Materna hoje | Mãe aos 17


Estou oficialmente sozinha.

E pela primeira vez o termo Mãe Solo me parece bem menos triste do que em outros tempos;
Eu nunca fui "mãe solo de verdade", eu tive sorte de ter uma rede muito grande de apoio mesmo solteira. O pai da minha filha, apesar de alguns desentendimentos vez ou outra, ainda é muito presente na sua vida. Ele amadureceu muito e eu também, isso nos proporciona hoje uma conversa saudável sobre o futuro de Anne, relacionamentos com filhos e sobre corações partidos.

Na última conversa, logo após o 25º aniversário dele e o 6º da nossa filha conversamos um pouco sobre como Anne se apegou apenas aos relacionamentos que nos fizeram sofrer muito. Eu tive um desses "relâmpago" dois anos atrás que não importa a quantos outros "amigos da mamãe" eu apresente a ela, ela vai continuar chamando o nome do dito cujo como meu único e perfeito príncipe encantado.

Mal sabe ela a dor de ter que ouvir ele dizer que se as coisas fossem diferentes, ele poderia ter tentado mais. Mas isso não vem ao caso, porque eu não consigo me arrepender da decisão daquela tarde de domingo de páscoa em que eu decidi tomar um vinho com um amigo igualmente deprimido e sozinho e que eu não via a um bom tempo.

Eu tive péssimos e muito boas reações quando 3 meses depois eu tive que admitir que os enjoos matinais não eram uma gripe estomacal. E sim, eu demorei muito mesmo pra conseguir pensar na possibilidade já que afinal, eu tomei contraceptivo. Poderia ter dado mais atenção aos avisos de que pílula do dia seguinte era só em caso de EMERGÊNCIA. Foi meu único "erro". Eu nunca tinha precisado dela antes.

No decorrer dos meses eu tive um apoio descomunal da minha família. Minha mãe foi a mais resistente, obviamente. Eu morava com ela e o divórcio recente ainda fazia dela uma pessoa muito magra e frágil e eu sem querer, dei uma tacada final. Foi o começo do fim pra nós. Mas pude descobrir o quanto meu pai era maravilhoso e me apoiou durante toda a jornada. E minha avós que não tiveram dúvida e me abraçar e dizer que estava tudo bem. E até meus tios, que estranharam, mas amam Anne de forma que eu não poderia agradecer mais.

Eu tive duas quebras de conceitos naquele momento. Um é que por mais que minha mãe tenha tentado esconder, ela se ressentia muito com o meu nascimento, também acidental. Outra foram com as minhas primas mais próximas, que ao contrário do que eu pensava, não ficaram muito felizes por mim. Uma respondeu mais abertamente: "se fosse eu, não estariam dando tanto apoio". E a outra se contagiou com a maternidade e decidiu ter um filho logo depois.

Eu estava feliz demais, mas as circunstâncias deixaram com que a vergonha de ter engravidado aos 17 me engolissem.  

A minha cara no meu chá de bebê é o misto de vergonha e desespero e felicidade mais nítido que eu poderia fazer na vida. Nem atriz consegue isso. Talvez a Viola e a Meryl, mas elas são especiais.

Minha mãe depois de várias discussões e algumas verdades acompanhada de velas teve a revelação dela. Iria viajar e fazer tudo o que não tinha feito em toda a sua vida por minha causa. E eu achei ótimo, me tirava uma carga de culpa que eu não precisava estar carregando a mais dos 15 kg que engordei na gestação. Tudo água, sequei assustadoramente assim que Anne resolveu sair.

E ela fez o que ela queria, e o que não queria, que era cuidar de mim... E me pressionou a um canto que hoje eu não sei se sinto pena da situação, ou raiva, ou medo. A crise de meia idade dela causou um marco sobre a minha identidade visual e que hoje eu vejo que foi o melhor pra nós três. Ela fez plástica em todos os lugares (menos no cotovelo) e eu decidi que nunca ia culpar Anne pelas estrias e barriguinha (que de qualquer jeito eu já tinha, nem precisei dela). Decidi me amar mais. O EU de verdade, a com estrias e manchas de espinha por todo lado. As celulites e as olheiras. O cabelo crespo.

Minha mãe cuidou de mim forçosamente até o semestre passado quando decidimos em conjunto, e junto com muitas lágrimas e raiva e crises de ansiedade, que eramos melhor separadas. Uma coisa sobre mim é que eu não volto atrás quando eu me afasto de alguém. Quando sou eu que escolho, as coisas são naturais até que eu esqueça completamente a outra pessoa. Perdi a minha amiga mais antiga desse jeito, um ano e meio atrás. Ela não teve sensibilidade com algumas questões minhas e eu a joguei fora, como se não fosse muito, e era.

Hoje ela está lá com a minha mãe na casa nova dela, e eu estou aqui sozinha. Num apartamento que eu sempre morei e sempre foi considerado muito pequeno mas que pra mim sempre foi, e é ainda mais agora, enorme.*

Não consegui dormir sozinha.
Não consigo pensar na minha vida sem minha filha.
Não sei como eu seria se ela não existisse em vida.
Não consigo cogitar crescer e amadurecer sem ela.
Quero vê-la crescer e quero que ela me veja crescendo.
Paralela.

Então quando Lucas me diz que pensava que eu passaria a guarda dela pra ele quando as brigas ficaram mais e mais frequentes, eu não penso que conseguiria abrir mão nem pelo bem dela. É uma faca de dois gumes. Não saberia dizer adeus.
Me segurando pra não fazer besteira e podá-la
É engraçado porque meu pai e minha avó sempre me repetiam: Ame a sua filha. Mas eu não sentia o amor dependente que eu sinto hoje. Isso me assusta. Anne vai pra um novo colégio e eu estou muito mais assustada com a mudança do que ela. Não quero um dia passar as minhas inseguranças pra minha filha assim como a minha mãe fez, involuntariamente, comigo.

Não é como um abandono nem nada. É só que o melhor modo de nos deixar saudáveis é estarmos bem com a nossa separação.
@polianafreirefotografia

*Pensando em como foi pra mãe biológica da Nicole Richie.

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