Eu sou livre (libre=libro) - Parte 1

Estava eu fazendo um exercício bem simples, depois de ver uns vídeos sobre alta performance ontem, tentando descobrir pontos cegos, eu fiz uma lista de coisas que eu já tentei ser, coisas que eu já pensei em ser mas tive uma resistência a faze-lo, e coisas que eu sou, independente se eu queira ou não.
Diversas coisas óbvias, mas a última que eu escolhi por nessas listas foi sobre a minha sexualidade. Eu sempre, desde que me entendo por gente, pessoa pensante na verdade, me vi como admiradora do conceito de amar a quem você quiser, e achar atraente quem você quiser, independente se a sociedade dita que a pessoa tem o sexo "errado", ou aparência "errada/feia". Se alguém pudesse rever meus relacionamentos passados saberia que tem pessoas que todos ao meu redor acaram feias demais pra mim, ou mesmo me apaixonei platonicamente por meninas da mina idade, e sempre fui muito de reafirmar que eu gostava mesmo delas, peitava meus pais quanto a sexualidade, e nunca deixei de dizer que acho odiável uma pessoa não se assumir por causa de família e amigos (demonizando até, família e amigos), e que também acho vergonhoso alguém ter esse pensamento homofóbico escroto, e que ainda é e sempre será todos os adjetivado por mim da pior forma possível.
Eu tenho no meu palácio mental, e na minha história inteira criada especialmente para que eu pudesse lidar com coisas conflitantes na minha realidade (ou pode ser como lidar com minhas vidas passadas) e onde eu passo a maior parte do meu tempo justamente fugindo desse mundo real em que aqui estamos, uma das mais complexas de todo o intercurso é a que representa a minha adolescência.
Nela temos a história de irmãos gêmeos, um menino e uma menina. "Os dois viveram em uma época de feudos oriental, então temos um "príncipe e uma princesa", pra simplificar. A menina é uma deusa, ela tem poder de mandar e desmandar, porém não é revelado isso até bem depois que ela cresce, mas no momento de  pré-adolescência dos dois, o menino que era treinado para caça se relaciona com um dos servos do castelo, e a menina fica em casa treinando para o seu casamento. Sendo eles tão próximos a menina sente muito pela perda quando sabe que ele foi morto numa das caçadas por um lobo. O menino não foi morto pelo lobo, mas sim atacado e deixado para morrer a mando do rei e da rainha, que descobriram seu relacionamento com o servo que o acompanhava nas suas caçadas. Ela cora e sofre por muitos dias até que o irmão aparece e explica que fora encontrado por um outro adolescente que vagava na floresta, trabalhando aqui e ali como mercenário. Ele planejava ir embora com ele, seguir o mesmo destino, mas que esse outro havia concordado em levar com eles o servo, o grande amor desse príncipe.  Sendo ele novo, e o servo mais velho a punição ao último fora bem mais severa.Os irmãos e o mercenário planejaram então entrar no palácio e resgatá-lo; Porém a irmã descobriu que enquanto um foi deixado na floresta ferido para que morresse lentamente, o outro havia sido trancado no calabouço e torturado, cego, surdo, sem língua e eunuco. Ela enlouqueceu de ódio e queimou tanto todos os que viviam no palácio quanto as pessoas dos vilarejos próximos, logo após de matar os pais a machadadas. Ela levou o irmão e o mercenário ao servo, mas não havia nada que poderia ser feito por ele além de uma morte rápida. O príncipe se encarregou pessoalmente de findar a vida de seu amado, e por muito tempo apenas dor sentiu mesmo seguindo a irmã e o mercenário, que casaram logo depois."
Essa história foi vindo a mim durante um período conturbado pra mim, entre 13 e 16 anos mais ou menos. Sempre volta, pois é o começo da vida dos personagens, eles tem rosto, nomes, futuros e reações a certos padrões bem marcados pela sua personalidade única. É como ter várias mentes em uma única. Muitas vezes as deusas discordam, e isso significa basicamente que tudo de conflitivo na mina mente, sobre o que eu aprendi na infância, na adolescência e na vida adulta, embora eu já soubesse de coisas muito antes que elas conscientemente chegarem até mim, em questões filosóficas e éticas, pelo mundo exterior.
