Ah, os costumes
Estava vendo sobre como sair de crises, a primeira vista procurando sobre como sair de crises pessoais, mas estamos em 2016, e tudo o que se fala em português é com o nome de crise no meio, sai muito do que eu não queria ler ou ver/ouvir naquele momento.
Mas de qualquer jeito fui olhando e pulando o que eu não me interessava. Muitas teorias de como sair da crise financeira, muitas mais falando sobre a crise política com soluções obviamente equivocadas, dado ao fato de que estamos no século vinte e um, e não no período feudal. Opiniões à parte, vi alguns vídeos que o YouTube me recomendou.
O primeiro que eu gostaria de comentar era o de uma empresa especializada em resolver problemas de desencontro pessoal, eu imagino. Me interessou até o momento em que a pessoa me falou que nunca passou por um momento de estado depressivo, mas explicava com o relato de outras pessoas sobre o problema, e obviamente deve dar uma solução genérica para esse estado, mas eu não consegui ir até o final do vídeo.
Sinceramente não vejo como uma pessoa que nunca sentiu depressão pode ajudar alguém. Gostaria de ver alguém que tenha passado por crises do meu tipo e que tenha uma experiência pra me passar, e que seja inspiradora, e que me diga que tem luz no fim do túnel. As coisas que eu encontro normalmente são soluções superficiais, e olha que eu já tentei boa parte delas, ou pessoas dizendo que é uma doença que não tem cura. Que é controlável, mas que não existe certeza para com a remissão desse câncer espiritual. Tem as terapias holísticas e religiosas também, que eu gosto de escutar sobre mas sinceramente, eu não me identifico tanto quanto gostaria. Veja bem, gostaria de ter esse amor a Deus como as pessoas colocam, como se Ele fosse uma entidade, mas eu não vejo Deus desse jeito. E eu sei que ele está em mim, só que o problema é todo esse, ele tá bem escondido debaixo de toda a bagunça da minha mente e do meu coração, bem mais longe quando eu não durmo o suficiente.
Outro vídeo que eu assisti falava sobre a crise do Brasil, mas mais especificamente sobre a crise do Brasileiro. Em como somos vaidosos e egoístas, em como nosso pseudo-altruísmo é unicamente direcionado aos nossos familiares e amigos, e como isso é o verdadeiro problema entre nós como nação. E era um texto de uma pessoa que não é brasileiro, o que me deixa incomodada, pois como eu já devia ter escrito em alguma hora, mas esqueço sempre, é que nós somos uma das populações que mais tem em comum com senhorinhas do século passado. Podemos viver na imundice, mas quando temos visita nos desesperamos em arrumar o máximo que der o nosso cantinho. Não tem como esconder a sujeira, mas gostamos da ideia de que se afofarmos umas almofadas de cores berrantes, dê pra chamar mais atenção do que o sofá podre. Não tem como eu não imaginar isso todas as vezes que vejo algum cartaz infeliz pedindo intervenção ou desculpas a estrangeiros. E sentir uma imensa vergonha. Não só pela mensagem ou pela situação precária mesmo, mas sinto muito mais pelo desespero sem limites de ser aceito, dessa "síndrome de cachorro vira-lata" que, no geral, temos.
Passamos tanto tempo sentindo vergonha, ou comparando o Brasil com outros países que é de se esperar mesmo que não tenhamos uma boa vida em sociedade, ou uma boa política, ou qualquer coisa que valha para o bem de todos. Realmente nos preocupamos demais em sermos cordiais e sorrir pro colega de trabalho quando ele fala alguma barbaridade; nós ficamos o ano inteiro pensando em como fazer viagens internacionais, sem nos preocuparmos com reformas nas políticas públicas, ou mesmo nos pensamentos de séculos atrás que ainda insistimos em manter. Passamos anos e anos querendo uma bolsa na faculdade mais cara, ou pra entrar na universidade pública sem nem ao menos termos uma motivação ou ideia do que queremos para o futuro. Deixamos "os desocupados" fazerem as greves que todos teríamos que fazer pra garantir os nossos direitos, fazemos ainda pouco caso dos que lutam por direitos iguais, abaixamos a cabeça e ainda dizemos pra todos e pra nós mesmos: "Brasil é assim, e sempre vai ser".
Pensamento mais mesquinho que esse não existe. Acho realmente que há divergências muito grande sobre como o mundo deveria girar, mas a ideia de igualdade não deveria ser... bem, igual? Sabe, a sua família não deveria ser o centro da sua visão de mundo, você não deveria ser justo só com as pessoas que andam com você, você não deveria ser educado só quando está no ambiente de trabalho, você não deveria falar de Jesus a torto e à direita quando você acha que só quem merece perdão divino são as pessoas que concordam com as suas opiniões. Básico isso, não é não?!
Barbara Kruger |
Esquecemos isso, e só nos lembramos quando um gringo nos mostra em um texto o quanto somos avessos a mudanças de hábitos. Hábitos de dar opiniões sobre o que não entendemos, e que nem ao menos nos interessamos em saber a respeito. Hábito de criticar a vida do próximo e nos acharmos melhor, quando nem ao menos olhamos pra nós mesmos. Hábitos de considerar pessoas, apenas aqueles que agem como eu ajo. Hábitos esses que podem ser mudados, independente de como seu pai e mãe te criaram, independente de Dom Pedro I ter sido um mau governante, de que seu tataravô tenha nascido na Africa como príncipe, ou como judeu na Alemanha ou da família real portuguesa. Ter noção da história é bom, é ótimo, mas só se as pessoas aprendam com isso, e não pra repetir os mesmos erros achando que irão ter um resultado diferente só e apenas porque "estamos em 2016".
Pois é, estamos em 2016... Por que não começarmos a viver como se realmente estivéssemos no futuro?
Comentários