Meu "vício" em pornografia | Nosce te ipsum

postei isso no dia 21 de novembro de 2015, pouco depois de conhecer ele
Acho que começou no tumblr.

Claro, eu sempre li contos, livros, fanfics eróticas. Leio yaois até hoje. Mas essa coisa gráfica e real, eu nunca tinha curtido muito.
Eu sempre gostei muito mais da ideia da pornografia do que o que realmente era.
Hoje eu abro o tumblr e sou obrigada a clicar em "ocultar conteúdo adulto".

 Essa foi a minha entrada ao mundo mais tenso pra mim e a minha história com a pornografia:
A primeira vez que eu me senti inclinada ou ter qualquer pretensão a saber o que adultos faziam para dormir numa cama enorme ao invés de duas camas separadas.
Até o meu aniversário de 6 anos. As minhas primas acharam que seria uma boa ideia fazer eu me distrair da preparação da festa surpresa que acontecia na outra esquina da casa da minha tia. Todo mundo tem uma tia hippie e eu tive a minha muito próxima. Mas ela deixou a gente na casa e foi arrumar as coisas como todo mundo na casa da minha avó, e nós acabamos vendo o filme Kama Sutra.
É um romance trágico pra cacete, mas eu nem cheguei até o final. Eu só venho ver o quanto isso tem a ver porque as primeiras coisas que eu realmente me interessei em filmes pornô foi posições do livro, massagem tântrica e pornô gay.
O pornô gay foi culpa dos yaois mesmo. E os yaois por conta de hentai, e hentai por conta de um mangá que eu achei em casa (não sei de quem, mas marcou a vida de alguém que ficava muito tempo sozinha pra procurar os esconderijos numa apartamento pequeno, no caso, eu), e assim eu me interessei por mangás. E animes. No começo, romances bobos. Daí eu lia fanfics; na época eu tinha 12, 13 anos. Eu falei disso quando eu falei sobre a minha primeira tentativa de suicídio.
Eu conheci meus melhores amigos da adolescência por conta disso.
Uma pessoa na escola nova estava lendo um mangá de Marquês de Sade. Emprestado por um colega que depois viria a ser meu namorado, e esse tinha um conhecimento pesado sobre o assunto.
Depois passei pros doujinshis, e assim, sem querer, aos 18 eu estava muito mais próxima do meu real vício do que de qualquer outra coisa. Meus pais se separando, eu sozinha e trocando de escola depois de uma reprovação idiota(da minha parte) e depois do suicídio de uma amiga que acabou separando meus laços afetivos com meu grupo de amigos. Isso, e claro, mudanças de escola, etc. Ainda os vejo, ainda os amo, mas tudo tinha mudado.
Eu entrava no g.e-hentai. Conhecia as tags. Encontrava tudo. Ainda me focava muito em casais heteros mas foi nesse site que eu descobri o yaoi. E conheci o tumblr. E o que eu sempre achei mais nojento sobre a pornografia se tornou normal, com os gifs fazendo sempre os melhores movimentos e mostrando sempre os melhores frames...
Nessa época eu também passava meus dias sozinha, morando agora só com a minha mãe. A minha gravidez foi consequência desse pensamento, e pra começar a pegar mais pesado com tantos hormônios correndo no corpo foi um pulo, eu já conhecia o xvideos e não via muito, mas tinha começado a baixar todos os mangás yaoi que hoje eu ainda acompanho.
E chegou internet a rádio, e depois gvt e finalmente meu primeiro smartphone, que primeiramente eu não queria usar pra isso, por conta de vírus e todos os alardes (é quase o novo "cresce pelo na mão"), mas virou meu companheiro de noites insones.
Anne dormia, eu lia mangás. Depois de um tempo, nem tinha vergonha de estar vendo à luz do dia, com a minha mãe em casa.
Ela até disse isso uma vez, uns 6 anos atrás.
- Sai da frente do computador, só fica vendo pornografia o dia inteiro.
Eu não liguei.
Eram só romances.
Também vieram os livros.
Ainda tenho duas das séries que eu comecei a ler justamente por serem hot, Foi também a época que 50 tons de cinza estavam no auge, e eu ficava tão entediada em casa que passei a ler até a saga Crepúsculo. Depois disso, só lia dia e noite, a Irmandade, e depois ainda li a série Crossfire. Não engajei muito em outras séries de livros porque a maioria é realmente muito mal escrita. Mas dá pra entender o processo.
