Gravidez, fotos, lembranças e Disney
Começando a semana de dias das mães, que termina próximo domingo. Eu nem gosto da data, mas vou passar esse tempo escrevendo sobre coisas que eu normalmente tenho as palavras para o texto, mas não a coragem para publicá-los. A maternidade faz isso com você. Faz tudo parecer incerto. Então vamos falar sobre essas incertezas.
Começando pela primeira fase.
A gravidez
Seis anos atrás eu estava enjoada, me sentindo de um jeito que eu nunca me senti antes. Foi a primeira vez em anos, anteriores e seguintes, que meu olfato deu sinais de vida e me incomodava com qualquer cheiro. A época da gravidez em si me deu sequencias dramáticas, traumáticas, mas ao mesmo tempo muito felizes. Era tão bom ter uma vida crescendo em mim. Eu não conseguiria explicar o quanto era bom. É algo extracorpóreo, mágico e assim como uma viagem no universo sem nenhum equipamento de segurança: aterrorizante e bonito.
As coisas ruins dessa época: eu sentia que as pessoas sentiam que eu não devia ter ficado tão feliz. Eu me sentia envergonhada todo o tempo, e isso não mudou muito nos primeiros anos da vida de Anne. Depois de um tempo tendo que reafirmar pro mundo e pra mim mesma que estava tudo bem, eu consigo até ver luz nesse túnel, mas não dá pra dizer que foi algo fácil, rápido, nem mesmo indolor.
O constante reforço do medo de ficar feia depois de ter filhos é algo que odeio na nossa sociedade. Eu odeio com todas as minhas forças, porque me impediam em muitos momentos de curtir a minha beleza naquele momento. E eu me sentia linda. De verdade, eu olhava no espelho e me achava gata pra caralh*. Mas logo vinha os esteriótipos de beleza na minha cabeça dizendo o quanto eu estava enorme, inchada, "remando como uma pata". Que a divisão entre o meu cabelo crescendo natural em contraste com o meu antigo, alisado e loiro, estava ridículo e dava ar de desleixada. Mas, sabia que meu cabelo cresceu duas, três vezes mais rápido, mais forte, mais brilhante e sedoso? Isso fazia diferença, eu via a diferença, mas os padrões dos outros me feriam a ponto de eu considerar alisar mesmo grávida. Obviamente era impossível, mas não quer dizer que eu não desejasse.
As roupas também eram algo que me causavam muita raiva. Roupas específicas pra uma época em que só a sua barriga, mão e pés estão maiores que o normal são caras, e sem dizer da inutilidade delas depois de poucos meses... fora o fato de que todas parecem ser feitas pra você se sentir mais velha, mais "neutra", uns tons que parecem que querem que você se esconda o máximo possível. Que você não seja mais você, indivíduo, mas que você seja A MÃE; A mãe que a maioria tem na cabeça como ideal.
Não era exatamente o que eu pensava, até porque eu nunca compraria roupas de grávida, mas foi um pensamento recorrente nos anos que se seguiram.
O meu pensamento era me tornar uma mãe gal, que era o meu lado "eu tenho dezessete anos". Eu lia fanfics onde os meus personagens infantis engravidavam. Eu lembro de ter visto a saga de Cell inteira porque eu sempre amei a Bulma em Dragon Ball, e sentia que ela era a única referência de mãe que eu me encaixava.
Dragon Ball me ajudando a encarar a vida desde sempre e além. Amém.
Depois de algumas brigas inevitáveis sobre muito do que eu era e o que eu me tornaria depois de Anne, eu admiti que a maior parte da minha vida, da minha adolescência e disso tudo, o blog, a lolitagem, a falta de compromisso com meu futuro, era tudo uma maneira de tentar me manter criança o máximo possível. Mesmo antes da gravidez, a meu pé no freio da idade sempre me disse pra voltar pra onde eu conhecia. Com o nascimento da minha filha, eu fui obrigada e aceitei que as coisas deveriam seguir seu curso. Eu me arrastei a uma vida mais séria, mais comprometida, mais "adulta". Mas não adiantou, porque não tem como você seguir em frente de algo que você não enfrentou de frente. Basicamente, a volta pra onde as coisas deram errado era um ciclo que eu me via fazendo sempre porque eu nunca superei essa dificuldade. Eu nunca entendi o porque; e é nessas que todo o meu ano sabático de 2016 se tornou, uma volta ao que eu não conseguia superar.
