Fui enganada em pelo menos 40 minutos da minha vida | Hoje

Já foi vítima de estelionatários? Essas pessoas que ligam e dizem que algum parente seu foi sequestrado, ou que você ganhou uma promoção imperdível, mas antes você precisa depositar uma quantia pra receber? Sabe esse tipo de coisa que acontece nos momentos em que você mais precisa de dinheiro, ou que alguém muito querido saiu de casa, e que normalmente você acredita que só os idosos ou pessoas inexperientes cairiam?!

Aconteceu comigo hoje.

E apesar de na hora eu me sentir estúpida e envergonhada de estar já na boca do caixa com alguém me dizendo pra depositar na conta de uma tal de "Diretora Glécia Jacinta" da Claro (não estou responsabilizando a empresa, só relatando os fatos), agência 3281 e operação 013, número da conta 00037987-4; e ter alguém pra me dizer que eu estava caindo em um golpe, eu me senti aliviada.
Eles não me pegaram primeiramente pelo dinheiro, mas pelo sentimento de que eu merecia o dinheiro.
Eu nem esperava fazer algo com 10.000 reais; com esse dinheiro eu poderia fazer muito pouco mesmo. Mas o que me pegou foi eles dizerem "você deve ter feito algo muito bom pra Deus querer te dar isso";
Agradecendo a "Deus" por ter me dado a chance de pensar o que eu realmente faria com isso e porque eu acho que eu mereceria.
Eu não acredito "Nele" primeiramente. Sou dessas que acredita em energia repassada, e sinceramente, não acredito que minha energia nesse momento seja tão boa assim.
Eu nasci pra guerra, pra incomodar, pra questionar. Não vim aqui nessa terra pra aproveitar as férias. Vim porque eu precisei vir fazer a diferença, é nisso que eu acredito;
Então porque diabos eu achei que deveria poder ter 10.000 na minha conta? Que aliás, eles me lembraram muito pontualmente que eu nem a tenho. Conta cancelada por falta de uso. Eu nem uso dinheiro em si. Eu prefiro receber em espécie e gastar assim que posso com comes e bebes. Dinheiro não significa muito pra mim, e eu já cheguei a explicar isso em um post longo de auto conhecimento no blog.
Então quando ligaram pra mim, e eu atendi com toda a minha boa vontade de desligar o mais rápido possível, e não querendo ser grossa, eu ia dizer obrigada mas não tinha interesse.
Mas eles me pegaram. Me passaram números de protocolo, o nome do atendente, falaram que a ligação estava sendo gravada, e me passaram um site com todos os dados do sorteio da promoção; e eu que estava já do lado do computador, verifiquei o site rapidamente (http://www.multipremios.com.br/). Eles fazem com que precise ser rápido, já sendo vinte pras quatro da tarde, impossibilitando de você pensar muito se é ou não verdade. Tinha que ser rápido por questões de que era uma ligação gravada e monitorada pela polícia federal e blablabla não estamos pedindo nenhum dado seu, pipipipopopo, mas "você deve estar muito grata, você deve ter feito algo muito bom porque Deus não daria isso de graça para a senhora".
É nessa que a minha máscara cai e a deles se fortalece.
Eu quis ser merecedora. Eu quis que algumas boas ações, algumas preocupações sociais me trouxesse algo melhor do que só e apenas ser uma doadora. Uma ajuda sem retorno, por se doar ao próximo... e não receber nada além de desânimo com a humanidade é meio... [injusto].
Mas aí percebo, agora, que se eu recebesse algo em troca, além da minha paz de espírito, não seria doar. Seria, assim sendo, um emprego. Um trabalho no qual você se propõe a fazer algo por uma regalia, dinheiro nos dois casos.
Eu não estaria sendo movida por bondade. E sim por ganância, se eu quiser algo mais do que Deus (universo, deusa, seja lá o que você acredite) já me dá eu deveria no mínimo me empenhar mais pra isso;
Mas eu fui, fui pra lotérica ver sobre o que se tratava. As instruções são confusas, eu não escutava direito, e devo admitir, meu olho grande sobre o dinheiro me motivou a ir.

Senão, eu pensei, iria me arrepender por algumas horas, como na vez em que alguns estelionatários ligaram dizendo que a minha mãe tinha sido sequestrada e eu peitei, perguntando qual era o nome dela. O negócio é que ela estava no trabalho, e chegou tarde naquele dia. E embora ter sabido ser um golpe, comecei a me desesperar quando ela passou muito mais tempo do que o normal no trânsito. Depois de umas três horas pensando que poderia ter matado a minha mãe ela chega. E o alívio e a raiva de ter duvidado do meu instinto crescem em igual escada.

No final das contas, enfrentei uma filinha básica da casa lotérica onde me avisaram que era golpe quando eles me pediram pra por 199 reais numa conta. Serviu pelo menos pra eu saber que não dava pra fazer meu cartão antigo funcionar por lá. Continuei na linha com a pessoa, que me passou pra outro homem, e me fez lembrar que o único homem que eu deveria falar ao telefone era o meu pai. Fiquei por mais 20 minutos pedindo pra ele repetir e repetir
 todas as informações que o outro havia me passado, pra passar tudo pra polícia depois. Ele se irritou e eu comecei a gostar da irritação dele por estar chegando à conclusão de que haviam me alertado. Agora, vejo que eu fiquei mais p da vida que ele, por ter acreditado por uns minutos que Deus me daria 10.000 sem eu precisar, com aquele papo de evangélico tirando dinheiro de fiéis e tenha me dado qualquer ideia de que isso passava pelo crivo de honestidade (era mesmo, ele usava muito a palavra Deus, e merecimento e agradecer a Deus, eu sou evangélico, pouco antes de começar a me xingar), e que tudo isso tenha me parece um dejà vu estranho.
Lembro que numa época em que eu era uma pré adolescente outro estelionatário ligou aqui pra casa, usando a mesma desculpa de ter uma suposta promoção por conta da conta de celular que eu tinha. Absurdo, porque como toda adolescente pobre eu colocava crédito já no limite pra não cancelarem a linha. Mas eu fiquei na dúvida. E meu pai também ficou, embora ele tenha tido uma atitude bem mais enérgica quando caiu a ficha de que se tratava de golpe.
Talvez eu seja, além do que eu acredite, uma pessoa inexperiente.

O número deles é 85, alguém de Ceará ou de algum presídio de lá, provavelmente.

O número do qual eles entraram em contato:

85 9.9214-2286

Um obrigada especial a quem me alertou e outro pro carinha da ótica que esperou pacientemente que eu terminasse a ligação pra não ficar com o celular na rua de bobeira e que me fez rever a história mesmo que na hora eu não conseguisse lembrar devido ao nervosismo.
Obrigada!

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