Stella Blu, perda de identidade e o que ser mãe tem a ver com isso
Eu estava escrevendo sobre gravidez e tudo mais, quando entro no tumblr e me deparo com essa artista fabulosa, grávida <3 Tecnicamente, é um 'descobri sem querer' que ela estava esperando um bebê.
http://blog.bystellablu.com/post/160446686453
Stella Blu faz pinturas incríveis com aquarela, e eu devo ter conhecido o trabalho dela no instagram.
Ela também fez o casamento mais legal.
Eu na verdade não sei o que a Blu me lembrou da minha maternidade. Talvez só a foto na frente do espelho. Mas algo lembrou. Talvez o fato de uma amiga minha talentosíssima e professora de artes também estar grávida e eu ter descoberto recentemente também com a gestação super avançada num post no insta. Vai saber.
Uma coisa que eu sinto muito de ter deixado ser feito na minha época de grávida, foi a minha mãe jogar fora todos os cadernos que eu escrevia durante os anos da minha adolescência. Foi uma perda enorme e que dói até hoje, e eu estou nessas de voltar e descobrir o quanto eu sou magoada com essas coisas;
Tinham letras de música que eu criei, minhas paranoias com peso, minhas lutas contra a depressão... tudo lá. E foi jogado fora porque "isso não cabe mais na sua vida".
E eu acabei deixando como se ser mãe me apagasse, ou apagasse o que eu fui, o que eu senti; eu queria recomeçar, mas jogar fora meus pensamentos foi como uma auto mutilação. Fico me perguntando se aqueles cadernos já foram destruídos ou se ficaram em algum depósito, que ainda pudesse ser lido.
Não sei. Foi uma perda artística pra mim. Espero que isso não aconteça com nenhuma obra da Stella;
Os primeiros anos da vida de Anne
Uma coisa que se observa, e que eu já tinha pincelado antes é essa perda de identidade das mães. O que é uma droga, porque isso é uma coisa de gênero. Pais não deixam de ser as pessoas que são, não deixam de almejar o cargo que querem, não deixam de gostar de fazer o que gostam. Mães não. É esperado que a mãe se invisibilize para dar tudo ao filho, ao marido, enfim, à família. O que obviamente não é justo. Se é preciso fazer sacrifícios, que sejam dos dois, ou de nenhum, pois essa balança pendendo para um só lado é, além de injusta, prejudicial à saúde da família inteira. Porque um dia a corda tora. E é algo que é visivelmente problemático somando que mesmo sendo escolha da mulher ficar em casa cuidando dos filhos, mesmo quando é uma escolha (frisando porque tem mães que não tem), não existe super mulher que aguente sã e bem, cuidar de uma criança sozinha. Você perde muito, muito do seu tempo, muito do tempo que você precisa pra assimilar coisas acontecendo, as besteiras que você escuta, aqueles famosos "agora que você é mãe"...
Eu passei por um tempo que estava tão soterrada desses pensamentos que não eram os meus, que não diziam nada do que eu vivenciava, do que eu sentia, que eu passei a tentar apagar o que eu era pra tentar me adequar, pra me sentir melhor, pra me sentir aceita. Eu comecei a seguir páginas conservadoras, anti feministas. Eu estava sofrendo tanto de incertezas sobre a minha vida e sobre como eu deveria pensar que eu estava pronta pra me entregar às respostas padrão. Eu não queria pensar muito, pensar doía. E eu não tinha tempo pra isso, eu tinha um bebê pra cuidar, uma vida inteira que eu nem tinha planejado ainda ruindo, e todo mundo ao meu redor ou com pena, ou com olhares atravessados.
Eu quase surtei.
Na verdade, acho que surtei um pouquinho sim.
Mas alguém me salvou. Alguém me fez ver que eu seria feliz depois que essa confusão passasse.
