Sobre ódio e casos isolados

Eu, eu mesma, a mim, pessoalmente... estou aqui para repensar essas muitas variedades de disputas de egos e infinitas causas para o problema básico de qualquer ideologia, a ideia de que todos vivem iguais a nós.

Vejo que extremismo não é o problema, coisa que é repetida como um mantra por muita gente em redes sociais, porque não existe essa pessoa que ache que suas ideias e ações são extremas no contexto que ela se insere, é uma denominação que a pessoa que está de fora nos dá, é algo externo, e às vezes não perceptível para a pessoa ou grupo assim denominado. Mas vemos que isso é um conceito muito divulgado, como se fosse uma verdade absoluta, e que não é discutido o fato de que cada pessoa é diferente, e que não contempla os reais fatos: vivemos de modo diferente a nossa ideologia e de como nos encaixamos no ambiente comum que é o de movimentos sociais.
Entre vários paradoxos sociais mais comuns são as "pautas da esquerda" versus "pautas de direita". Entendo que a maioria da população, incluindo a mim mesma, esteja engatinhando ainda sobre como vemos a democracia e a política no país, e de como os dizeres dos professores de história estão ficando cada vez mais para trás já que cada um dos movimentos criou sua própria versão de passado, e mesmo que você ignore a história por trás dessas duas vertentes e foque apenas no presente, sempre algo irá cair em contradição,  e acabamos que cada grupo irá jogar na cara do outro toda a sua ignorância sobre diversos assuntos.
Basicamente o que eu gostaria de dizer à pessoas: você só pode, nesse momento da vida, ser três coisas, ou é direcionado para a esquerda, ou direcionado para a direita, ou não se interessa por política em nenhum caso (o que é quase impossível, já que política é pra todo mundo, não só pra A e B, o X mesmo que desconhecido e/ou desconhecedor, faz parte). Faça uma lista de coisas que você acredita, mesmo que não saiba muito sobre cada assunto abordado e veja de que lado está pendendo. Não é necessário estar de acordo com todas as coisas, e todos os conceitos e todas as problemáticas, mas é bom se auto conhecer, até mesmo para evitar atritos desnecessários.
Estar em cima do muro, tentando entender as questões de um lado e de outro é importante, é saudável e todos crescemos quando discutimos. Mas vamos discutir cada caso, cada questão de modo inteligente, pacífico e sem (tantos) pré conceitos formados? Acho que dá, não é algo utópico, e que infelizmente iremos tropeçar no caminho pois demanda pelo menos um estudo e uma desconstrução diária. Mas é um exercício, como qualquer outro, e felizmente ou não, não precisamos mais ler todos os livros que pudermos para afiar a mente.
Hoje estamos mais simples, porém mais sensacionalistas. Ou seja, um review de livros está muito mais fácil hoje do que ler o livro inteiro. Lado bom, podemos nos permitir usar o tempo para ver as objeções e discordâncias do livro em outras publicações, porém o lado ruim é não sabermos mais o que é uma explicação rasa ou só um resumo da obra;
Solução prática que eu aplico é tentar ver pela ótica das pessoas pior representada (que devo dizer, é mais fácil pra quem já é de minorias entender esse conceito). Ler e duvidar das afirmações que te fazem por todos os meios de comunicação, é uma pequena parte do treino para se tornar uma pessoa consciente. Praticar o uso consciente de pesquisas e de dados estatísticos, e principalmente confrontar as fontes e comparar os resultados.
Tudo bem você ler e concordar com diversas ramificações de dois lados diferentes, mas entenda que a "sua opinião" é restrita ao que você conhece, não necessariamente engloba todas as pessoas. Não é só porque você lê uma página na internet do outro grupo, ou que se considera por alguma razão de tal ideologia, que é o equivalente ao grupo no todo. Não é porque você conheceu uma pessoa mal educada, ou foi rejeitado por algumas pessoas que não concordavam com o que você dizia que isso é necessariamente a verdade absoluta sobre todo mundo que concorda com as mesmas coisas que essas pessoas.
A razão que vejo para isso é que não sabemos lidar com saber de outras pessoas que elas tem vidas, experiências, valores e ideais diferentes dos nossos. A internet amplificou muito e fez da percepção disso mais rápido do que estávamos acostumados a perceber as noções de diferenças. Ou seja, sempre soubemos que somos diferentes, mas tentávamos sempre nos encaixar no contexto social. Mesmo que pensássemos coisas diferentes, quase nunca nos permitíamos discordar ou debater, só pra manter essa política de boa vizinhança e ideias de que temos que ser cordiais e simpáticos. Nos acostumamos a pensar que discussão de partes que não concordam é necessariamente uma briga, e que toda briga pode sair em violência.
É algo sutil, mas nossas vidas como elas foram contadas e regidas pelos outros quando aceitamos de bom grado os ensinamentos dos antigos só pelo fato deles serem antigos deixa de fazer sentido a cada minuto que passa.
Eu sei que pode ser desesperador, mas não é algo necessariamente ruim. Não ter mais essas amarras pode e deve ser usado para a evolução de pensamento, e por mais que doa, a desconstrução das verdades absolutas serão o futuro. É duro ter que deixar nossas certezas de lado, assim como é duro deixar a chupeta, mas nós precisamos crescer. E a hora é essa. Já está passando, na verdade.
O ódio que eu vejo sendo formado tem muito a ver com a ideia de que o futuro não precisaremos mais de raízes. Ou seja, não ter alguém, alguma visão de pais e de sociedade para que nos diga o que é certo e o que é errado nos dá a sensação de que o mundo irá se perder em caos. Estamos, e eu sei que isso me inclui, em estado paralisante vendo as coisas mudarem mais rápido do que o normal que sempre acompanhamos, e isso causa uma tentativa, de pessoas em pânico, de tentar voltar a um passado que não será mais permitido nesse futuro, nos frustra e nos causa raiva e que com o passar do tempo (e nem precisa ser muito, as coisas estão evoluindo rápido até nesse sentido), se não há tendência à mudança, se transforma em ódio.

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