Sobre gatilhos

Estou péssima.
Estou assim a semanas, não sei bem porque.
Na verdade, até sei, mas não era bem os motivos convencionais pra me deixar nesse estado.
Tá certo, estou indo mal no curso, me sinto ainda pior com relação à minha mãe e à maternidade em geral, estou ficando cada vez mais cansada e me alimentando menos, minha saúde mental está padecendo... mas cheguei hoje à conclusão de que talvez essas sejam as consequências, sejam resultado de um sentimento de mal estar generalizado provocado por outras coisas.
São livros, filmes, séries, notícias, o entretenimento que eu ando consumindo, tudo está me deixando cada vez mais desanimada com a vida. Estou perdendo a fé no otimismo, por assim dizer.
Vamos relembrar o que tem acontecido ultimamente.

Caso 1: Emilly
Eu venho acompanhando pela internet do meio pro final a trajetória de um casal, num programa de realidade simulada.
Sim, eu vejo (mesmo que pelo twitter), o Big Brother Brasil.
Todo os dias até a saída do Marcos eu recebia sem querer, ou querendo, as notícias de como andava o relacionamento deles. Foda-se a casa, dane-se o jogo. Tudo foi sobre o relacionamento deles.
Essa semana finalmente chegou ao ápice.
Ele quase bate nela. Pelo menos esse foi o meu medo, e o medo de um monte de gente que ligou pro 190 pra denunciar a agressão feita pelo médico. Aquele, que no começo parecia um príncipe, tentou de todas as formas conquistar o coração da menina chorona, frágil, novinha, impressionada, e até um pouco boba; eu queria escrever sobre isso, mas não sei se terei estômago.
Mas a questão é que eu me vi no lugar dela. Quem nunca se apaixonou por um cara que parecia legal, evoluído, que "fazia tudo por você!"... eu não sei se quero entrar muito nos meus antigos relacionamentos, não quero lembrar coisas que eu nem estou realmente me lembrando. Se foi comigo ou não, não interessa. Eu me pus no lugar dela essa semana, e ainda está doendo.
Ruim não só as cenas de intimidação, de insistência ou de violência mesmo. Foram os comentários das pessoas ainda apoiando a eles como casal. Me deixou doente, porque mesmo estando errado, e eu sei disso, já fui e sou em muitas ocasiões ainda conivente com relacionamento abusivo. Eu sei que está errado, mas ainda amo o drama. Comigo, com os personagens que eu gosto, os que eu crio, ou mesmo com relacionamentos de outras pessoas. Eu sei que está errado. Mas eu gosto mesmo assim.
E é por me ver nela, na Emilly, nas atitudes egoístas dela, e até nas do Marcos, na falta de atitude dela e dos outros com relação ao affair, nos fãs do casal, na sociedade extremamente doente, em tudo isso.


Caso 2: Hannah
Quando eu fiz a postagem dizendo, desabafando na verdade, o quanto eu estava revoltada com aquilo tudo passado na série, eu não queria ver o quanto que havia verdade no discurso vingativo da Hannah.
Fico repetindo a porra desse nome o tempo todo, odeio.
Mas é. Eu sei que os pensamentos suicidas vem carregados desse sentimento de "Porra, quanto que eu quero que sinto minha falta... se eu me matar eles vão ver o quanto eu estava sofrendo por causa deles... a culpa é dos meus pais, daquele menino lá que não me quer, daquelas meninas que não me aceitam..."; enfim, um monte de pensamento merda, mesquinho, que te fazem não só uma pessoa doente e amarga. Te fazem diminuta. Não existe nenhum traço de bondade em você quando você pensa desse jeito. Nada te faz uma pessoa melhor. E é basicamente isso que te faz perder toda e qualquer esperança em você mesma.


