Yaoi: Super Lovers | anime vs. mangá

Anos atrás eu comecei um mangá não muito popular mas que tinha um desenho bem bonito e com o título bombástico:

 Super Lovers



Eu não tenho certeza porque eu desisti, pois não lembro mais se eu li capítulos misturados do site que traduzia e comecei a fazer confusão, mas acontece que quando eu reli alguns anos depois me pareceu que história tinha mudado muito e eu não reconhecia quem era mais quem dos personagens. É provável que por conta da falta de expressões faciais únicas. A arte até pode ser bonita, mas o molde de todos os personagens é basicamente o mesmo; Foi na primeira parte, os primeiros capítulos que contam como o Haru conhece o Ren, uma criança japonesa perdida no Canadá que está com sérios problemas pra se adaptar na casa da mãe adotiva, e mãe biológica do Haru.

Atendendo ao pedido de sua mãe, Kaidou Haru parte para o Canada pensando que sua condição de saúde era das piores. Quando lá chega, descobre que, na verdade, ela havia adotado uma criança selvagem. O “dever” de Haru é, segundo Haruko sua mãe, tentar civilizar a criança e assim tornar-se um perfeito irmão mais velho. Ren, seu irmãozinho adotado, contudo, reage a toda preocupação e cuidados de Haru. Aos poucos Haru vai ganhando espaço no coração de Ren e então a promessa de um dia viverem juntos no Japão vem à tona. Cinco anos depois, após um grave acidente envolvendo a família Kaidou, Ren chega ao Japão para cumprir a promessa feita. Haru, no entanto, está ocupado trabalhando arduamente tentando manter os estudos de seus irmãos gêmeos Aki e Shima. Como a presença de Ren irá influenciar no relacionamento entre os membros da família Kaidou? Os sentimentos de Haru por Ren serão os mesmos de cinco anos atrás? Duas pessoas vindas de lares diferentes, mas com situações semelhantes compartilharão do mesmo destino? - sinopse pelo Union Mangá
Se você viu as duas temporadas do anime lançadas até agora você sabe que isso é muito no começo da história. Evolui rapidamente pra algo totalmente diferente e cada vez mais esquisita, misturando uma relação de irmão, família, pra algo sensual e vai ficando cada vez mais entrelaçada durante o segundo ano da série animada. 


A polêmica
Mas calma, não tem nada explícito e sinceramente, já vi e continuo acompanhando muitos mangás que conseguem aprofundar e muito esses desconfortos de idade, relação de poder e laços fraternos com a sexualidade muito mais aflorada. Não dá pra classificar nem de yaoi propriamente dito, visto que esse gênero tem uma pegada bem mais forte, apesar do nome sugestivo e pelo qual eu me foquei tanto. É fácil de lembrar.
Poderia até fazer comparação com o Yuri!!! On Ice, já que os dois fazem um paralelo entre a vida e o foco das histórias, e a relação amorosa dos personagens principais. Super Lovers se encaixa no gênero Slice of Life/Drama, enquanto Y!OI é de esportes. Ele não tem lemon, não entra no gênero shotacon, nem tem cenas realmente nsfw. 
Porém, eu senti mais um certo nojinho nesse anime, tenho que dizer.  Nem dele em si, mas de mim, porque eu gostei, e consegui ignorar o problema ali. Principalmente porque ele foca muito na vida familiar e no pensamento de que sim, eles são irmãos, e não importa que o Ren seja adotado, "o amor supera". A principal razão pra isso é o (não) crescimento do mais novo que praticamente não muda nada desde que ele é uma criança e se "apaixona" pelo irmão mais velho, até ele chegar na adolescência e o irmão passar a ver ele de outro modo, fazendo ele ser muito mais infantil do que a idade dele. Mostra algo bonito numa inocência que, para aceitar ver a situação romântica/sexual, já deveria ter sido esquecida.
Tentando exemplificar pra ficar mais claro: o Ren tem a idade dele pouco, ou nenhuma vez, divulgada. Eu não lembro de nenhuma hora se falando que o garoto tem uns 14, 15 anos. O moleque parece e às vezes age como se tivesse bem menos, e é aí que o desconforto inicial passa a ser crítica de verdade.
Afinal, até onde a liberdade de contar uma história bonitinha ultrapassa o asco da pedofilia?!

