antes de voltar à agonia que é a vida do Bum.
Funciona, mas às vezes é um saco. Aliás, alívio cômico até existe, aquele humor negro pesado, mas que talvez você esteja tão tenso que não perceba, assim como eu.


-------------- AGORA: SPOILER -----------------


Eu apreciaria muito que se você  ainda não leu todos os capítulos, leia e depois volte pra ver o que eu escrevi. Sério, são poucas as obras que eu insisto que alguém não pegue spoilers, pois eles importam em alguns casos, esse mangá é um deles. Tanto que eu nem trouxe muitas imagens nesse post.

Vamos dar nome aos bois. Desde o primeiro momento você já começa a se agoniar muito com a tensão com a loucura stalker do Yoonbum. O momento que ele quase é preso faz você querer que ele se dê bem. Ele parece tão desesperado...
Mas daí quando ele encontra o objeto de desejo dele, daí começa a verdadeira angústia. Vou dizer, o que eu considero nesse momento ser o segundo ato, vendo em conta que eu divido em três partes.
A primeira é o encontro dos dois, a explicação de como eles se conheciam, como o Bum via o Sangwoo e ele (e nós) descobrindo quem era aquele príncipe de verdade. Nessa vemos a pior parte da violência física. Os dois tornozelos do stalker são quebrados e tem uma cena especialmente agoniante pra mim que é a do corte na clavícula. Ah, dói só de pensar. Tortura, tortura, tortura. Me lembrou um pouco os filmes do Mel Gibson, em especial o sentimento que eu senti quando vi Apocalypto. Ou algumas cenas do Ramsey Bolton em Game of Thrones.
A segunda é depois que ele recebe permissão de ficar lá em cima, saindo do porão claustrofóbico pra porr* e vamos conhecendo como era a vida do Sangwoo antes dele matar os pais. Ou só o pai, ainda não ficou explicito se o pai matou a mãe e ele matou o pai depois, ou se ele matou os dois mesmo. Passado nebulosíssimo ainda. Temos ainda uma tentativa do Bum (que foi dado esse apelido pelo psicopata nesse momento, e não lembro mais, mas é um nome coreano perjorativo) de conseguir sair dos castigos físicos constantes, tentando se aproximar, prever o comportamento imprevisível do Sangwoo. Daí temos vários momentos muito loucos, em destaque os pensamentos do Bum de matar o cara e quase morrer no processo, onde você tem ainda uma esperança que o Sang possa manter algum afeto, dependência, ou algo desse gênero, quando ele cede à obsessão sexual do Bum por ele;Essa teoria é descartada logo depois na tentativa de fuga, que temos a cena mais fod*rosa de terror psicológico.
Você sente o desespero do Yoonbum. É algo incrível. E olhe que como eu já peguei com a série avançada, eu terminei toda essa fase em uma noite. No outro dia, já estava completamente surtada pra terminar logo aquele sofrimento de não saber o que o Sangwoo ia fazer em seguida. A cena dele cantando do lado de fora da casa quando o Bum finalmente vence o medo e tenta sair é uma das que me fizeram prender a respiração a cada quadro. Terminaria naquela cena impactante do corte no pescoço onde eu tinha certeza que e o magrelo não escaparia e iria dessa pra melhor. E melhor mesmo, nem sei porque ele se prende dizendo o quanto não quer morrer na mão do Sangwoo.

O terceiro ato é quando o Bum já está completamente controlado pelo medo, as pernas dela melhorando gradativamente, então é quando o Sangwoo passa a exercer poder trazendo pessoas para ele matar e fazer com que a vítima vire o criminoso com ele. E não parece muito outra história que eu amo muito?! Ah, é, Hannigram.
Mas enfim, vemos essa transição, do qual não existe realmente uma mudança na dinâmica dos dois, mas os lugares começam a ser mais externos. A casa já passa a ser menos o ambiente central de horror, fazendo bem claro que não é o local ou a força física, o verdadeiro cativeiro é o poder mental que o Sangwoo exerce. Não só sobre ele, mas também as pessoas que ele vai apresentando ao Bum, quando ele decide manter ele como um bicho de estimação, que agora já controlado, pode passear. O controle sobre a situação do policial também é muito tensa. E não me pergunte o nome do investigador que cismou com os dois que eu não sei, não foi importante pra prender minha atenção nem por um minuto. Só sei que acho ele meio devagar para o tanto de coisas que ele sente que estão erradas, mas não se aprofunda na investigação. O ruim é que eles explicam por alto uns problemas que ele teve na divisão, e o bullying que ele sofre dos colegas. Eu acho essa parte muito estranha. Enfim e por fim, os últimos acontecimentos deram um fechamento desse terceiro ciclo pra mim. Pois mostra finalmente qual é o problema dos Yoonbum antes dele conhecer a menina do qual ele se ressentia, mostra como era a família dele (e cenas fortíssimas que eu só recomendo pra quem tem muito estômago e não tenha tido experiências ruins na infância porque é do tipo que você fica mal mesmo, é muito repulsivo), e principalmente a falta da capacidade de empatia do Sangwoo, que apesar de tudo, começamos a desenvolver o mesmo laço dependente com ele que o Bum sente.
Depois de encontrar um ex-colega do Bum num supermercado, e uma breve rixa entre esse cara e o Sangwoo pra ver quem tem mais poder sobre o moleque, esse conhecido dá a deixa para o sequestrador descobrir a origem dos problemas do bichinho de estimação. O Bum conta, e logo depois do Sangwoo desdenhar da dor dele, ele corta o pulso, numa cena impactante e que você -eu, no caso- quer entrar no mangá e ir tentar salvar o nosso stalker favorito e dizer que tá tudo bem, que nada foi culpa dele e que você o ama e aproveitar e estrangular o Sangwoo fdp que fez ele reviver todo o trauma pra por a culpa toda nele de uma violência tão covarde, embora ele mesmo tenha sofrido coisa parecida.


