Sobre um chakra fechado
Uma dificuldade que vem me acompanhando faz tempo é a minha habilidade de fala. Desde criança eu acreditei que era gaga, ou algo do tipo. Eu não costumava terminar o que eu falava, as pessoas ficavam impacientes. Ou elas falavam e eu não respondia. De todo modo, sempre fui comparada ao meu pai por isso. E eu achava de verdade que eu tinha algum problema. Isso não é exatamente algo do passado, até hoje faço isso. Um tio meu recebeu uma leve patada quando eu disse que não fazia mais isso, e um ano depois eu fiz e ele lembrou da patada muito bem colocada, e eu dei a resposta que é, e que eu sempre soube do motivo disso. Basicamente "é que no meio da frase eu vou pra um mundo paralelo onde eu não tenho que responder essa pergunta". E é isso. Foi uma patada mais verdadeira. Eu não costumo estar presente nas conversas. Eu fujo todo o tempo. Eu como pessoa criativa, distraída e fácil de ser levada pelo vento não me permitia ficar entre os mortais e ficava vagando, seja no passado, no presente ou no futuro entre real e fictício dentro da minha mente. Fato é de que preciso corrigir isso, mas não é de todo ruim já que quando eu me concentro em algo, eu consigo facilmente esquecer todo o resto. Por isso escrever é mais fácil. Falar é um tanto mais complexo.
Então eu me vejo em outro medo, o de gravar vídeos. Eu lembro de pensar diversas vezes, mas muitas mesmo em gravar vídeos pra falar aos outros quem eu sou. Eu já pensei que sair do armário de Nárnia gravando vídeos seria a melhor coisa pra mim, já que eu não precisaria impor a minha "saída" a quem não quer saber. Eu tentei falar em vídeo. E foi um desastre. "A minha voz sai muito feia", ou "muito baixa" ou "muito pausada". E eu tento de tempos em tempos com a mesma conclusão triste de que talvez eu não tenha jeito pra falar mesmo. Mas putz, descobri recentemente que amo falar, principalmente em outra língua que não seja o português. Talvez porque eu acho o modo de todo mundo falando aqui irritante como o cão falando. Talvez, e provavelmente por não curtir ninguém falando na mesma língua em que passei anos da minha vida só balbuciando sem querer ter que falar nada.
Fato é que falar sempre foi um desafio pra mim, e que eu preciso vencer. Aquiescer e aceitar que outra pessoa fale pela minha opinião é impossível por mais tempo, e eu preciso definitivamente me expressar de modo mais efetivo do que a escrita (embora concordo que escrever um livro dá menos problema com má interpretação, mas ah, tenho que manter na minha mente que eu sou responsável pelo que digo, não pela falta de interpretação de cada um). Num mundo onde as pessoas não aprendem a interpretar textos, a fluidez da fala é algo superestimado.
Quero tentar fazer um vídeo para daqui até o meio do ano. Nem que seja só pra treinar a fluência da língua portuguesa;
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