Eu não gosto do dia das mães

Não, nem é pelo fato da data ter um sentido capitalista onde você tem que comprar coisas pra mostrar que gosta da sua mãe, ou porque as promoções fazem você acreditar que a sua mãe só precisa de um eletrodoméstico ou panelas novas pra se sentir feliz, ou porque as pessoas que passam o ano inteiro sem nem lembrar que mães também são pessoas, e postam felizes as fotos das progenitoras com os
Da Mari
dizeres mais bregas da face da terra em redes sociais. Não. Não é só por isso.
Eu até gostava da data, reunião de família, ver as minhas avós, mas depois que eu mesma virei mãe as coisas meio que perderam o sentido. Eu até tento ainda ter a preocupação de comprar algo pra minha, mas no final, minha filha não entende o sentido de comemorar alguma coisa e eu também não.
Sabe, não é lá grandes coisas você se "sacrificar pelos filhos", até porque não é bem uma escolha. Eu não escolhi ser mãe, muitas das quais eu conheço também não escolheram. Se escolhemos tentar criar os bruguelos da melhor forma... bem... não é como se fosse exatamente uma escolha. Ou é, simplesmente abandonar um bebê?! Não. Não é uma escolha de verdade, e quando acontece (um abandono, ou algo do tipo), você nem é classificada como mãe. Você não é classificada nem como ser humano. Ao final, independente de tudo isso é: você não tem escolha. Ou você tenta ser a melhor possível, e de preferência sem ajuda, ou você é apedrejada. Em alguns casos, no sentido literal.
As pessoas esquecem que ser mãe é um trabalho exaustivo, sem férias, que te causa uma culpa maior do que todas as outras, no qual todos são seus patrões e ninguém é seu subordinado.
Ser mãe é padecer no paraíso. 
Essa é a frase da minha mãe. Ela sempre diz isso. Até hoje eu ainda não entendi o sentido do "paraíso". Ok, é legal ser mãe, mas não chega nem perto da minha visão de paraíso.
Como eu já disse, eu não escolhi ser mãe. Às vezes eu me pego pensando: se eu tivesse uma máquina do tempo e pudesse voltar alguns anos e dizer a mim mesma que eu teria uma bebê linda, perfeita e inteligente, mas isso mudaria a minha vida pra sempre, e eu me tornasse aquilo que eu mais odeio: uma pessoa que culpa os filhos por tudo de errado que dá na sua vida. O que eu faria? Eu voltaria? Porque o meu eu de 17 anos com certeza iria escolher fazer outras decisões se soubesse o resultado;
Tem dias que eu acho que tudo vale a pena. Que minha filha vai conseguir ser melhor que eu um dia, e que não vai ligar pra péssima mãe que ela tem. Outros não. Mas em especial, esses dois ou três últimos dias das mães eu teria escolhido voltar. Talvez isso mude ao longo dos anos. Talvez se um dia o período sazonal da minha depressão mudar. Eu tenho muita tendência a ficar depressiva em maio. Não sei se por causa do meu aniversário, ou por causa do dias das mães mesmo... poderia ser por causa do mês das noivas, se eu ligasse pra isso. É horrível porque é sempre no aniversário de coisas horríveis que você lembra com mais intensidade o que você era, o que você sente nessa época, no que aconteceu nessa época em outros anos, e perde completamente a noção de como você será no futuro.

No geral, esse é pior dia do ano pra mim. Sempre um pouco antes do meu aniversário, sempre o dia que eu finjo ao máximo estar feliz, ou só normal. Pior mesmo que o natal, que é normalmente uma data que eu me sinto especialmente melancólica. É complicado estar uma bagunça por dentro. Hoje eu só consigo pensar no que diabos eu estou fazendo com a minha vida e no que isso vai comprometer a vida da minha filha no futuro. E por mais que eu saiba que esse período de incerteza passa, e o resto do ano vai ter diversas vezes que eu vou ter mais confiança como mãe, é especialmente difícil agora;

É complicado também porque à muito tempo eu não consigo definir o que eu sinto pela minha mãe.

Eu li um texto especial hoje, esse é o melhor que eu li sobre esse dia. Espero que leiam. E me desculpem por esse texto, alguma hora, talvez, quem sabe. Eu disse que eu não queria falar sobre sentimentos nesse blog, mas... não tenho o que fazer. Precisava escrever sobre isso.

Homenagem a todas as mães que erraram.

Comentários

Ryoko Bel disse…
Oi Regina, tudo bem contigo ???
Amei o seu texto, apesar de não concordar com algumas partes dele.
Mas acima de qualquer coisa, respeito a sua opinião, respeito seus pensamentos e respeito seus sentimentos.
Confesso que o seu texto me fez pensar em algumas coisas por outro ponto de vista, um ponto de vista que admito, nunca ter passado pela minha cabeça, por isso te agradeço !!!
Espero que faça mais textos como este !!! ^^

Beijinhos
Hear the Bells
Regina Kadov disse…
É realmente um sentimento bem individual e específico. E não teria como entender sem uma contextualização gigante, ou nem mesmo isso. Talvez seja algo incompreensível mesmo.

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