No ano de 2016 eu me foquei em outras coisas, mas no final dele, eu me vi desempregada, sem estudar, com nada pra fazer além de ver minha mãe viver a vida dela e Anne a dela. E numa depressão pesada que só intensificou com a morte de um parente. Foi na mesma época que eu criei o FEMPORN, um grupo de meninas pra falar sobre pornografia. Eu queria discutir um pouco, falar sobre o que me incomodava nos vídeos, etc. Projeto falido, ninguém se interessava tanto quanto eu. Mas isso abriu uma janela pro BDSM, e conhecer mais sobre depois de ter passado por dos últimos relacionamento "estranhos", que flertavam um pouco com o kink, me abriu a mente pra muita coisa. Muita coisa que eu nunca pensei em gostar, ou em aceitar de qualquer maneira.
Assisti Don Jon, me identifiquei um pouco. Vi Ninfomaníaca, e me identifiquei minimamente, o que me fez relaxar um pouco, porque eu não ia chegar naquele ponto, eu pensei comigo mesma. Portanto que fosse apenas uma fase e um direito da minha liberdade sexual sendo exercida, tudo ok.
No último ano eu passei a ler o myreadingmanga, que é um ótimo site e é bem específico na busca, dá pra achar de tudo.
Eu dei uma chance ao bara e ao shota. E gostei.
Mas ainda, eu não achava tão estranho. Eu vi Boku no Piko aos 16 anos, 'tá suave. Mas isso deu uma modificada quando eu não via mais as mesmas coisas no xvideos. Eu comecei a ver umas coisas muito estranhas.
Essa trajetória me levou ao dia 1 de janeiro de 2018, com o sol nascendo no meu rosto, deitada na cama vendo pornografia de um homem pequeno entrando em alguém (pornografia em desenho 3d e suas possibilidades...). Ou um vestido de palhaço. E QUERENDO ALGO AINDA MAIS ESTRANHO.
De alguém que gostava de ver pessoas vestidas de estilo medieval pra ver ballbusting ou uso de instrumentos médicos, essa foi minha estrada. E não sentir nada sobre isso, ainda que conscientemente ciente de que estava procurando se excitar...
Desse dia em diante eu decidi que eu precisava parar.
Porque eu não sentia nada. Eu zerei a pornografia como um ex namorado, e um dos meus melhores amigos, me disse.
E eu vi que era um vício real (como o Terry Crews já havia alertado), mesmo que não perigoso, pois eu ainda não consegui parar de ver.
Eu não posso mais fazer isso.
Não dá pra dizer que isso mudou a minha vida. Eu continuo normal e estranha do modo que sempre fui e sempre serei. Mas é uma coisa tão intima e tão confusa que eu nunca consegui debater isso na terapia. Ano passado quando eu precisei buscar tratamento eu pensei só por um instante se eu iria ou não falar pra ela sobre esse vício. No segundo seguinte eu sabia que não ia falar nada, "é inofensivo", "e que inapropriado seria tratar essa questão quando o meu problema real é a minha mãe"; mas juro, minha mãe foi embora e mesmo assim algo continua me machucando. O problema talvez tenha sido que com a minha mãe em casa, eu não conseguia manter o vício.
Hoje eu passo muito tempo sozinha. E provavelmente por isso as coisas tenham se intensificado a tal ponto de que eu mesma estou assustada.
Não é que do nada eu tenha virado maníaca, é só que eu penso nisso todo o tempo em que não estou fazendo nada. Eu não durmo, desperdiço minhas horas de sono pra assistir xvídeos, ou ler um mangá não censurado. Horas procurando algo e ainda assim, nada sacia.
Acho que finalmente eu me dei conta que isso não afeta só a vida sexual do homem, como eu acreditava antes.
Afetou a minha vida afetiva, como eu me relaciono com as pessoas. No fim, é só sexo. Depois do meu último desespero sobre o amor, nunca mais fui a mesma em relação à pornografia, e depois da pornografia nunca mais fui a mesma em relação ao amor.
Não sei como fazer pra me fazer desistir de algo tão prazeroso e tão fácil de se conseguir.
Quanto à realmente considerar um vício real, eu não chego a considerar. É mais uma substituição. É como o vício em comer. É algo que não tem a ver com o cérebro estar condicionado, é sobre ter uma necessidade física saciada, e fazer isso compulsivamente.
É, eu já comi compulsivamente.
Hoje vejo pornô compulsivamente.
É como uma compensação, um presente que você dá a si mesmo quando a vida está uma droga.

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