Eu sou bem realista quanto a essa cultura que em tese, dá aval pra comportamentos criminosos; e sim, são altamente condenáveis. Mas me considero uma consumidora consciente de ficção, e que eu consigo separar bem o real do mundo imaginado dos autores desse tipo de história controversa.  Não acho que esse pensamento não deva ser conversado, deve sim ser estudado o porque desse amor que sentimos quando vemos um relacionamento essencialmente... errado. E não tem como não usar essa palavra, porque não tem como não ver que é doentio demais a relação dos personagens, até porque os secundários vivem pra lembrar disso. O problema de tudo é a não reação. Todos sabem, mas ninguém fala nada. Claro que se o Haru é preso a história acaba e não é lucro, mas pelo menos umas decisões realistas eu gostaria de ver nesse anime, mas certeza que isso não vai rolar.
Outra coisa que dá agonia é a relação de sadismo emocional que existe ali. Não chega a ser abusivo (propriamente violento), mas tem partes que o personagem divaga sobre como ele quer que o outro sofra "porque ele é tão fofo". *suspiro* Gostei de terem explorado um pouco, beeeem de leve mas ainda assim, os traumas do Haru. Ficou mais fácil gostar dele quando você sabe o que ele passa antes, mas tem vários momentos que eu só queria que ele parasse de torturar o Ren (em chantagens emocionais, ficar em cima do muro, nas respostas evasivas).
E outra, e eu espero que seja revelado em futuro próximo, são os traumas do próprio Ren. A falta do passado dele quando ainda era uma criança perdida me incomoda.  E pra ser mais clara, o sofrimento dele com o Haru é algo muito triste, porque ele não está livre pra esquecer esse complexo de irmão, nem está realmente "preso" num relacionamento. Não há segurança sobre os sentimentos do Haru, é sempre só uma esperança; o que se não fosse incestuoso e pedófilo, se caracterizaria por falta de responsabilidade emocional com o coitado do Ren.

Por fim, e pra passar para as outras questões de Super Lovers, fica aqui a pergunta, o que realmente achamos condenável quando vemos uma relação entre menores de idade e uma pessoa adulta?


O mangá
Como eu disse, comecei a ler o mangá anos atrás. Infelizmente sempre tenho que reler as partes anteriores, porque você se perde rápido nos acontecimentos, e eu acho a organização muito confusa. Eu não gosto do mangá, apesar dos desenhos serem muito bonitos. Apesar da beleza, os personagens muito parecidos uns com os outros e que em vários momentos só tem participações rasas e rápidas não prendem na memória. Eu sempre tenho que passar um bom tempo tentando lembrar quem é esse ou aquele, onde é que ele tinha aparecido antes.
O anime
Achei não tão bem animado, mas ajuda o fato dele ser mais corrido e como já tem duas temporadas completas você não ter que esperar atualização de capítulos ajuda bastante a entender melhor o desenrolar das coisas. Nas duas eles compactaram bem as histórias, o ritmo é leve, descontraído, mas não evolui muito depois da primeiros capítulos da primeira temporada. A relação deles depois é resolvida daquele jeito (de viver na mesma casa com os outros dois irmãos gêmeos) e fica assim... a sensação é de que vai passar um bom tempo até algo importante acontecer;
A segunda temporada eu achei até melhor pelas histórias de passado que contaram, porque sinceramente, continua muito confuso.

Os problemas
Tem muito personagem inútil. Esse é a pior crítica porque é o que eu mais odeio em mangás é ter que adivinhar quem é quem. Eu passei boa parte do tempo tentando entender a função narrativa deles, os quais eu posso dar como exemplo: a advogada, o enfermeiro da escola, a amiga do Ren e todos os "amigos" do Haru que aparecem no café. E não são eles o problema. Quer dizer, não seriam se aprofundassem as interações deles com os personagens principais ou entre eles, como um núcleo secundário mas que fizesse sentido por si só. Mas isso não acontece. Eles tem dificuldade até em construir as interações entre o núcleo principal, então não espero muito essa boa convivência entre eles.
Ah, também não é explicado como é a relação dos gêmeos, que vivem na mesma casa com os dois principais. Não saberia dizer se existe tensão sexual entre os dois ou é só um reflexo dos padrões de BL que sempre deixa uma ponta solta pra você shippar personagens mesmo que elas não se relacionem explicitamente. Mas é um reflexo de quão mal utilizados eles são na narrativa.
Ah, e tem também o fato de ser super misógina a ideia de que quase todas as mulheres são loucas, ciumentas, grudentas e desesperadas. Uma ex-cliente do Haru, a ex namorada do primo, e até a própria Haruko, que é vista como uma mãe desnaturada que abandona os filhos por pelo menos um dos personagens. Enfim, feminismo zero para a Abe Miyuki.

A vantagem
É confortável por não mostrar nada. Eu nem sei se considero isso uma vantagem porque eu mesma gosto de algo explícito, mas pras pessoas que não se sentem bem com cenas quentes e escancaradas, o anime até é bem sexy sem ser vulgar. Se a coisa da idade incomoda, o fato deles não serem explícitos sobre que tipo de relação sexual eles tem faz com que seja mais "aceitável". Principalmente porque mesmo com as investidas constantes, eles nunca chegam às vias de fato.

Considerações finais
É um bom anime só por ser fofinho. As firulinhas de transição de cena típicas de animes como Junjou Romância e Sekaiichi Hatsukoi são de criaturas marinhas, e é fácil se deixar levar por esses detalhes infantis. Mistura drama e comédia e é um bom entretenimento pra ser consumido rápido e sem pensar muito. Mas ainda vai demorar pra eu engolir o mangá arrastado como ele é; E sim, é romantização de pedofilia e deve te fazer pensar e repensar o assunto mesmo que você não queira.

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