Mas isso não vem ao caso agora. O caso é que mesmo no meio das piadinhas machistas que eu achava graça porque né, ou eu achava ou eu chorava e eu estava lutando muito todo dia pra não chorar, eu clareei o pensamento. Lembro exatamente o vídeo que eu vi e a discussão do qual eu me envolvi que me fizeram ver o quanto que eu estava precisando do feminismo. Era um vídeo em que um homem negro jovem e uma mulher branca de meia idade eram entrevistados sobre a diferença de salários; eu vi nos comentários o ódio não só às feministas (aqueles seres horrendos que queriam a destruição da família e do homem hétero, era o que diziam); Eu vi misoginia pura ali, alguns tentando apagar os fatos distorcendo informações. Eu vi gente se cegando como eu estava me cegando. E aí eu passei pro outro lado.
Veja bem, eu entendo porque a Sara Winter age do jeito que age (não admiro, mas vejo muito do que eu passei naquele primeiro ano com um bebê sem saber o que fazer comigo ou com qualquer pensamento).
Ela foi de um extremo a outro, e vai continuar assim porque ganha com isso melhor do que se ela estivesse no meio termo. Se a igualdade desse lucro, certeza que o mundo seria diferente pra ela. Ser contra o sistema vigente dói, mesmo o que tenha do outro lado seja melhor. Ficar quietinhas e quentinhas mesmo que na merda, é uma escolha que muitas mulheres, e principalmente mães escolhem. E existe uma lógica compreensível, é um momento que você está mais frágil que você se vê querendo parar de lutar, de deixar a correnteza seguir, parar de tentar nadar pro lado contrário.
É cômodo ser mais amada por defender status quo.
Nem era por esse lado que eu queria me enredar. Mas esse foi o resultado dos pensamentos quando Anne nasceu. Eu vivia pra ela, tirar fotos dela, alimentar o blog dela, passear com ela (...), pra tentar achar algo bonito em mim, pra tentar me reafirmar como pessoa pro resto do mundo. Eu não tinha tempo pra mais nada além disso. De tentar não me achar um péssimo ser humano, uma péssima mãe, péssima filha.
Espero que um dia ela se cure do que a tenha envenenado contra si mesma.
Stella Blu faz pinturas incríveis com aquarela, e eu devo ter conhecido o trabalho dela no instagram.
Tumblr @bystellablu |
Tumblr @byStellaBlu |
Tumblr @byStellaBlu |
Eu na verdade não sei o que a Blu me lembrou da minha maternidade. Talvez só a foto na frente do espelho. Mas algo lembrou. Talvez o fato de uma amiga minha talentosíssima e professora de artes também estar grávida e eu ter descoberto recentemente também com a gestação super avançada num post no insta. Vai saber.
Uma coisa que eu sinto muito de ter deixado ser feito na minha época de grávida, foi a minha mãe jogar fora todos os cadernos que eu escrevia durante os anos da minha adolescência. Foi uma perda enorme e que dói até hoje, e eu estou nessas de voltar e descobrir o quanto eu sou magoada com essas coisas;
Tinham letras de música que eu criei, minhas paranoias com peso, minhas lutas contra a depressão... tudo lá. E foi jogado fora porque "isso não cabe mais na sua vida".
E eu acabei deixando como se ser mãe me apagasse, ou apagasse o que eu fui, o que eu senti; eu queria recomeçar, mas jogar fora meus pensamentos foi como uma auto mutilação. Fico me perguntando se aqueles cadernos já foram destruídos ou se ficaram em algum depósito, que ainda pudesse ser lido.
