Ontem foi dia da consciência negra! A luta continua!

Perece que ultimamente estou sempre atrasada para os posts. Mas é que tem muita coisa acontecendo na minha vida agora. Depois eu conto sobre isso.
E já faz um ano dessa postagem aqui: Consciência Negra É preciso!
Cinnamon Rouge

Naquela ocasião eu falei um pouco de  como a minha infância não teve muita referência da cultura, hoje em dia isso é bem diferente. Aqui em Pernambuco a gente tem muito das comidas, das danças e da música. Mas também muito do preconceito perpetuado desde as primeiras capitanias chegaram aqui e trouxeram os primeiros escravos. Hoje eu quero fazer um post mais aprofundado sobre isso, sobre a história, e sobre como isso repercute hoje nas redes sociais e no convívio em geral das pessoas.

 Primeiramente, expresso meu desgosto e total desapontamento por todos os que eu conheço que são racistas, ou tem atitudes racistas, ou distinguem qualquer pessoa por qualquer questão levando em conta a cor da pele, seja ela branca, amarela, vermelha, negra, ou a junção de todas elas.

Eu considero pessoas racistas divididas em dois grupos, os que são por (mais) ignorância, e os que são porque tem ódio, os conscientes de que são racistas;
Eu vou tentar explicar: quando você escolhe não saber mais sobre o que a escravidão significa na história, quando você ignora todos os fatores sociais de séculos de opressão e
descarrega toda a sua não sensibilidade, a sua ignorância, seu descaso com a dor de toda uma raça, advinha? Você está sendo racista sim! Querer por o lixo que foi todos os anos em que os europeus mataram, roubaram, sequestraram, estupraram, escravizaram (...), pra debaixo do tapete, depois que eles -finalmente- "concederam" à população negra a liberdade, é muita, muita estupidez. Isso se chama memória, e mesmo que certas coisas você tente esquecer mesmo, não dá pra ser esquecida por ainda haver sequelas na nossa cultura que prejudiquem mais de 50% da população de um país;

 Dói mais quando a pessoa nesse nível de ignorância tem pele clara. Mas existe também aqueles que reproduzem o racismo.

"Ah, mas eu sou negro. Posso falar mal deles." Outra ignorância. Realmente, você "não pode" ser considerado racista sendo você também vítima do racismo, o negócio é que você continua completamente alheio a como esse tipo de frase prejudica não só você, mas seus descendente, sua família e a sociedade em geral.
Eu tenho uma avó que acha horrível o cabelo afro. Diz que não tem necessidade, que as meninas que usam deveriam alisar o "cabelo ruim" que tem. Minha avó não é branca. Tem cabelo crespo. Tem um filho negro, com um homem também negro. Mas minha avó não tem consciência de que é racista. Eu tento minimizar a ofensa, dizer que muitas mais irão surgir, que existe uma moda que reafirma essa onda de lindos cabelos crespos, soltos e que é melhor ela se acostumar com isso.
Eu não corrijo, ela passou de uma época de que é possível se assimilar algo tão diferente assim (ela tem mais de 80 anos). E é diferente do tempo dela com certeza, quando o racismo não era crime, e as pessoas poderiam falar o que quisessem de quem fosse. Alguns comentários são realmente desconfortáveis, na minha família mesmo depois de um tempo observando e prestando atenção à esses comentários. Me deixam muito triste, porque a vontade que eu tenho é ter uma -big fucking-discussão sobre o quanto isso é nojento. Mas eu deixo quieto. Paciência é um dom muito apreciado por mim hoje em dia.


E claro, há aqueles que tem consciência de que são racistas, que tem orgulho disso, e que sinseramente, não irão mudar porque essas pessoas não tem caráter. Mas eu acredito -preciso acreditar- que essas são minoria. Que a maior parte do racismo se conserta com educação e reafirmação da cultura negra. Aos mais jovens, espero que se concentrem em exterminar esse tipo de ódio. Aos mais velhos, espero que parem de reproduzir o tipo de comportamento odiável que observam desde sempre.


Às pessoas brancas que acham que é vitimismo: foda-se. Como muita gente que posta essa resposta de Morgan Freeman. Talvez no contexto dele isso se aplique, talvez ele esteja sendo ingênuo... não sei, não irei julgar sem saber a história por trás dessa resposta, mas não faz das pessoas que compartilham esse vídeo na internet menos propensas a discriminar e propagar o racismo. Esse é problema quando você escolhe não ter uma plena intenção de "não ser racista" com discurso de "somos todos humanos". É que você pode esquecer o que se passou, e não dosar o quanto isso já foi e ainda é um problema pra muita gente. Basicamente, não tape o sol com uma peneira. Parece lindo ser pró-humanidade mas não resolve nada pra ninguém.