--------- FIM DE SPOILER---------


 E aí vem a pérola:  A "mangaká" Koogi vai sair de férias, ir a uma convenção em Las Vegas e vai deixar em aberto essas últimas cenas por um tempo. Só tem novos capítulos a partir de 7 de julho.
Meu mundo caiu.
Ela me quebrou num cliff. E ainda sai de férias porque ainda está decidindo qual o destino dos personagens. Eu quero gritar. E enquanto isso ainda junta com o sofrimento de ter de esperar ao mesmo tempo a temporada de GoT. Que deprê.

Não é que eu não tenha tido conhecimento de que como é uma coisa semanal feita para a internet, era previsível que não seria algo tão bem estruturado para que existisse um planejamento a longo prazo. É claro que ela espera a reação do público a cada trabalho feito. E também leve em conta de que é uma série de sucesso, com um base de fãs que ama e odeia na mesma medida. Deve ser difícil entregar com base em expectativas.
Não tem como negar isso de odiar amar e amar odiando. Principalmente quando você vê na perspectiva de que mesmo para quem curte BL/yaoi e afins, é meio pesado, e outra que quem curte um horror gore trevosão -eu imagino- não está preparado pra encontrar uma relação sensual entre os  homens envolvidos.


A tensão sexual

Outro spoiler: alguns beijos ocasionais, e cenas de estupro. E não dá pra confundir um BL feito para te deixar sexualmente aceso e isso.
 Eu não estava esperando algo entre os dois estilos tão bem mesclado.
O gore está lá e não é bonito, ao contrário do que eu já vi em outros trabalhos com temática yaoi. Não é poético, é visceral. E ao mesmo tempo aquela pitada de sensualidade é algo que você fala, "Não, não vai por aí não, isso vai dar merd*", que é o que eu senti da primeira vez que eles tem esse contato. Depois disso eu não vi nenhum outro momento onde pode ser confundido.

 Tem gente que vai shippar? Sim, óbvio. Mas não dá pra dizer que o amor (tipicamente normalizados em relacionamentos abusivos fictícios) vai vencer em nenhum momento ali, se você for numa linha de pensamento coerente com o que está sendo proposto nesse manhwa. Até porque, em nossas cabeças há liberdade até quando você não quer. Mas não significa que o mundo, ou a própria criadora concorda com isso. Por isso eu não considero em nenhum momento algo romantizado. É algo cru. Essa é a palavra que eu definiria essa agonia em forma de relacionamento entre os personagens principais.
É o que eu vejo a briga do fandom se formando. Alguns estão muito bem com a conotação sexual da trama, outros acham de um mau gosto horrível confundir as coisas, mas não tem como negar que a dualidade está ali. Tem cenas pequenas que são muito envolventes, uma em especial é quando o Sangwoo pega na perna no Bum, primeiro apertando e depois acariciando. É insano que mesmo que você não queira, dá pra se pegar querendo que ele vá mais longe, ou que do nada ele se torne mais carinhoso. Mas não se engane, é típico do sentimento de "quero deixar de sofrer", é o sentimento de esperança que o Bum sente, e o que as pessoas shippam seria um reflexo disso. Estocolmo feelings.

Mas a coisa mais incrível: a música tema.

Não dá pra negar que a coisa mais icônica entre os capítulos é que a música dá o tom de filme de terror com uma música muito leve e a certeza que você já ouviu ela em algum momento da vida. Eu adoro Killing me Softly mas fica bizarra ler a letra da música acompanhando a tensão de não saber o que o Sangwoo vai fazer de terrível da próxima cena. É tipo escutar a música ficar cada vez mais rápida ou alta em jogos de terror e saber que tem algo vindo, mas não sabe como, quando e o quanto isso vai afetar a vida do personagem, que no caso também leva você a ter a sensação de que é você ou uma parte sua ali sofrendo tudo aquilo.

Enfim, vou acabar por aqui porque eu acho que eu já rasguei seda demais para o horror que é isso. E é basicamente isso, leitor dessa série dá adeus à valores morais, estabilidade emocional, e a ouvir Killing me softly sem relacionar a reais assassinatos fictícios;

Achou louco? Leia. Você vai me achar até normal depois desse mangá. Na próxima vez que eu falar da série eu espero já ter mais conhecimento sobre o estilo dos mangás coreanos e chineses, pois esses se mostraram um complexo mundo novo pra mim, e eu pretendo entender mais sobre a arte de desenho com cores e digitais para contar histórias. E se Koogi quiser, já terei mais informações sobre a nova fase do manhwa. #PrayforBum




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