"Olhos distraem"

Já pensou em quantas vezes os olhos das pessoas te distraíram? E traíram também?
A verdade é que você só pode ver os seus próprios olhos na frente de um espelho, e ainda assim, sua mente se condicionou ao longo da vida, a pensar primeiro com a ótica de outras pessoas. Porque você vê sempre os olhares deles. Esquece que tem alguém que sempre está observando você, que é você mesmo.
Eu passei muito tempo da minha vida olhando para o espelho. Me acho realmente divertida, e às vezes deixo algumas poucas pessoas entrarem na conversa. Vou dizer, é muito, muito mais legal aqui dentro. É como entrar em um mundo sem regras, as regras vêm, é claro, mas há uma discussão civilizada e sincera entre as pessoas e elas chegam em um consenso sobre algumas coisa, algumas outras, não. Mas no final, fica tudo bem, porque independente de quem esteja falando, e levantando argumentos, se sabe que é um tribunal em que cada um irá escolher o que é melhor pra si.
Pode-se dizer assim, meu palácio mental é um eterno tribunal, porém muito mais civilizado. Muito mais agradável.
Mas, vamos voltar aqui pra esse plano, onde sempre há alguém pra te julgar sem debater, sem te conhecer, sem parar pra pôr seus sapatos. Me pareceu sempre um sofrimento desnecessário estar aqui, se eu poderia estar comigo e com algumas outras pessoas, sem ter que me distrair com todas as outras opções. Os olhares das pessoas que não me conhecem não deveriam interessar, não deveria ser assim? Mas em algum momento você descobre que ninguém está vendo o que você vê. E outra, ninguém está preocupado com reconhecer que cada entrada é importante, cada vez que você está em transe é um passo muito mais importante do que pisar na lua. Os olhos dos outros distraem, justamente por verem o mundo da sua ótica, e eu me distraí tentando ver de onde cada ótica vinha.
Não dá pra ver como o mundo te vê, pelo menos não se as pessoas não sabem que cada um tem um modo diferente. É como estar preso em uma cela, de vez em quando dá pra sair dela e andar pela cadeia, ver as outras pessoas que você conhece em suas próprias celas, chegar até a janela onde dá pra ver o mar, e voltar para a sua cela porque sabe que se sair, terá que ser sozinha, e você não quer ter que se arrepender de ter deixado alguém pra trás. E ainda assim, saber que não dá pra libertar todo mundo.
Talvez aquela pessoa que você escolheu não era a pessoa certa, ou no momento certo, ela pode não saber o que está perdendo, pode não saber que está presa. E é isso o que sempre fica acontecendo, toda vez que posso sair, me entristeço pelos outros presos e volto pra minha cela. Talvez se eu puder fazer dela mais agradável, as outras pessoas não sofram tanto. Mas então, depois de muito tempo fazendo isso, você se acostuma a ficar sempre na sua cela. E começa a se agradar dela, afinal, não posso deixar eles aqui, nem posso me libertar sem deixar todo mundo aqui. Se fechar, e viver como todos os outros que nem sabem que estão presos é o que resta a se fazer. Essa chamada solidariedade. Você se convence disso, e vive, parece uma melancolia saudável. Mas vou dizer uma coisa. As pessoas nem sabem que você está lá. Aquela sensação dos olhos te seguindo, enquanto você está andando entre as celas, são olhos cegos. A tristeza delas não é porque estão presas, e nem ao menos porque estão de vendo ir embora. É um tristeza por estarem vazias;
No momento em que você vê o vazio daqueles olhos cegos, fica desesperado para saber se não tem esse mesmo problema. Um problema de voltar para a cela é que lá não tem espelho, como você vai saber se não é tão vazio quanto os outros são?
Mas o que podemos dizer, de vez em quando tá pra ver um espelho. Em olhos muito lacrimosos. Aí, do nada você se lembra que na verdade dá pra sair, que você tem a chave, que dá pra sair dessa prisão, você só tem que ter a coragem suficiente pra deixar todo mundo e pular, pra sair disso, sair dessa rotina escravizante do "normal" e "aceitável".
Do seguro, do "é melhor pra você"... e todas essas ideias que vem quando esses olhinhos cegos te direcionam para sua cela. Vidas tão limitadas em sua própria versão de realidade.
Não se identifique, não se identifique, não se identifique... deveria ser esse o mantra mais específico que alguém pode manter; 

LOUI JOVER

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