É péssimo o quanto que isso é um ciclo viciante. Não "círculo vicioso". Ciclo viciante mesmo. É como se o sofrimento fosse uma droga, uma das pesadas. Você não quer sair disso. Quer ficar no lugar quentinho que é essa bosta, quer ficar porque culpar os outros é mais fácil, quer ficar porque sofrer não só faz os outros ficarem com peninha de você, você sente pena de si mesma e gosta disso.
A Hannah me fez encarar que além de extremamente egoísta, além de eu me por no lugar daquele ser desprezível e desprezado que é Hannah Baker, eu vi uma amiga que eu não queria pensar mal. Porque ela já está morta. Não posso pensar nela nem como mártir nem com pena, mas muito menos como se ela fosse esse ser humano, com esses defeitos específicos...
Não quero pensar que ela era igual a mim antes.
Não quero lembrar dela como se ela fosse desse jeito.
Mas agora eu penso, e isso me causa mais dor ainda.

Caso 3: Rachel
Vi o filme, gostei muito. Mas quando eu comecei a ler o livro quase um mês atrás, comecei a me sentir muito ruim com o que eu encontrei de mim na narrativa;
O ruim de estar lendo o livro ao invés de ver um filme de narrativa rasa é que dá pra ver todos os nuances dos defeitos do personagem e eu caí como uma luva na pele da Garota no Trem.
Lembra que eu falei dos relacionamentos abusivos?, pronto, eu não sei realmente se eu vivi um. Não sei mesmo, porque eu era uma Rachel.
Eu amo o sofrimento, ou amava... indefinido.
E estar num relacionamento que tenha todos os níveis de pé na merda era um sonho. Adulta, eu vejo o quanto que o meu senso de romantismo estava errado quando eu era mais nova, como ele foi formado assim, mas não deixa de ser uma realidade.
E o fato é, eu sou uma Rachel. Ainda sinto falta dos relacionamentos errados, complicados e que eu entreguei não só meu coração mas minha saúde mental, minha mente inteira, por completo. Eu não era só "da outra pessoa", eu era do relacionamento abusivo. Eu era atraída por essa agonia.
Quando você termina o livro você não está só na mente da Rachel, está na mente da Anna e da Megan.
Não sou só a Rachel, que quando acaba o relacionamento liga, rasteja, bebe e depois liga e rasteja de novo.
Eu sou a Anna, que gosta da ideia de que alguém abandone toda uma vida por mim, eu sou uma Megan, que tem traumas que precisam de cuidados, mas que prefere cuidar disso se enrocando com todo cara errado que encontra.
Todas elas presas no mesmo abuso em forma de homem. E todas elas com seus defeitos, mas o único do qual eu me incluo no grupo é de amar o perigo envolvente desses caras como o Tom Watson ou Scott Hipwell, porque não basta para as mulheres desse nível de demência dormir com um assassino, o segundo também precisa ser potencialmente um.

O que as  histórias tem em comum? Homens horríveis, e mulheres que voluntariamente se apaixonam e/ou se deixam levar por esse vicio no sofrimento; e são todas as histórias acima, não só os do livro. Eu o li faz umas duas semanas, e ele ainda está me fazendo pensar e ficar mal.

As outras coisas que vi: Hiroshima Meu Amor (também com relacionamento questionável entre Lui e Elle), Fragmentado (que deixa gosto ruim na boca, o danado do plot twist), Dois caras legais (que deixa o final mais desesperançoso que já vi num filme, até bom, de comédia)... o único que deu um alívio foi o Sing. Nem Minha mãe é uma peça 2 me salvou, porque eu quis chorar horrores, porque eu tenho uma mãe que é uma peça... daquelas que você sai no meio do espetáculo;

Bônus:
Caso 4: Qhuinn
Um dos meus personagens favoritos, da minha série favoritas (Black Dagger Brotherhood series), acaba de ser o maior babaca da face da terra.
Ele apontou uma arma não só pro namorado dele, quanto pra mãe dos filhos dele, com eles nos braços dela, dois bebês de meses. E atirou.

Eu estou profundamente machucada com essa cena, e somando com os outros gatilhos, parece quase como um 13º motivo; eu sei que a Ward não faz querendo essas porcarias e tacar merda na sua cara, mas ela faz e doi muito. É um elemento narrativo que eu nunca poderia prever que ela usaria. Eu imaginei cada cena de como poderia ser o confronto das mentiras da Layla e mesmo acertado em muitas, essa do Qhuinn ser são misógino não passou pela minha cabeça; Não estou nem no meio do livro que promete mais drama até um final feliz para sempre, mas pqp. Acho que vou dar uma descansada na minha mente antes de voltar a ler.

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