Maio

Maio é o mês que eu começo sempre com o pé atrás em tudo.
Começa logo com dia o trabalho. Um primeiro soco na cara, não sei o que as pessoas fazem com seus empregos, vivem pra chorar, odiar, reclamar, e mesmo assim saber que não seriam felizes sem eles. Total contradição pra mim.
Segundo é que é mês das noivas. Outra coisa que eu não entendo, porque aparentemente ninguém tem motivo pra se casar, se juntar, que não for ter que acabar com outro casamento igualmente falido, que é o com seus pais, e depois passar a vida querendo sair desse outro compromisso sem futuro, onde o "único meio de sair é morrendo", ou se a outra pessoa achar que não vai a nenhum lugar com você... ou você mesmo pode chegar a essa conclusão. De qualquer jeito, coisa sem sentido.
Outra é mês das mães, então as pessoas ficam desesperadas pra dizer o quanto amam suas mães e elas por outro lado, nem sei se percebem essa necessidade de dedicar um dia no ano, porque passam os outros 364 dias reclamando que os filhos não fazem nada por elas, ou que estão sendo esquecidas, ou coisas do tipo. Tem aquelas exceções que sabem viver sem a necessidade de reconhecimento constante, mas são tão raramente encontradas, que não vale muito a pena questionar ou não sua existência.
E tem o aniversário de muitas pessoas que eu conheço, e o meu próprio. Outra coisa que eu decidi que não queria mais me importar, mas sinceramente, não consigo me desvencilhar da necessidade de querer receber uma medalhinha por estar viva, aqui com todo mundo, embora sabendo que isso não vai me levar a nada. Nem a necessidade de comemoração, nem a vida em si.
Basicamente o que eu faço nesse mês, e em todos esses itens de comemoração é comer. Não suporto comer, tudo o que eu ponho pra dentro me faz mal, algumas coisas mais ou menos, mas normalmente tudo o que eu sou "obrigada" a comer quando estou com outras pessoas, comemorando ou qualquer coisa em algum momento vai me fazer mal, seja no dia seguinte ou depois de duas semanas. No dia seguinte é muito provável que eu não consiga produzir nada, pois estarei tentando com todas as forças do meu corpo assentar tudo no meu sistema digestivo, não conseguirei pensar, nem me exercitar, nem escrever, nem fazer sentido pra mim mesma.
Os outros dias passarei me sentindo péssima por ter comido coisas que eu sei que eu não posso comer, e lembrando de todas as razões de não poder comer, e com raiva de mim, e de todas as regras de alimentação que fazem que eu não volte a comer normalmente, como qualquer uma das pessoas que tem as ideias lindas de levar todo mundo pra comer num lugar só coisas que elas não podem comer em suma todos os dias.
Um erro na minha alimentação me leva a semanas pra me recuperar. Semanas pra me recuperar me deixa em desespero de perda de tempo. E tempo, meus amores, é algo que estou sempre correndo atrás. Como um cachorro atrás do próprio rabo.
Digo isso porque não consigo me concentrar o suficiente, por mais que eu tente a quase vinte dias. Voltar às minhas atividades normais, a produtividade que eu acreditava estar alcançando, e que no final, quando entro em desespero esqueço tudo porque um erro me leva sempre a outros cinco, e por aí vai se multiplicando. Conseguir um ponto de equilíbrio em mim leva meses, e é destruído em poucos segundos de "ah, só hoje". Às vezes a sensação é imediata, ou poucos segundos antes, mas aí você olha ao redor e vê que ninguém está em pânico porque essas coisas vão definitivamente fazer mal em algum momento, e tenta relaxar o máximo, mas a verdade é que a crise de pânico já está lá. E só vai piorar nos dias seguintes.
Passei muito tempo falando pra mim que isso é a pior coisa que você pode fazer é culpar os outros por escolhas suas, e no final eu só tenho a mim mesma pra me culpar por estar pior que João e Maria na panela da bruxa má da casa de doces. Você é o que come, afinal.
E é nessas que eu fico depois de comida demais. Com pensamentos compulsivos de que está tudo errado, meu corpo passa muito tempo trabalhando em nada construtivo, e o meu cérebro também.

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