Não sei. Foi uma perda artística pra mim. Espero que isso não aconteça com nenhuma obra da Stella;
Os primeiros anos da vida de Anne
Uma coisa que se observa, e que eu já tinha pincelado antes é essa perda de identidade das mães. O que é uma droga, porque isso é uma coisa de gênero. Pais não deixam de ser as pessoas que são, não deixam de almejar o cargo que querem, não deixam de gostar de fazer o que gostam. Mães não. É esperado que a mãe se invisibilize para dar tudo ao filho, ao marido, enfim, à família. O que obviamente não é justo. Se é preciso fazer sacrifícios, que sejam dos dois, ou de nenhum, pois essa balança pendendo para um só lado é, além de injusta, prejudicial à saúde da família inteira. Porque um dia a corda tora. E é algo que é visivelmente problemático somando que mesmo sendo escolha da mulher ficar em casa cuidando dos filhos, mesmo quando é uma escolha (frisando porque tem mães que não tem), não existe super mulher que aguente sã e bem, cuidar de uma criança sozinha. Você perde muito, muito do seu tempo, muito do tempo que você precisa pra assimilar coisas acontecendo, as besteiras que você escuta, aqueles famosos "agora que você é mãe"...
Eu passei por um tempo que estava tão soterrada desses pensamentos que não eram os meus, que não diziam nada do que eu vivenciava, do que eu sentia, que eu passei a tentar apagar o que eu era pra tentar me adequar, pra me sentir melhor, pra me sentir aceita. Eu comecei a seguir páginas conservadoras, anti feministas. Eu estava sofrendo tanto de incertezas sobre a minha vida e sobre como eu deveria pensar que eu estava pronta pra me entregar às respostas padrão. Eu não queria pensar muito, pensar doía. E eu não tinha tempo pra isso, eu tinha um bebê pra cuidar, uma vida inteira que eu nem tinha planejado ainda ruindo, e todo mundo ao meu redor ou com pena, ou com olhares atravessados.
Eu quase surtei.
Na verdade, acho que surtei um pouquinho sim.
Mas alguém me salvou. Alguém me fez ver que eu seria feliz depois que essa confusão passasse.
Mas isso não vem ao caso agora. O caso é que mesmo no meio das piadinhas machistas que eu achava graça porque né, ou eu achava ou eu chorava e eu estava lutando muito todo dia pra não chorar, eu clareei o pensamento. Lembro exatamente o vídeo que eu vi e a discussão do qual eu me envolvi que me fizeram ver o quanto que eu estava precisando do feminismo. Era um vídeo em que um homem negro jovem e uma mulher branca de meia idade eram entrevistados sobre a diferença de salários; eu vi nos comentários o ódio não só às feministas (aqueles seres horrendos que queriam a destruição da família e do homem hétero, era o que diziam); Eu vi misoginia pura ali, alguns tentando apagar os fatos distorcendo informações. Eu vi gente se cegando como eu estava me cegando. E aí eu passei pro outro lado.
Veja bem, eu entendo porque a Sara Winter age do jeito que age (não admiro, mas vejo muito do que eu passei naquele primeiro ano com um bebê sem saber o que fazer comigo ou com qualquer pensamento).
Ela foi de um extremo a outro, e vai continuar assim porque ganha com isso melhor do que se ela estivesse no meio termo. Se a igualdade desse lucro, certeza que o mundo seria diferente pra ela. Ser contra o sistema vigente dói, mesmo o que tenha do outro lado seja melhor. Ficar quietinhas e quentinhas mesmo que na merda, é uma escolha que muitas mulheres, e principalmente mães escolhem. E existe uma lógica compreensível, é um momento que você está mais frágil que você se vê querendo parar de lutar, de deixar a correnteza seguir, parar de tentar nadar pro lado contrário.
É cômodo ser mais amada por defender status quo.
Nem era por esse lado que eu queria me enredar. Mas esse foi o resultado dos pensamentos quando Anne nasceu. Eu vivia pra ela, tirar fotos dela, alimentar o blog dela, passear com ela (...), pra tentar achar algo bonito em mim, pra tentar me reafirmar como pessoa pro resto do mundo. Eu não tinha tempo pra mais nada além disso. De tentar não me achar um péssimo ser humano, uma péssima mãe, péssima filha.
Espero que um dia ela se cure do que a tenha envenenado contra si mesma.
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