O negócio sobre se autodescobrir é que é algo que não acaba mesmo quando você tem um prazo a cumprir. Eu listei, classifiquei, amadureci algumas coisas em mim, mas só posso esperar que algum dia essa fase termine antes que não tenha mais tempo disponível.
Mas voltando. Anne mesmo na barriga me ensinava tanta coisa, que me faz querer voltar naqueles meses e sentir tudo de novo, e poder aprender tudo o que eu perdi me preocupando com coisas tão inúteis quanto pensamentos coletivos. Devia ter prestado mais atenção ao que ela me dizia. Porém, não é sempre assim?! Só nos damos conta do tempo que perdemos quando não temos mais como voltar a ele.
Por isso as lembranças são importantes. Por isso as fotografias são importantes na vida de uma mãe.
Não é só aquele orgulho sobre o quanto aquela carinha de joelho foi ficando cada vez mais fofa, ou aquele álbum de fotos que precisa ser mostrado pra todo mundo que aparecer na sua casa. É sobre fazer você se lembrar do que você sentia no momento. Eu dedico muito do meu tempo vendo coisas que me façam rever os meus pensamentos antigos. As fotos que eu tiro da minha família é um desses. Não é sobre Fotografia, não é sobre arte, nem necessariamente sobre beleza do momento. É sobre lembrar, gravar para os momentos em que a memória precisará de ajuda. Fotos de Anne são muito mais como um caderninho de anotações pra ajudar a resgatar a felicidade que eu sentia. É por isso que normalmente quando eu estou em um lugar que eu não quero estar, ou quando eu não me sinto bem comigo, eu não tiro fotos.
O que me faz pensar o quanto de mulheres perdem a oportunidade de gravar ou fotografar a gravidez, por tantos motivos diferentes. Porque se sentem feias, porque não era o momento certo, porque não tem certeza se esse é um momento feliz quando as pessoas ao seu redor não estão felizes como você. Devem ter outros. Esses eram os meus. E eu ainda tenho muitas boas fotos, e até vídeos, mas não muito bons.
E chegamos à parte em que eu bato palmas quando as grávidas são o foco dos ensaios fotográficos, não aquela balela de plenitude, igual à cara das madonas nas pinturas renascentistas; não é algo santo, é algo alegre. É mais a retirada das convenções e tradições sobre os corpos e mentalidade materna, é isso o que eu principalmente vejo em ensaios de grávidas diferentes. Tem a ver com outras coisas além do bebê porque antes de tudo, tem alguém nutrindo e cuidando dele por meses e isso já é trabalho suficiente pra merecer todos os flashes para as mães.
Começando pela primeira fase.
Vic & Marie Photography© |
A gravidez
Seis anos atrás eu estava enjoada, me sentindo de um jeito que eu nunca me senti antes. Foi a primeira vez em anos, anteriores e seguintes, que meu olfato deu sinais de vida e me incomodava com qualquer cheiro. A época da gravidez em si me deu sequencias dramáticas, traumáticas, mas ao mesmo tempo muito felizes. Era tão bom ter uma vida crescendo em mim. Eu não conseguiria explicar o quanto era bom. É algo extracorpóreo, mágico e assim como uma viagem no universo sem nenhum equipamento de segurança: aterrorizante e bonito.
As coisas ruins dessa época: eu sentia que as pessoas sentiam que eu não devia ter ficado tão feliz. Eu me sentia envergonhada todo o tempo, e isso não mudou muito nos primeiros anos da vida de Anne. Depois de um tempo tendo que reafirmar pro mundo e pra mim mesma que estava tudo bem, eu consigo até ver luz nesse túnel, mas não dá pra dizer que foi algo fácil, rápido, nem mesmo indolor.
O constante reforço do medo de ficar feia depois de ter filhos é algo que odeio na nossa sociedade. Eu odeio com todas as minhas forças, porque me impediam em muitos momentos de curtir a minha beleza naquele momento. E eu me sentia linda. De verdade, eu olhava no espelho e me achava gata pra caralh*. Mas logo vinha os esteriótipos de beleza na minha cabeça dizendo o quanto eu estava enorme, inchada, "remando como uma pata". Que a divisão entre o meu cabelo crescendo natural em contraste com o meu antigo, alisado e loiro, estava ridículo e dava ar de desleixada. Mas, sabia que meu cabelo cresceu duas, três vezes mais rápido, mais forte, mais brilhante e sedoso? Isso fazia diferença, eu via a diferença, mas os padrões dos outros me feriam a ponto de eu considerar alisar mesmo grávida. Obviamente era impossível, mas não quer dizer que eu não desejasse.