Às pessoas brancas que tem um pouco de consciência, mas que não conseguem entender medidas emergênciais como cotas para negros nas universidades, ou não querem ser rudes, perpetuar preconceitos, serem consideradas racistas: estude, leia mais artigos, saibam o que aconte, o que é ofensivo, como você pode não ser menos um opressor e mais um suporte para que esse tipo de comportamento não seja mais necessário ser combatido, porque não irá mais existir. Não é mais algo de difícil acesso. Uma simples pesquisa no google, no facebook basta.

 
Outra coisa muito complicada é explicar para as pessoas que existe seccionismo quanto ao tom da pele. Eu normalmente tenho que reafirmar a mim mesma como mulher negra, numa sociedade que relaciona minha cor mais clara, ou meus "traços mais delicados e finos" como algo que não se encaixa como uma pessoa que realmente sofre racismo. Ou seja, meu nariz não é largo, minha pele é "morena", meu cabelo é cacheado mas não é "duro". Eu sou uma mulata(termo recentemente descoberto por mim, ser ofensivo)? Mas me vejo negra. Hoje em dia consigo ver muita beleza na minha cor, na minha aparência e que eu não via antes.
 
Simone de Beauvoir afirma que não nascemos mulheres, mas nos tornamos. Lélia Gonzalez ao retomar essa linha de pensamento afirma que “a gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha, etc., mas tornar-se negra é uma conquista”. Fonte
Como passei a minha vida presa a um padrão estético que diz que o quanto mais parecida com uma garota americana, e em alguns momentos da minha vida, o quando mais parecida com uma japonesa, me traria mais felicidade. Lembro que uma época da minha adolescência, também resgistrada nesse blog, em muitas fotos eu tentava clarear minha pele. Meu padrão de beleza nos dois casos, era oriundo do padrão europeu. Na época de Lolita, eu passei por muitas situações de me descobrir como uma reprodutora de racismo, já que meninas negras vestindo Angelic Pretty me causava espanto e estranheza. Não me passava pela cabeça que talvez os meus olhos estivessem filtrando a achar tudo o que era de pessoas brancas ou asiáticas lindas, e as negras não (aliás, nem todas as asiáticas, só asiáticas com características europeias, como os olhos arredondados, lentes azuis, nariz fino). Sem consciência do meu racismo, impregnado na minha mente por anos e anos de refências estrangeiras eu cheguei a ter pensamentos muito idiotas, contra os outros e contra mim mesma.
 E foi numa dessas de estar num grupo potencialmente racista eu fui apontada como alguém assim, e passei também por um período de negação. Hoje eu luto pra não ser como eu era, não escolher primeiro a pessoa mais branca como bonita, e a negra como feia. Embora eu consiga admitir hoje, que os padrões de beleza que eu admiro desde a infância ainda se fazem muito presentes. E eu me sinto envergonhada por isso.
Explicando isso em fatos: o "grande amor da minha vida", o primeiro pelo menos, era branco. O pai da minha filha tem pele clara, o que fez a minha filha mais clara do que eu. E me pergunto hoje, com um pouco mais de leitura sobre o assunto, o quanto da frase "Embranquecer a família". Sabe essa história? De quando alguém mais velho e ignorantemente fala pra você que casar e ter filhos com um homem de olhos azuis e cabelo "bom". Bem, parece absursdo, mas me pergunto o quanto disso está enraizado na minha mente, na mente de muita gente que eu conheço. Mas depois eu ainda farei um post sobre padrões estéticos.
 
Voltando:
Eu sou considerada negra ou não?
Bem, é sim verdade, ser mais clara me traz um série privilégios, como por exemplo, não sou perseguida numa loja como se fosse roubar algo, e nunca fui abordada por um policial por estar caminhando em local suspeito, acusada de entrar na faculdade pública por meio de cotas, ou outro tipo de preconceito dessa magnitude. Mas às vezes paro para ler sobre, e ontem eu estava lendo sobre essa frase:

Partindo da famosa frase proferida por Gilberto Freyre “Branca para casar. Mulata para fornicar. Negra para trabalhar”, a artista tece obras que questionam as formas de representação da mulher negra: seja a mestiça hipersexualizada, de formas exuberantes e sempre disponível para o sexo, seja a negra escura para o serviço braçal. Fonte
Me perguntando ainda agora qual o meu papel como negra nessa sociedade. Mais reflexões futuramente.

 
Reflitam também sobre essa música:


Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir

Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Eles estão baratinados
Também querem enrolar

Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso

A verdade é que você,
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará crioulo

Sarará crioulo, sarará crioulo (2x)
 
 

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