Ser egoísta ou tentar não ser?

"O egoísmo não peca tanto por ações como por não-compreensão".
Eu escutei coisas a minha vida inteira que às vezes as palavras parecem marteladas na minha cabeça;
Uma é que eu sou demente.
Acho que é o pior dos insultos até hoje. Se alguém me disser isso, mesmo que não me conheça bem, mesmo que seja brincadeira, vai ganhar uma briga de brinde do dia.
A coisa toda começa com a minha família, aparentemente eu sonho com uma família grande e confusa e barulhenta, como a que eu tenho, mas só que eu quero sem a parte de ficar julgando uns aos outros o tempo todo. Eu, neste caso, sempre fui julgada por não me mostrar interesse pela vida alheia, ou não querer sair do quarto para atividades de "gente normal". Eu cresci como a maioria das crianças pós-Harry Potter. Eu gosto mais de histórias ficcionais do que de histórias reais. Eu gosto de poder apagar as coisas ruins, eu prefiro manipular as tragédias. Hoje eu não me considero mais tão anormal assim, mas quando eu era criança e não conhecia muitas pessoas, eu me achava muito diferente de todo mundo. Principalmente depois de ouvir algo do tipo "você é demente[...], pára de ler[...], sai do quarto[...], você está escutando?". Eu escutei. Eu escuto. Eu só não ouço, porque eu não quero saber. Eu não estou interessada. Mas juro, eu posso me lembrar de cada palavra se eu parar para pensar um momento. Mas eu não queria, então eu ficava em silêncio, era inútil discutir.
Bem, isso era quando eu era criança.
Quando eu passei a ser uma adolescente chata, rebelde e passei a não ser mais tão calada, descobriram outra palavra para tentar me sentir culpada: egoísta.
Mais velha eu já tinha melhor domínio de palavras mas não de interpretação. Quer dizer, se eu fosse um pouco mais focada no que é em si, ser egoísta, e não tão focada em sentir como essa palavra saia da boca das pessoas, eu talvez não tivesse sido tão castrativa comigo mesma. Egoísmo era para mim um modo de ser uma pessoa má, muito mais pelo modo como as pessoas me falavam que eu era desse jeito, muito menos pelo que eu entendia das situações onde eram usadas. Porque eu deveria deixar de ser algo que protege? Já que eu não poderia deixar de ser, então eu aceitei que eu era uma pessoa má. Depois de um tempo dá até pra entender a minha fixação por pela Rainha Má da Branca de Neve e pela Rainha de Copas numa época entre os 12 e os 17 anos. Foi a minha versão mais difícil, o software foi inutilizado entre os anos de 2012 e 2013, quando a versão melhorada foi desenvolvida, logo após os protestos e várias autoavaliações. Note que não houve postagens durante o ano de 2013. Foi um ano complicado para remodelar o modelo. Mas então, o novo fracasso. Estamos a 3 anos tentando desesperadamente tirar o vírus chamado egoísmo do sistema, mas ele se camufla e passa disfarçado por vários firewalls, a questão é que eu achei que eu pudesse apagar isso da minha vida. Não ser mais uma pessoa tão ruim, porque eu queria mais tão centrada no meu próprio mundo. Eu me interessei por causas, eu tentei ser uma boa filha e uma boa mãe, eu fiz o que eu entendia como sendo uma coisa boa, me interessei em conhecer as pessoas, eu me empenhei em ser mais como todo mundo, ser mais ativa, participar, eu esperava que fosse uma fase da adolescência. Eu queria ser uma pessoa melhor.

Eu percebi que o sistema que eu criei para ser uma pessoa melhor passava diretamente pelo fato de eu ser ciumenta. Eu tentei, respirei, fiz meditação, yoga, corri, corri desse tipo de sentimento, mas não conseguia. Eu queria que as pessoas ao meu redor fossem felizes mas eu não aceitava o fato delas não poderem ser felizes comigo. De que eu não era suficiente, que eu precisava deixar elas irem, abrir mão pela felicidade delas. Eu estava sendo cruel comigo mesma, porque eu sabia que nunca conseguiria cortar um traço da minha personalidade. E sendo cruel comigo, eu ficava ainda mais cruel com os outros.
Às vezes eu pensava, tudo bem ser egoísta se você não machuca outras pessoas. Se todos fossem egoístas sem tentar passar por cima de ninguém, a quem iria fazer mal? É só um mecanismo de defesa, não é? Mas você nunca vai conseguir manter todos a salvo de você mesmo, sempre tem o risco de alguém se machucar.

Depois eu percebi. O problema não é ser egoísta ou não. O problema é mentir pra você e para os outros. Não dá pra ser altruísta esperando que os outros sejam também. Não dá pra não se ressentir de alguém se você está fingindo sentimentos bons só pra que o outro esteja bem. Isso vai te envenenando aos poucos.
"Como um anjo caído fiz questão de esquecer que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira."

Então, sim, vamos ao segundo aprendizado de 2016.
Seja simples. Fale a verdade, e as pessoas ao seu redor vão escolher se te aceitam ou não. "Tudo bem, eu sou egoísta mesmo, eu não tenho como mudar e também não preciso mudar." É preciso aceitar. O meu sentimento e os dos outros.
 O que dá para aprender a controlar são as minhas ações. E ações ruins serão sempre ruins. Não importa de que ângulo você tente ver, falar algo cruel a alguém mesmo que seja a sua verdade é um ato egoísta desnecessário. Sinta o egoísmo, respeite-o, analise e aprenda com ele, porquê ele vai estar lá sempre. Mas fazer aquela tal coisa que você tem vontade, mas sabe que provavelmente vai estragar o dia/vida de outra pessoa não é legal, em nenhum caso, mesmo que faça você se sentir bem por algum tempo. Tenha certeza que isso vai voltar para você de alguma forma, mesmo que seja só pelo arrependimento. E conhecendo você mesma como conhece, sabe que isso vai somando até se tornar uma bola de neve de sentimentos ruins.
 Fazer coisas pelos outros, mesmo que seja pra se sentir melhor consigo mesmo não tira a energia positiva que isso gera, então faça.
E não faça nada que você esteja se forçando a fazer só pelos outros. A ideia é que todos fiquem bem, inclusive você.

Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução
Pra que esse nosso egoísmo não destrua nossos corações.

Comentários

Postagens mais visitadas

Facebook