Como é fácil se perder na ideia da felicidade

Me vejo perdida muitas vezes no ideal de felicidade das redes sociais; aparentemente todos são felizes e sorridentes, e quando não é sobre alguma tragédia universal, algum olhar vago sobre a vida alheia. Mas nem tudo, mesmo no facebook, ou no instagram, ou mesmo no twitter é um apanhado geral de um dia na vida daquela pessoa. É um resumo de um momento de inspiração, ou de felicidade, e que a pessoa precisa compartilhar porque precisa lembrar que em algum momento da vida é feliz. E se dizer politizada, nem sempre é tida como correta, é verdade, mas ao menos é uma forma de fazer a vida ser um pouco menos chata, um pouco menos medíocre, e um pouco menos estagnada.
A raiva e revolta propagada é uma válvula de escape quase perfeita. Por um lado, depois de despejar toda a sua dor e todos os seus medos você se sente mais leve, mas o risco de falar algo que fira alguém num nível geral é grande. Ou seja, não é bom quando as pessoas reforçam o pensamento coletivo preconceituado só porque foi assaltado por um negro, ou por que tem um caso islamistas querendo matar alguém... pensa bem. Tudo bem ter medo, mas todos estamos passando por um processo doloroso de desconstrução de diversas barreiras que a internet nos proporcionou com muita facilidade. Antes só se poderia saber sobre outras culturas, e vivências se lesse muito, e a realidade é que quase ninguém lia nada, afinal todos estavam muito satisfeitos em saber da vida do vizinho e reclamar da vida dos primos. Hoje tentamos fazer a mesma coisa que sempre fizemos num mundo em que isso não cabe mais. Falar mal e fofocar está virando algo redundante, ou em desuso. Pra que falar mal da pessoa que vive falando mal de si mesma na timeline, seja por falsa modéstia ou por falta de amor próprio?! Por que falar, de qualquer jeito, todo mundo está vendo a vida daquela pessoa, parou de ser novidade... tudo agora é muito "para que?". Por um lado é muito bom, e bem aproveitado se alugar esse tempo em uma atividade mais interessante e produtiva. Por outro lado, é mais um desses costumes bárbaros que nos seguramos como certeza na vida, e é cada vez mais nítida e evidente, é a incerteza. Isso traz medo e insegurança, e quanto mais medo sentimos mais agressivos ficamos.
Somos animais acuados com o mundo mudando a cada hora que passa. A moral e os bons costumes estão se chocando com tudo o que conhecemos. Viramos crianças órfãs. Porque as antigas certezas e ideais de felicidade vieram das primeiras noções de vida, com os nossos pais e familiares. Agora nos chocamos com a realidade de cada vez mais pessoas e das mais diferentes culturas e estilos de vida, e mesmo tentando com afinco sair da caixinha que era ao mesmo tempo limitante e segura, criamos um sentimento de eterna dúvida. As diversas experiências que agora tentamos compactar agora, nos dizem que cada caso é um caso e que cada pessoa vai preencher as lacunas entre os fatos e o imaginário com as suas próprias convicções e opiniões. As provas agora são mais refutáveis do que nunca, mesmo com as inovações e diversas tecnologias para ajudar, os argumentos visados em como nos sentimos quanto a cada caso é cada vez mais exposto e revisto um milhão de vezes.
E é bom, e é ruim. Antes eu duvidava ouvir alguém falando claramente e com toda a certeza do mundo que tortura é um meio viável, hoje vemos gente que sabe ler e que leu alguma coisa na vida dizendo esse tipo de estupidez. É como se não tivéssemos aprendido porque agora conta mais a idealização de que "os fins justificam os meios". Só que isso nunca dará em nada certo, ou justo.
De qualquer jeito, a conversa aqui era sobre as falácias que criamos quando não vemos o dia a dia das pessoas como um todo, e interpretamos o momento de postagens como o cotidiano geral de uma pessoa, principalmente daquelas que não temos muita intimidade. Mas é realmente péssimo quando nós já fomos próximos dela e nos deparamos com a sensação de inveja e recalque. E acontece. Seja devido à baixa autoestima mesmo, ou só mágoa momentânea, nos pegamos pensando "será que ela parece mais feliz porque eu não estou mais do lado dela", ou "ela está tão feliz assim porque deve estar fazendo algo imoral", e esses pensamentos que nos destroem por dentro, nos corroendo com ódio e medo de que nunca seremos tão felizes quanto o outro, quando na verdade, e conscientemente nós sabemos, a vida alheia é tão cheia de problemas e tristezas, e incertezas e bem, realidade, como a nossa. Como a de todo ser humano na face da terra.
Então porque em que mundo é esse que nos escondemos no nosso cérebro às vezes para acreditarmos nesses contos de fadas de internet, e que só acontecem na nossa cabeça? Porque é óbvio que nem o objeto de idealização se dá muita conta de que está contando uma mentira. Não é que a menina maquiada queira parecer um ser plástico nem nada, ela só quer se sentir bonita de vez em quando. O carinha bombadão só quer mesmo poder vencer os desafios de pesos e aparecer cada vez com os brações maiores. E não é um problema. O problema é você se doer com isso, e julgar que só você é profundo e inteligente quando na verdade é só uma pessoa com uma imaginação nem tão fértil assim e com muito tempo ocioso pra estar sentindo incômodo com o resto do mundo que não lhe cabe.
No final das contas, não importa quantos livros uma pessoa lê, portanto que ela absorva informação não tem problema ela ver os videozinhos no youtube, de qualquer jeito ninguém que a julga está passando mais tempo do que ela nas redes sociais. Porque não começamos a prestar menos atenção às vidas, tanto à nossa procurando defeitos demais, quanto às dos outros procurando supostas qualidades ou futilidades.
Vive pra fazer algo mais divertido do que o falar por falar.

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