Madonna por Niccoline Cowper |
Não era exatamente o que eu pensava, até porque eu nunca compraria roupas de grávida, mas foi um pensamento recorrente nos anos que se seguiram.
O meu pensamento era me tornar uma mãe gal, que era o meu lado "eu tenho dezessete anos". Eu lia fanfics onde os meus personagens infantis engravidavam. Eu lembro de ter visto a saga de Cell inteira porque eu sempre amei a Bulma em Dragon Ball, e sentia que ela era a única referência de mãe que eu me encaixava.
Dragon Ball me ajudando a encarar a vida desde sempre e além. Amém.
Depois de algumas brigas inevitáveis sobre muito do que eu era e o que eu me tornaria depois de Anne, eu admiti que a maior parte da minha vida, da minha adolescência e disso tudo, o blog, a lolitagem, a falta de compromisso com meu futuro, era tudo uma maneira de tentar me manter criança o máximo possível. Mesmo antes da gravidez, a meu pé no freio da idade sempre me disse pra voltar pra onde eu conhecia. Com o nascimento da minha filha, eu fui obrigada e aceitei que as coisas deveriam seguir seu curso. Eu me arrastei a uma vida mais séria, mais comprometida, mais "adulta". Mas não adiantou, porque não tem como você seguir em frente de algo que você não enfrentou de frente. Basicamente, a volta pra onde as coisas deram errado era um ciclo que eu me via fazendo sempre porque eu nunca superei essa dificuldade. Eu nunca entendi o porque; e é nessas que todo o meu ano sabático de 2016 se tornou, uma volta ao que eu não conseguia superar.
O negócio sobre se autodescobrir é que é algo que não acaba mesmo quando você tem um prazo a cumprir. Eu listei, classifiquei, amadureci algumas coisas em mim, mas só posso esperar que algum dia essa fase termine antes que não tenha mais tempo disponível.
Mas voltando. Anne mesmo na barriga me ensinava tanta coisa, que me faz querer voltar naqueles meses e sentir tudo de novo, e poder aprender tudo o que eu perdi me preocupando com coisas tão inúteis quanto pensamentos coletivos. Devia ter prestado mais atenção ao que ela me dizia. Porém, não é sempre assim?! Só nos damos conta do tempo que perdemos quando não temos mais como voltar a ele.
Por isso as lembranças são importantes. Por isso as fotografias são importantes na vida de uma mãe.
Não é só aquele orgulho sobre o quanto aquela carinha de joelho foi ficando cada vez mais fofa, ou aquele álbum de fotos que precisa ser mostrado pra todo mundo que aparecer na sua casa. É sobre fazer você se lembrar do que você sentia no momento. Eu dedico muito do meu tempo vendo coisas que me façam rever os meus pensamentos antigos. As fotos que eu tiro da minha família é um desses. Não é sobre Fotografia, não é sobre arte, nem necessariamente sobre beleza do momento. É sobre lembrar, gravar para os momentos em que a memória precisará de ajuda. Fotos de Anne são muito mais como um caderninho de anotações pra ajudar a resgatar a felicidade que eu sentia. É por isso que normalmente quando eu estou em um lugar que eu não quero estar, ou quando eu não me sinto bem comigo, eu não tiro fotos.
O que me faz pensar o quanto de mulheres perdem a oportunidade de gravar ou fotografar a gravidez, por tantos motivos diferentes. Porque se sentem feias, porque não era o momento certo, porque não tem certeza se esse é um momento feliz quando as pessoas ao seu redor não estão felizes como você. Devem ter outros. Esses eram os meus. E eu ainda tenho muitas boas fotos
E chegamos à parte em que eu bato palmas quando as grávidas são o foco dos ensaios fotográficos, não aquela balela de plenitude, igual à cara das madonas nas pinturas renascentistas; não é algo santo, é algo alegre. É mais a retirada das convenções e tradições sobre os corpos e mentalidade materna, é isso o que eu principalmente vejo em ensaios de grávidas diferentes. Tem a ver com outras coisas além do bebê porque antes de tudo, tem alguém nutrindo e cuidando dele por meses e isso já é trabalho suficiente pra merecer todos os flashes para as mães.
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