Basicamente, eu já tinha escrito essa história antes mesmo de ter tido contato com a primeira reação a homossexuais, e a minha reação a homofobia, com as pessoas que eu estava próxima.
Mas principalmente, o contexto em que ponho essa narrativa é o quanto os pais são os vilões e que mereceram ser mortos por adolescentes de 13 anos e um de 17. Interessante é pensar que as duas pessoas são as mesmas. A deusa e o irmão gêmeo só "se dividiram" em dois quando vieram aquela realidade alternativa, mas eles sentem do mesmo jeito, um sente pelo outro, e no casamento, os dois dividiam a atenção do mesmo homem em total harmonia por ter essa consciência, eles eram uma única unidade. Isso explica totalmente minha paixão por casais de homens gays, e o quanto isso me deixa ligada, mas ao mesmo tempo, joga uma luz diferente sobre como eu lido com o sexo feminino. O príncipe tem nojo de partes femininas sem nunca ter tocado em uma. Ele tem todo um horror a algo que seria imposto a ele em algum momento da vida e ele recusou completamente essa parte das suas "obrigações reais". E nunca tentou, mas também viveu infeliz por muito tempo. No final, ele encontra alguém, um escritor, mas isso é outra história, depois de diversos anos construídos, e está tudo aqui no meu palácio mental. Toda a vida dele, e dela, e dos filhos dela, e dos netos que ainda virão. Tudo, muito bem construído, mas com algumas falhas, das coisas que eu não consegui processar e por pra fora ainda.
De tantas coisas que me prendem, essa foi a que me surpreendeu mais. Pois eu abomino o preconceito, mas vivo em um. E é isso o que me impede de viver livre no mundo real.
Continuando com a reflexão de ontem, eu fui falar no meu grupo do WhatsAPP com minhas duas amigas, só pra desabafar e falar com alguém sobre a sacada que eu tive. Eu nunca me permiti ter um relacionamento com uma menina por muito tempo, embora já tenha falado pra muita gente, e muitas pessoas saibam que intrinsecamente eu sou bi. Eu falo pra todos os meus relacionamento com homens, mesmo sem a conotação sexual que eles esperam numa afirmação dessas. Eu sou sincera, mas não me aceito. Quando eu vejo uma menina que eu me sinto atraída, eu não me imagino sexualmente com ela, não me imagino numa situação familiar com ela, embora eu vejo com outras pessoas e acho lindo, louvável que o outro seja tão livre e tenha a habilidade de amar alguém independente de quem ela é por fora. E não é que eu seja "heterossexual na minha natureza", porque não é essa. De verdade, eu acordo de vez em quando de sonhos mais reais e quentes e me dou conta que eu sonho com meninas. E foi o que aconteceu exatamente quando eu acordei hoje, logo após eu ter falado com isso entre amigas. "Nunca pensei o quanto eu tenho dificuldade de me assumir bi embora todo mundo saiba(eu acho)" foi o que eu expus, "é não ter coragem de me assumir em um relacionamento mesmo". Então, hoje de mana eu acordei de um sonho matinal mais interessante e muito real, em que eu estava com uma menina, mas a minha mãe entrava no quarto pra saber o que eu tava fazendo. E eu quis falar mas eu não conseguia. E isso me trouxe mais uma vez pra o quanto eu estava perdendo na minha vida sexual por algo que eu estava presa a esse conceito errôneo de que os outros poderiam controlar a minha vida sexual. Eu não entendia porque eu não sinto tanto prazer com sexo oral, nas minhas relações com homens. Talvez seja por isso, essa ideia de que eu não faria em alguém. E que sinceramente, está na hora de desconstruir. Já passou da hora.

secretaries thinking about lunch - emma dajska

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